domingo, 12 de julho de 2020

Hoje mergulhei na água baça e muito salgada
da praia de Carcavelos
eram sete horas da tarde
(aproximadamente)
o peito branco da Rita não cabia no sotien
ou seria bikini estreito e verde demasiado verde
ela nem mergulhou porque a praia era
surdina de carros na margem
mal havia crianças
e as que havia eram proíbidas pelos pais
de fazer cócó na areia.
Acho que vou entrar na vida
(outra vez)
como quem entra numa sala repleta
de pequenos criminosos desocupados.
A propósito do poema de Fernando Pessoa que saiu este ano no exame de Português, 12ºAno...

Sofro, Lídia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
        Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
        Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
        No anoitecer.

Inspiras-me Pessoa
aludes sem me nomear
tenho em minha casa todos os livros
que escreveste um dia, há muitos anos atrás
quando eras um ser vivo que
falava e respirava e tomava o pequeno almoço
antes de ir para o trabalho.
Também gosto de pensar que eras tu,
(tu ainda a outra que me inspira)
quando acordava de noite
em chamas com o calor de Verão.

sábado, 11 de julho de 2020

Gotas de absinto vermute e gin
Áleas desertas
Estátuas de pés grandes
o eu solitário e decrépito
que volta a si próprio
nas horas concretas.

Tão filho pródigo o desejo
entra na respiração, reproduz-se
destrói a passagem onde se deita
boa intenção arvoredo
inaugura por mim
a cura e o incêndio.