sábado, 29 de setembro de 2012

BLOGUES? Por onde is?

 
ASHLEY JUDD
 
Antes de ontem no telejornal falaram de dois blogues. O mundo dos blogues em prime time é, no mínimo, raro, fala-se demais e mal do que todos estão fartinhos de saber e o pudor ou a náusea me impedem de repetir. Mas o sucesso mediático continuou, a mesma rapariga fitava-me quando cheguei à FNAC,  entre a leitura arrepiante do Caio Fernando Abreu, ena pá até faz vertigens, e a sensação pesada de não poder comprar mais livros, por uma questão de higiene  (poupo-me às explicações). Afinal é verdade, alguns levam-se a sério, os novos empreendedores, as novas oportunidades, música para os ouvidos dos cegos funcionários públicos. A pranchada da rapariga de trinta e tal anos que fala de sapatos e de bouquets de flores. A cara dela e a prosa vendem como limonada gelada em tardes de estio, o blogue tem 35.000 visitantes. Ena! Para além de ficar morta de inveja, porque a desgraçada abandonou o emprego e deixou-se seduzir pela grif, a minha vingançazinha é a desta prosa  saber de antemão que de grifs não percebe porra de nada. Mas tenho de  admitir, entre os 25 deste ridículo espaço e os 35.000 da outra... em termos de sucesso bloguístico abri falência, podia dedicar-me à domesticação de lulas gigantes, se elas quisessem claro. Vou pensar nisso ou acabar de dormir.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Santiago



Santiago. São onze horas da manhã e a praça da catedral está pejada de turistas e de Sol. Lá dentro exige-se silêncio e respeito, os andaimes não ajudam mas a força e a grandiosidade do monumento impõem-se. Alice vem entusiasmada de ver tanto santo e tanta figura de pedra, traz os seus conhecimentos para a praça e repete o que leu numa inscrição: "O caminho da fé é o camião da luz!". Pois... trata-se de muita mercadoria!

foto: Ana Araújo

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

num estado de sítio

 
Quero falar da tristeza que sinto em relação ao estado deste país. Da afronta que todos os dias temos de engolir, este mal cansado, esta besta malfadada da crise, espécie de cobra paralisante a engolir tudo à volta, a camisa esfiapada, num pau. Aqui onde erigimos betão, fecharam as portas e instalaram o estado de sítio, a vigilância cuidadosa e eficaz. Aqui não conseguimos ser livres, ser livre parece ser supérfluo, ser justo irrelevante, a dignidade está no vinco das calças ou no sapato alto. Cuspir o veneno para longe,  antes fazia sentido, deitar a língua de fora, ou rir ou chorar, tudo o que antes fazia sentido, agora não faz, não faz nenhum, nada. As palavras são redundantes e o seu efeito nefasto, repetem-se numa unanimidade muda, o discurso é uma anestesia que deixa um inchaço grosseiro nas bochechas. Este é um estado totalitário, um  estado de rasura, de subserviência.

sábado, 1 de setembro de 2012

Gerês 2


Cada "paisagem bela" é um fardo. oiço-a exigir-me: " Vá, agora apanha-me, eterniza-me, faz-me tua!" Eu não sei, continuo a considerar esta tarefa impossível. Afadigo-me um pouco e depois deito às urzes a exigência, fico com a impressão. a impressão, da impressão, da impressão. Há mulheres como eu, e homens também, de máquina a tiracolo e sequências fugazes de impressões destas.
Então, arrumas a peça de artilharia pesada, inocente usurpadora que  rouba coisas das coisas, e aí, o grilhão solta-se, ao correr do raro instante, acontece: a beleza liberta-te.