a vida não tem ética alguma. rege-se por um conjunto de circunstâncias que se juntam por acaso, sem qualquer razão e que ditam um destino. a ética vem socorrer-nos com a sua clarividência contra esta lei cega. cria-nos a ilusão que há uma ordem para as coisas ou uma justiça, mas de facto não há, no caso da morte a Ética é completamente impotente. morrer com a consciência leve ou pesada é sempre morrer. e morrer quando se está no meio da tarefa de viver, quando se quer viver, quando se quer fazer muito, completar. não faz sentido. é uma revolta. Acreditar num Deus misericordioso pode impedir a revolta, mas é uma dura prova para quem é dotado de sangue e pensamento. é uma prova que está para além de toda a compreensão. se há um Deus cuja vontade comanda a vida e a morte, porque havemos de lhe dar o amor que ele nos tirou? na vida vamos morrendo e renascendo e esse movimento não depende da nossa vontade, forças cegas, animais, mas também a força com que acreditamos na beleza das coisas, na sua justiça, na sua ordem, acreditamos que há um equilíbrio e que ele vai nascer do caos. será essa força a crença numa transcendência? talvez. mas não necessariamente, é a força dos valores em que acreditamos. mas depois há isto. este vazio. como que uma interrupção incompreensível onde todo o pensamento se aniquila.
6 comentários:
Fabuloso texto.Senti, sinto, na minha vida cada sílaba...
Bjs
Excelente reflexão.
Valores em que acreditamos, ou que nos foram impostos?
Este vazio, que quase nos obriga a acreditar em algo Supremo, para que não "endoidemos".
Bjs
Boa altura para reler o "Guardador de Rebanhos".
Bj
a vida...
a ética...
o vazio...
a ordem... é necessario a clarividencia ....
abrazo serrano y europeo
Apple: agradeço-te, penso que há certos acontecimentos comuns mas tão inexplicáveis e absurdos que nos fazem rever tudo. bjo
AnaMar (pseudónimo)não sei se importa saber se nos são impostos ou não se neles acreditamos,utilizo aqui o argumento de Pascal: se nos servem para viver melhor, porque não, mesmo que possam ser discutíveis, não poderemos saber a verdade, mas podemos saber que nos são úteis, isso basta.bjo
g. Olha, minha ignorância, não li, nem sei do que se trata, mas podes sempre dar-me coordenadas. bjo
mixtu: embora de nada adiante, a clarividência, não a podemos abandonar.
abraço marítimo
Sou Afranio do Amaral, e morro e renasço para seguir fugindo de mim.
Cumprimentos.
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