sábado, 29 de outubro de 2011

PRAXE PRAGA

Fui ao Doclisboa com uma turma. Vimos três documentários: Flying Anne, The last day of summer e Praxis. Este último era um documentário sobre as praxes dos caloiros universitários. Portugal: 2011. Não precisava de ver no ecrã de um cinema o que a minha sobrinha já tinha relatado em primeira mão: em Farmácia andaram presos por cordas uns aos outros, ajoelharam perante o padrinho e tinham farinha e vinagre em todos os orifícios do corpo. ela ria-se contente...gostei muito do meu padrinho. Deixa, eu percebo, mundo novo, queres ser aceite, na desportiva. Mas assalta-me a perplexidade: Se é de integração que se trata porquê assim? Porquê pela humilhação? Chafurdar na lama, ajoelhar com orelhas de burro, simular ser violada, comer alho de olhos vendados e mãos atadas, chamar-se a si próprio nomes horríveis enquanto se obedece às ordens avacalhadas de um "superior" de capa e batina negra, cheia de símbolos. Se este modelo não é fascizante, então não sei o que é fascista. Este é um fascismo consentido, o fascismo possível. Seja qual for, é nojento. Era tempo de se recusarem todos a estas palhaçadas.

domingo, 23 de outubro de 2011

serviço ao domicílio

Já tinha comprado de manhã este pedaço de bolo mármore depenicado na sua caixa de papel engordurada, não lhe liguei,viajou comigo no banco detrás do carro, avantajou-se despercebido sobre a mesa de uma cozinha portuguesa, (para evitar sentimentalismos) e voltou aqui à secretária, para servir esta pequena demonstração mesmo agora descoberta: aquilo que nos traz à tona, inadvertidos, solta-se das fagulhas da memória. Dentro, fundo de nós, nascem oásis, fotografias doces, pedaços de bolo mármore ao canto dos lábios tornam à vida, na lembrança. A minha tia (que jaz num lar à espera da morte) fazia grandes bolos destes e, ao domingo, o pessoal pequeno não lhe deixava a janela. Em guardanapos de papel minúsculos ela passava-nos para as mãos, depois de mergulhar na penumbra da casa, grandes fatias que nós devorávamos com os olhos e com a boca, agachados à janela do rés-do-chão. Viajo também até Monte Clérigo onde, mais velhinha, naquelas madrugadas de verão nevoentas, interrompíamos o sono para esperar à porta do café da praia." Um café e uma fatia de bolo mármore" as ainda quentes fatias de bolo mármore. E se para nada servisse o amor, responderia aos mais cépticos, que ele, o amor, abre grandes clareiras de luz, certas amenidades, num domingo como este, onde ninguém o esperaria.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

particularidades

fala-se muito e obsessivamente sobre o mesmo, mas poderia eu dizer, a curva de um ombro, uma perna.

o efeito ralo, um sorvedouro por onde se esgota o pensamento, passa, mas poderíamos dizer o fresco da tarde, a lonjura vaga de uma manhã.

o mar aos dias ímpares estaria certo, mas diria as vagas uma ou outra salpicando, os mais belos e afortunados ancorarão a esperança no abraço, no riso, o pão da proximidade corajosa, um e outro ou mundo inteiro para conquistar, seria irrisório afirmar peremptoriamente: mundo inteiro e fugazes sequências lunares na verticalidade do caminho, quando nos inclinamos para beijar.




Quadro: Hermann Seeger

títulos deprimentes

Já aqui tive oportunidade de dizer que atribuo o meu ser conservador, com uma costela raquítica de reaccionário, à idade. envelhecer em nós envelhece o redor de nós. aplicamos a fórmula: seguritas, vice silenciosa. que a segurança é silenciosa e adormecemos confiantes. hoje, só hoje, (é incrível a pretensão que ter um blog pode dar...)vou abrir uma excepção e articular algumas palavras sobre o que penso deste problema:


Democracia e falência capitalista.


Vejamos três tópicos que cobrem o espectro opinativo imediato:

1.Estamos falidos.

Portugal não é uma empresa falida. É o Estado actual que está falido. mas a falência não é só nossa, os Estados capitalistas estão todos falidos. o capitalismo arrasou. não são os Estados políticos a governar. o capitalismo é que governa. o FMI, a Banca. etc




2. Passos Coelho com os óculos encavalitados e o ar de retoma (austera) faz lembrar Salazar.

FAZ LEMBRAR e ele próprio acha que sim...não sei bem quais as consequências mas não auguro boas porque Angola, Guiné e Moçambique não podem ser a escapatória, logo, não há por onde escapar à miséria.


