domingo, 3 de janeiro de 2010

2010

fui a Cádiz sem saber nada, enevoada de espírito. pretendia desanuviar e nada melhor que rumar on sea direction. pois nem pensei muito, rumei. trovoadas e quedas de água puseram à prova os pneus e a atenção. as estradas mostravam-se solitárias, só os doidos se aventuram com este tempo! fazíamos contas de somar e dividir, ouvíamos músicas na rádio do carro, sonhávamos com o Sol às portas do Mediterrâneo, umas quantas abertas que não existiram. certo é que Cádiz surpreendeu entre nuvens e ondas, catedrais e ruelas, antigo e cruel, daquela crueldade das coisas paradas que já tudo viram da crueldade dos homens. não quis saber do manual de história, ia de nariz no ar, de sensação em sensação e não são as palavras aqui, os olhos mais, os ângulos, as cores, os vestígios e talvez a imaginação. Com aquele mar como pudemos partir em tão frágeis caravelas? que bicho nos mordia os calcanhares? o mesmo me levou a Cádiz, (não me julguem os heróis, antes os homens e as mulheres vulgares em tempos de cólera mansa) o mesmo. o bicho da inquietação, da insatisfação e da coragem de vencer os medos. só quem vive perto do mar o sabe, ele habita na espuma daquelas ondas.

5 comentários:

maria joão carrilho disse...

Que nunca percas a inquietação. Há mil modos de viajar,mas os quietos não vivem nem escrevem como tu.

Unknown disse...

Estive em Cádiz num Maio de há 5 anos atrás.
Apanhei muito vento.
Nem sempre foi possível aproveitar a praia.
Gostei da cidade, daquela longa avenida até ao casco e do regresso por uma certa ideia de marginal.

Suadações.

via disse...

Joana Padrel: Olá! Há sim, muitos modos de viajar mas o melhor de todos é sentir (já o Pessoa o tinha dito) bjo

JPD: Da praia mal vi a figura engolida pelas ondas, do vento confirmo e, pelos vistos, não depende da estação do ano, quanto à avenida corta a língua de terra de um lado ao outro, engraçado falares de cascos, não me admirava que por ali houvesse raça híbrida, meio pessoa meio peixe habitando um qualquer nicho.
saudações

Ana Paula Sena disse...

A coragem da viagem :)

Há lá coisa melhor do que seguir passos inquietos?!

Também gostava de conhecer Cádiz, mas fico com a tua bela descrição.

Rui disse...

Guardo ainda nas costas a memória de como um certo chão de Cádiz é duro para se lá dormir. Acampar no centro das cidades tem um preço que a juventude não se importa de pagar - o problema parecem ser os juros de mora.