Digo-te do meu silêncio usual:
As gaivotas são as rainhas do dia
e daqui, apesar da geometria fechada dos prédios
abre-se uma visão de mar batido e penhascos.
Perguntas-me porque exorto o mar aberto, as ondas
e os penhascos?
Respondo-te que exorto as gaivotas no seu grasnar
bicam-me de sortilégio a nuca adormecida
e intranquila
seguram-me ao paraíso
por breves momentos
em que julgo estar presente no despertar do mundo
de ser a primeira vez
mas não sei explicar
arrepia-se o ar nas falésias
o dia segura-se frágil absorto na neblina.
Quanto podemos abarcar com as palavras?
Se pudesses ouvi-las, agora
as gaivotas
se estivesses alongada
sobre este lento amanhecer
e te trouxessem (como a mim trazem)
todos os dias primeiros
que perdi
então
não sei se sentirias
não
possivelmente ias fazer uma torrada
e atiravas-te indolente
para a cama.