3. A economia é estranha, anda tudo com ela na algibeira, a poupança e bla bla bla mas não há uma ideia política inovadora. era esta a altura de ousarmos. por exemplo: descobrir o equivalente ao caminho marítimo para a Índia que já descobrimos.


4. Os protestos nas ruas dão-nos a cor da nossa desconfiança mas também são manipulados vergonhosamente por partidos insatisfeitos e anacrónicos como PC e Bloco.Urge outra revolução para instaurar outra ordem, (acho que vou morrer sem ver). A nova ordem política deixa a cisão esquerda direita. Sempre achei que essa treta dos direitos assentava num facto essencial: O dinheiro. Há que depôr o capitalismo. Fazê-lo baixar a crista. Como vivemos todos segundo o capitalismo, fazê-lo baixar a crista é baixarmos nós a crista ao consumismo desenfreado.Os nossos hábitos de vida são o capitalismo. Vou pensar sobre isso.

Fotografia de Kertész

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

a quadratura do círculo

Comprometermo-nos com este pacote de medidas que nos cortam os subsídios e nos reduzem o poder de compra, comprometermo-nos com o Estado/governo eleito democraticamente? ou desobedecer, indignar-se, sair à rua contra esta entropia capitalista que nos quer asfixiar? A segunda hipótese parece-me mais poética e mais dinâmica, a primeira é mais sensata. A questão está na banca e na especulação bancária da qual os governos são reféns, o nosso especialmente. Mas nós, aqui, confortavelmente assentes na comedura bancária, cheios de hipotecas e fragilidades para manter o nosso status, não podemos ignorar que o Estado forte é a nossa garantia, daí que a escolha para mim é óbvia. A democracia parece-me um bem mais valioso, a democracia e a independência podem estar ameaçadas se não nos conseguirmos aguentar. É como ter a nossa casinha e dever montes de dinheiro, vamos fazer economias para pagar as contas ou vamos deixar de pagar tudo? E depois? A minha mãe sempre me ensinou, deves? pagas. Parece-me justo mas que custa, custa.

sábado, 8 de outubro de 2011

fase de negação

peço desculpa à meia dúzia de fiéis leitores deste blogue mas tenho a declarar uma heresia: contra a religião actual, eu não acredito no "deus gola alta da Apple" e, tenho também a declarar, que não contribuiu um milímetro para mudar a minha vida. Deve ter contribuído para a humanidade inteira ficar fascinada com o ilusionismo de criar necessidades em bagatelas. tablete a mais ou a menos mas se querem saber, os louros são para os cientistas que permitiram a computação, equacionaram as leis dos quantas, e, sim, esses permitiram o futuro. Admira-me que um milionário vendedor de produtos seja o grande visionário do século. uma espécie de cristo- vendedor informático. a Apple factura bem com este herpes colectivo.

Deixo-vos com Ana Mendieta, uma rebeldia com duas pernas grossas,vasos sanguíneos, ervas e corpos em revolta. justamente.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

millennium 3

Sobre a trilogia "Millennium" temos Noomi Rapace no papel de Lisbeth Salander: "A raínha no Palácio das correntes de ar". O Filme, de produção sueca, não teve, neste terceiro episódio, os meios monetários do primeiro e, é pena, porque esta saga vai muito bem com suecos e aquela língua bergmaniana cheia de cruzes. Talvez o espectro da versão Americana - canastrão Bond em efeitos especiais à velocidade da luminária que é, embora finja que não...ele há destas coisas...os tenha feito despachar mal alinhavado este filme, urgia antecipar-se. O primeiro episódio era soberbo,. O grande feito deste era o final. Salander alone no rochedo de Gibraltar. (leia-se no livro)" Lisbeth tinha verdadeira intenção de não ficar em Gibraltar mais de duas semanas, até dar uma nova orientação à sua vida. Ficou doze." e o encontro " Já não a magoava vê-lo. Abriu a porta..." ELIPSE, Gibraltar is missing, o encontro final é transviado, senti-me ultrajada, mas à Noomi ergo a taça, esta Lisbeth é um golpe de águia cortante e inspirador.

domingo, 2 de outubro de 2011

tou com saudade



essencial, visceral,o sindroma, parece-me mesmo sob o prisma conceptual mais erróneo, que está certo, ou melhor, trouxe a Bethânia e disse: canta! e ela cantou, cantou só para mim, ao meu ouvido.