terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BORDERLINE


Lee Miller

acho que vou escrever. aporética escrita em balanço tribal. vou pôr no caldeirão uma pitada de saudade e outra de humanidade, algum ressentimento, não tenho medo das palavras feias, nem das outras, corriqueiras, como, fiz bacalhau cozido e vagueei pela casa poeirenta à procura do último pai natal de chocolate. serventia de astros os meus tornozelos de condessa com papelotes de urso das cavernas. arrumei a gabardine e pus no prego alguma da emoção esvoaçante dos últimos dias. Dezembro era, por esta altura, um mês dado ao edredon e à falange das filosofias perfiladas num estendal de papeis, les raisonements em pedaços, os meus pés eriçados de frio no chão áspero da cozinha testemunhavam a aflição. malditos "raisonements", antes Paris, à la Bastilhe!! renunciei em definitivo aos copos de leite e ao acre das bebidas fortes, assoei-me ao papel de embrulho enquanto a caneta escorregava pelo sono como uma lança escorrega do cinto lasso. 
chamo-te a mim nestas ocasiões e em todas as outras em que o fim era um começo branco e a tua boca adormecia na minha para juntas calarmos a fé do corpo e a majestade dos ossos. atrevia-me a ver-nos regar as flores de uma varanda dada ao mar e às ociosidades cinéfilas, onde o sol, as gaivotas e as meias de lã bordavam a sequência dos dias.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Nataleeeee


Sabine Weiss


Sinceramente, irrita-me o capitalismo, o conceito e a prática, suspeito que esta irritação, muito à flor da pele, não possa ser transformada em força libertadora, não penso iniciar qualquer novo sistema, nem juntar-me a essas poeirentas aldeias onde se vive em comunidade e na paz sem desperdício, a ideia de viver comunitariamente não me agrada nada, não me apetece aquele "nós" dos projectos colectivos. Tenho a certeza que não estou só nesta irritação, muitos dos ocupados na consumação sacrificial dos centros comerciais, rejubilam de ódio contra o capitalismo, parece o eterno odiado pai, amado e odiado mas imprescindível. A ser  modelo deixa-nos abandonados às nossas congeminações, não nos pune por isso, também não nos faz sentir melhores. Enfim, estava pensando nos malefícios tóxicos deste Natal mas agora lembrei-me da história, a história enfraquecida pela repetição:  é preciso encontrar nos nossos corações o amor, ou fingir que o encontramos. Descobri então o meu coração no lugar certo, sei onde está, basta-me. Desejo.o a todos, mantenham o coração em algum lugar fora do peito.

Bom Natal!!!