terça-feira, 26 de março de 2013


Um dia sem saber

I


Um dia sem saber ela encostou um pé à parede da casa e sentiu a espessura da cal.

Cuidado!

Mas não se mexeu também. Paralisada.

E a espessura da cal era tão grossa.

E tão grossa e espessa a noite

Que lhe fugiu a voz na garganta

E por socorro ou falta dele estremeceu.

Quedou-se então no silêncio agudo

E não abriu mais a boca senão para bocejar ou comer

Durante todo o silêncio

Cada segundo

Ela o sentiu como silêncio

Como negação

Todo o silêncio é negação

Todo o silêncio é negação

Mas não foi  feliz nessa atitude

Tão pouco o poderia ser

Não morreu de velha nem de nova

Pois o tempo espesso como a cal da parede

Comeu-lhe a língua

o juízo

E o baço

o estômago ficou

Deixou-a feroz

Em poder dos elementos que de todo o lado a feriam sem que ela lhes desse qualquer luta

 Capricórnio perseverante comandou a sina da sua ama negra.



Existiu essa mulher mas ninguém soube.

Quando tudo morreu ficou ainda a cal enegrecida

Restou a aparência de rua

O sol sem signo volteou no ar

Não houve milagre algum

Nem sino

E, no entanto o tempo daquela mulher era realmente verdadeiro

Realmente o tempo.

2 comentários:

Helena disse...

!!!!!!

via disse...

não percebeste, eu também não deixa estar. fala de uma mulher que se indignou e ficou muda. e que vivia dentro do tempo, minutos, segundos, no silêncio o tempo tem mesmo a dimensão da passagem, minutos segundos. etc etc etc.