quarta-feira, 13 de julho de 2022

 Digo-te do meu silêncio usual:

As gaivotas são as rainhas do dia

e daqui, apesar da geometria fechada dos prédios

abre-se uma visão de mar batido.

Perguntas-me porque exorto o mar aberto, as ondas

e os penhascos?

Respondo-te que exorto as gaivotas no seu grasnar

bicam-me de sortilégio a nuca adormecida

e intranquila

seguram-me ao paraíso

por breves momentos

em que julgo estar presente no despertar do mundo

de ser a primeira vez

mas não sei explicar

arrepia-se o ar nas falésias 

o dia segura-se frágil absorto na neblina.

Quanto podemos abarcar com as palavras?

Se pudesses ouvi-las, agora

as gaivotas

se estivesses alongada

sobre este lento amanhecer

e te trouxessem (como a mim trazem)

todos os dias primeiros

que perdi

então

sentirias

não

possivelmente atiravas-te indolente 

para a cama.

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