quarta-feira, 30 de setembro de 2009

na piscina


depilei-me cuidadosamente para esta rentrée na piscina, não que desgoste de pêlos, pelo contrário, os outros, mais concretamente a minha mãe, as mulheres e certos metrossexuais assexuados é que não gostam, parece mal, dizem, para não lhes parecer mal fiz-lhes a vontade pois nã me apetece ser tomada como "gaija" das cavernas ou badalhoca ou mulher barbada, sei lá...ele há imaginação pra tudo! mas o evento pedia esmero e decoro, era um sítio novinho em folha, uma inauguração pré-eleitoral aqui do munícipe de Cascais. Este sítio ganhou piscina e o povo ficou contente porque era à borla e porque está um calor do caraças! foi-se a ela aos magotes sôfrego de fresquidão e exercício pra banha, fomos todos, nunca bebi tanta água na minha longa vida de piscineira, confesso, não havia espaço suficiente, levei com o rabo de um tipo quando me preparava para a clássica e categórica respiração crall, fiquei mais crash que crall e mal vim à tona com o muco a saltar-me pelas orelhas pregam-me com um pontapé na nuca.arfei... contrariada, afastei as bóias com o Pato Donald e os colchões da Nívea e vim tomar duche que por este andar já tenho uma cultura de nódoas negras suficiente para receber um telefonema anónimo a aconselhar-me a denunciar o marido que me dá maus tratos, eu que nem o tenho...

domingo, 27 de setembro de 2009

botos: 40% de "abstentos"

Os "abstentos" são a maior força política do país. Caso para uma entrevista exclusiva
e uma profunda reflexão:


Porque não vão votar os portugueses?

1.porque não têm vontade, têm mais vontade de ir passear.

2. porque acham que os dirigentes dos partidos só se interessam em manter os "tachos".

3. porque o discurso do Sócrates é vago e vazio , o da Manuela nada de jeito, e o Portas até tem alguma graça mas não temos memória curta, sabemos que é um ego com sapatos de berloque, o Jerónimo é anacrónico, o PC idem, o Louçã é fraco em questões de facto e os outros são só 7.500 assinaturas na pausa da bica.

4. porque seja como for, votando ou não as moscas e a ....são as mesmas.

5. porque não queremos isto assim, queremos mais não sei bem o quê, ir às malvas...

6. porque o centro comercial e o futebol são bem mais "cool"


Esta nação que faz 100 anos de República já não liga à democracia nem à política, não liga porque não está para isso, porque não pensa nisso, porque não se preocupa com isso. é cada um e o resto. A indiferença mantém tudo igualzinho, nã muda nada, é só enjoativa!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

tentação


penso cada vez mais. não que resolva com isso os enigmas, tão pouco muda o que sinto, só me dá mais precaução. pensar é equacionar possibilidades e deitar algumas pro lixo, porque concluímos que não passam de impossíveis e estou cansada de impossíveis, aproximam-se com a sua beleza, o seu desafio. o absoluto e deitam-nos logo ao chão, subimos ágeis para o baloiço e rejubilamos de coração pequeno e grande , alma tão ao largo da bolina que se vê lá longe a rápida vela branca a espanejar, just me, a eleita do conto em estado puro vogando. daria o mar, todo o que vi, e a história do meu assombro por um liso e atento olhar assim. mas penso. vêm as sirenes, amarro-me ao mastro e conto os minutos, os dias e os anos, não ouvirei o teu canto.ponto. contrição. não que a admire, à contrição, mas pode ser, maybe maybe que outro canto possa nascer desse luminoso canto. será triste, pois sim, que seja.

domingo, 20 de setembro de 2009

Ghosted

Ghosted de MoniKa Treut, Hamburgo, Taiwan. 2009
No festival Queer, S. Jorge
.
Trata-se de uma história de amor entre duas mulheres, uma alemã de Hamburgo e outra de Taiwan, um país aparentemente ocidentalizado mas onde as tradições orientais permanecem, nomeadamente nos rituais de morte e no modo como vivem a perda. Dois traços parecem separar estas culturas: O individualismo e autonomia de Sophie, alemã, choca com o espírito familiar e de pertença de Ai Ling. Ao morrer inesperadamente Ai Ling adensa a solidão e a incompreensão de Sophie que não encontra forma de restabelecer um equilíbrio e continuar a viver. O facto de ser tocada por um espírito, um fantasma, é uma forma metafórica de descrever o que se passa psicologicamente com a personagem mas é também um convite a seguir um outro percurso, o que leva à libertação da culpa. Dialogar com os fantasmas e despedir-se num ritual de oferendas e de comunhão parece ser mais libertador que viver eternamente com a culpa. É disso que trata o filme e bem.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

