a maior parte das vezes somos só nós, uns
quantos amigos, umas quantas canções, poeira e frio. fomos fustigados por
ideais mas o verdadeiro caldo, morno caldo, assentou na mesa os cotovelos e
desejou por incapacidade de luta ou porque nada do que a memória retinha de
aconchegante se dizia por slogans ou sólidas frases, desejou um grande amor,
uma paixão, que arrebatasse tudo. traduzia-se esse desejo numa imensa saudade
de um copo de vinho na intimidade de uma conversa sussurrada. a política era o
que restava do eco dela, na cama, ou no pretexto para dar uns abraços e colar
uns cartazes entre noitadas. Acho que sabemos o que é o prazer, na palavra
curta ainda não o sabíamos à época, acoplávamos à palavra outras, cheias de
promessas, deixávamos que se mascarasse, não por querer mas por ignorância, de
qualquer modo o prazer tem várias caras e vários são os seus processos de
aparecer. mas assim como vemos a qualidade da bica na réstia de espuma da
chávena, assim também podemos agora abarcar o que restou deste desejo. não é
pouco, é outra coisa, traz a marca de uma liberdade, uma ventania, um
alvoraçado ninho.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
maio
esqueço-me
que estamos em Maio, e eu adoro Maio, esqueço-me do que gosto de adorar sem
razão nenhuma, mas tenho muitas razões para me esquecer, nenhuma por si
importante mas todas juntas obra apreciável.papéis e putos. putos e papéis.é
certo que tenho as noites e as luas incandescentes, essas coisas sem dono facilmente as faço minhas. é do meu feitio.as
outras, algumas têm muitos donos, outras maus donos e muitas são de não terem
dono, nem o quererem aceitar, pensam, mas eu penso diferente, têm pouco espaço,
são muito apertadinhas nos seus objectos desejáveis e como não faço parte deles
não posso tomar nada, bebo umas bejecas e leio livros, muitos livros que não
são papéis e estão seguros por fios de ouro ao coração largo do desejo. às
vezes passeio no mar, mas maio não me viu passar, acordei tarde talvez já o mar
tinha deitado a língua de fora. mesmo assim avistei gaivotas de arribação sobre
os muros de pedra da escola e abri o jornal em cima da mesa do café para o
voltar a fechar invadida pelo desconforto de não poder negar que essas vidas
sem dono algumas de perdidas também são minhas e os dias solitários partem
sobre as casas, os tordos e o vento para voltarem de novo, a verdade é que
apesar do esforço, apesar de querer, a esses não os consigo apanhar.
quarta-feira, 15 de maio de 2013
olhar
os olhos por exemplo.
a pupila, a íris
a procura de qualquer coisa, uma emoção, um segredo, uma intenção
terça-feira, 7 de maio de 2013
aqui movimento das forças armadas
andamos de nuvens carregadas, com palavrões debaixo da língua, a lógica e a justiça, à vez, tratam de nos fugir à frente ou deixam-se ficar para trás. o inevitável não deriva nem de uma nem de outra mas de uma série de circunstâncias beras. envelhecemos aqui, no canto do mundo. eflúvios de maresia e catástrofes mansas, das que não pressentimos, e ninguém, ninguém mesmo, parece estar à altura da situação. os velhos e bolorentos discursos, as mesmas poses, o silêncio da vida de cada um armadilhada. Parece que tudo, amigos e amantes descobrem a sua face negra. falta-nos uma voz, falta-nos o ar para o pontapé ou o abraço, cerceamos desejos, damos voltas e voltas à chave. Aqui, Portugal, movimento das Forças Armadas...aqui vamos começar ou acabar.
foto de André Kertész
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Benfica!!
O Benfica é uma equipa portuguesa que, segundo muitos, é uma bandeira do país, embora -curiosamente- não jogue com artistas portugueses. O facto não deixa de me fazer confusão, está bem que bebo chá como os ingleses e o Chelsea também tem o David Luís e outros mas o chá não é Inglês, contas a fazer sobre o que é de quem e se temos mesmo direito à posse daquilo que criamos e é nosso, seria melhor saber a quem corresponde esse nosso, aos que vivem cá? aos DESCENDENTES DE Afonso Henriques? aos falantes da língua? O QUE É SER PORTUGUÊS? mas o Benfica, será ainda um clube português? Harvard será uma universidade americana apesar de ter mais alunos "estranjeiros" que americanos? Sim claro, claro. É o governo da instituição e a sede que interessam (interessam?) para a identidade. A verdade é que a nacionalidade já não conta como identidade, a não ser para os imigrantes famintos que querem aportar à Meca Europa; os clientes de uma empresa são de todas as origens, assim como os empresários, administradores etc. The big market. A globalização só tem um critério: o gito, o money, o pilim. O dinheiro permite escolher, o melhor, o dinheiro é mais do que nunca o passaporte para o sucesso ou para a excelência e, não precisa de vistos. O mercado de compra e venda tornaram o Benfica uma empresa internacional como outros clubes, capaz de gerar riqueza, assim como Harvard, gerará riqueza e prestígio, uma empresa, um mercado. Causa-me náuseas o discurso acerca dos valores humanos e direitos e assim...segundo esta lógica esse discurso é um sapo a ser engolido por uma cobra. Seja como for, cá em casa, desde que me puseram xuxa, berraram comigo BENFICA!!
Assinar:
Postagens (Atom)