quinta-feira, 30 de abril de 2020

Estado de alma 2

















Podes contar com a tua psicologia
e com balões murchos no final da festa.
Entre coisas vãs ser-te-á prazenteiro
pontapear os dois para onde fugia
a lembrança e até afagar a lesta
imagem de um corpo parado num outeiro
verdejante de possibilidades nunca satisfeitas.
Sim, a tudo podes dar forma esguia
do desejo que erigiste antes das contas feitas.
Tomar posse de rainha perdida nas algas
e respirar de novo com a nudez do novo dia.

domingo, 12 de abril de 2020

Estado de alma 1

 Susan Meiseles

Não vejo notícias, também não quero explicar, inquietam-me as notícias, mortes e sofrimento , quando nas palavras ou nas imagens, ou ainda no não saber lento precedido de uma vacilação, todos estes infelizes momentos afastam-me, repudiam-me. Vejo comédias românticas. Il faut s'énivrer!, agradeço-te Baudelaire pela satisfação de uma carruagem a horas, uma abóbora que os meus olhos fechados nunca verão como tal, ver é não querer saber do que chamam bombardeio, a Pearl Harbour das notícias e da informação. A multiplicação de fontes de informação teve este trágico epílogo, já não o suportarmos mais. Queremos beleza sem mácula, arrepios de serenidade e o refúgio de bocados de céu azul entre prédios, mulheres belas como torres de Babel, sinuosas na leve colina por onde ocasionalmente passamos. Um vento intrérpido que faça soar as trompetas da nortada marítima! Atirem salpicos de água fria às rosetas do meu desejo e deixem-me ficar insane, se o julgarem assim, ou apenas uma froxidão alargada ao entretecer das narrativas do prazer.