às três da tarde ouvindo falar sobre Kant


são três horas e está calor dentro do anfiteatro, as portas em linha com a secretária e o ecrã onde se sentam os conferencistas abrem e fecham num vaivém de gente a sair e a entrar. Pausadamente o orador brasileiro cita Kant para provar que, contrariamente ao esperado e amplamente divulgado, a teoria do direito não defende sempre a proporção entre a sanção e o crime. é comum pensar-se Kant como defensor da pena de morte e é correcto visto que considera a indulgência uma forma de confusão entre o domínio público e o privado. A lei pública deve respeitar o princípio de Talião:para o assassino que mata a pena deve ser a morte. Havia, todavia um reparo a fazer, se a Constituição que dita os princípios da legalidade social não for de modo a permitir a liberdade então a punição não pode ter legitimidade. Só se pode castigar aquele que livremente violou a lei, quando a lei é conforme à igualdade e liberdade de cada um enquanto pessoa, se não o fizer, então a punição não restaura o equilíbrio social mas, por não ser a ele conforme, dá direito à revolta e à desobediência. As portas não cessam de abrir e fechar. No anfiteatro oscilam as presenças, há quem entre, sente-se 5m e volte a sair. Estão cerca de dez pessoas numa sala com capacidade para cem. Dirão depois que a culpa é do governo que devia ter instalado um barzito na sala, para as necessidades gastronómicas dos ouvintes. Kant com a mania do progresso e do Iluminismo não percebe nada de bárbaros porque não vem mal nenhum ao mundo substituir a liberdade e o respeito pela alarvisse e pela ignorância.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Fim do verão, já se pressente nas marés, nas noites frescas e sobretudo no voltar às aulas. Aquela soma de papelada que se acomoda rápida em cima da secretária, os procedimentos para a eficácia do sistema, a comunicação empresarial em que se tornou a conversa escola, nada de novo, um ano a seguir a outro, a expectativa e a angústia, o arrepio fino crescendo na base das costas, alargando-se aos ombros, tornando-os hirtos. Conheço-a bem a angústia, sei todas as suas metamorfoses, os seus fingimentos, a sua chegada mentirosa, como quem não quer a coisa quando vem de malas feitas para se instalar. Reparo que sou professora há demasiado tempo, e esse tempo parece ter crescido sem o meu consentimento, sem o consentimento da razão pela qual sou hoje professora, corro atrás delas, das razões, mas parecem enevoar-se, perder-se na densidade do nevoeiro da repetição, da falta de apoio, da perplexidade real de uma dinâmica que esfarelou a razão, atomizou-a em fragmentos e nenhum deles é suficiente para nos clarificar. Talvez fosse bom parar ou talvez seja apenas a estação com seus cachos tristes no fim do ciclo.não sei. talvez fosse bom parar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

semenya antes e depois dos testes




ANTES e DEPOIS
YEEEE!
Já estão satisfeitos?...
Posso ir tomar banho e vestir uma coisa decente??

domingo, 6 de setembro de 2009

notas de viagem

A azáfama de uma cidade e a Lua, a linha encostada de mar, as vozearias, as correrias, ocupam os espaços vazios do pensamento no intervalo das emoções. Aquela absorção de cada um na vida de si próprio. Absorção de cada um na vida de si próprio, assim vejo a vida da cidade.Passar nas ruas e olhar à vez as montras, as pernas e as unhas escondidas no pó dos dedos inchados dos pés. As coisas atrás e à frente e os meus pés. Volto à cidade agora que não posso lá voltar e compreendo que no pensamento voltam as emoções identificadas, delineadas, correctamente ordenadas pelas suas causas. o rasto das pessoas prende-se-me nos dedos e lembro uma velha frase "gosto mais de ti quando te ausentas". Hoje o pensamento refugia-se, ampara-se nessa ausência. Talvez seja frouxo, é seguramente vibrante.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ISTAMBUL




Istambul, a cidade entre as margens, uma observando a outra, subindo e descendo entre braços de mar e rio, crescendo meia sonâmbula ao som dos cânticos projectados nos altifalantes dos minaretes, são essas vozes que juntam as margens e unem o povo. O significado religioso tem aqui uma muito bela ressonância, religare, unir o distante e o diferente num mesmo gesto, ajoelhar e orar. A maciez dos tapetes acolhe os nossos pés cansados e sentimo-nos seguros, numa mesma família que fala uma linguagem antiga e comum apesar das sonoridades estranhas da língua. Techekur ederim levou algum tempo a aprender mas dizê-la provocava-lhes uma emoção surpreendente, baixavam a cabeça e tocavam com a mão direita no peito repetindo a palavra baixinho, como para dentro, numa breve e tocante cerimónia de agradecimento. Só para nos retribuir muito obrigada. Insallah! talvez um dia possa voltar com mais palavras, muito mais palavras!