terça-feira, 30 de junho de 2015

submissões


Hannah Arendt e a sua obra conseguiram um protagonismo evidente no século XX, maior que o seu contemporâneo Heidegger, no entanto é um fenómeno recente. Nos anos 80 ninguém falava dela nos corredores largos da Faculdade de Letras, e o seu mestre  era seguido por um grupo considerável de alunos investidos da sua linguagem "poética". O que se terá passado em 30 anos? O que mudou? Na minha opinião mudou a forma de encarar a Filosofia, a complexidade hermética e a simplicidade acessível das obras de ambos faz a diferença; o declínio sobejamente conhecido de Heidegger enquanto colaborador e admirador nazi podem ter com o tempo pesado na sua leitura, de facto o retrato que dele faço é absolutamente repelente,como pessoa e carácter era de um egotismo  e de uma megalomania insuportáveis. A verdade é que a sua discípula, sua fiel admiradora e, julgo, sua amante, nos primeiros tempos física e depois intelectual, mesmo reconhecendo as suas falhas de carácter atenuadas como erros, nunca deixou de ser espectadora fiel desse mesmo egotismo exacerbado. Ela cuja obra suplanta hoje a do mestre em actualidade e em poder explicativo,nunca deixou de ser submissa, nessa aceitação sem restrições de um poder idealizado corporizado na figura do ex-amante  que não cessava por carta de se auto elogiar. Curioso o papel do amor.  Parece justificar plenamente  relações de poder, injustas, e torna até inadequadas as categorias morais. Todavia há um modelo de relação que uma vez instituído parece incapaz de mudar mesmo que as pessoas já não sejam as mesmas,  Curioso também compreender que a coragem intelectual de Arendt, a sua proclamada independência de espírito, não era uma qualidade constante mas tinha profundas e inexplicáveis excepções.

sábado, 20 de junho de 2015

se os vampiros falassem



Antes de existir o Vampiro estilizado com gel no cabelo e lindas intenções (tédio!!);antes dos Vampiros serem fantasias mal engendradas numa sociedade de consumo especialista  na proliferação de imagens estereotipadas (UF!!), antes da idade do degelo e das alterações climáticas, dos live aids, e do telemóvel, ( soa mal telemóvel!), antes mesmo de ser computador, e conjuntura electrónica, a minha iniciação literária começou com Vampiros de papel,  livros pequenos que se podem pegar com a palma da mão aberta, cores fortes na capa e histórias de crimes pensados por criminosos requintados, ou crimes requintados dados a   criminosos pensados. Eles foram a causa de me ter tornado comunista por um par de meses,  por gostar demais de ler aquelas histórias e não ter dinheiro para as comprar.  Hoje passado o tempo dos empréstimos, já proprietária assumida, acordam-me ou adormecem-me ao correr do fio dos suspeitos, os seus avanços e recuos, as pistas e os pormenores reveladores até à vitória final. O desenlace, saber quem é o criminoso é gozo menor quando comparado com o gozo de deixar o detective imaginário que somos colado nos calcanhares do outro que se mexe e toma a iniciativa, Bem sabe o porquê e o como, o quem é supérfluo, saber os sinais onde o conluio se espevita, a raposa põe o focinho de fora, nada ainda e por enquanto fazer sentido, para depois, suspiro, encaixar. Afinal...sim, sempre tinha sido ele o criminoso, suspirávamos,  fechávamos o livrinho depois de duas noites de serão,  e, no dia seguinte, esquecíamos. 
Amanhã sai nas bancas o segundo volume de uma reedição igualzinha à primeira.Abençoados!!

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Engrenages


Outra série de eleição, esta não é dinamarquesa como "Killing, crónica de um assassinato", é francesa, inventa-se em redor de três agentes da PJ, Laure, Gilou e Tintim, excelentes actores,trama onde os princípios mais nobres provocam danos colaterais tão graves como o banditismo. Os franceses, contrariamente aos dinamarqueses, são de expressar mais as emoções, têm um aspecto desarrumado, negligé é o termo apropriado, não falam tanto como os americanos em sexo, talvez por praticarem mais e serem menos puritanos,  têm fama de se dedicarem  a "baiser", é um facto e como tal não precisam de falar muito disso, preferem passar a câmara pelos monstruosos dormitórios de Paris, espécie de favelas em altura e betão onde as crianças se dedicam de alma e coração a assumir a marginalidade como forma de vida. Sou snob em relação à Europa,  creio na patine europeia, e os franceses são a creme de la creme, nada de especial,são anos de apuramento do gosto, chamo-lhe classe, à mingua de melhor termo.