terça-feira, 31 de março de 2015

sábado, 28 de março de 2015

Ode ao silêncio impuro


Ordena-se
imediata libertação do silêncio impuro
colocado por cardeal lerdo
na masmorra ociosa da moral

A ordem, a ter efeito imediato
manda
desconfiar, depenar e discordar dos puros
estes identificam-se pelos pés
caminham  e falam em bicos de pés
Bicos de pés são partes minúsculas
invisíveis a olho nu
mas capazes de produzir grandes dores
a quem não possui tal bico
em virtude de nascimento ou credo
ou sei lá, duma cabala tonta

Anjos e outra espécie de faunas aladas
almas, sentimentos, e propaganda
serão doravante colocados no shake
misturados e depois de batidos
engolidos com rigor
um gole de cada vez,
para facilitar  a digestão
toda a pureza  é indigesta)
e provoca amiúde erupções da bílis
mas uma boa tarde de sono
uma acendalha no fogo
seguida de um rápido soluço
consumarão a proteína

Doravante todo o silêncio será impuro
a palavra também
embora se possa assinalar
bem no fundo do seu arrazoado persistente
a secreta fagulha emigrante no sangue
de uma brincadeira em que todos trocaram de baloiço
e vêm para o campo a rir



segunda-feira, 23 de março de 2015

Salafrária

Volto, volto sempre, a pairar
micrólito do ar parado
regendo a imensa falha desta mó

volto, volto sempre,
entre a bruma e a claridade
Apareço gesticulo
sou ovípara na cidade

o teu cabelo louro, em caracóis
a cega espada do meu peito incandescente

Logo, na canseira e no embuste
abrirei o livro, farei o resumo da matéria
sucumbirei dardo pesado
ao redor do juízo
antes, depois
logo a seguir
interrupção estendida
recomeçando
ser desfocado  entre abertas asas feridas
consumo do silêncio
rigor da chibatada sobre o ventre
aquele árido ventre separado

Volto, assim mesmo, acertada
sob um nome falso
sob nenhum nome
sob um céu de chumbo
branqueada

domingo, 22 de março de 2015

poesia: a máquina delirante da dedada cósmica

DEDILHANDO

se eu quisesse fazer poesia
era o serviço do meu dia a 21 seria
mas anoto a letra miúda
do calendário escolar
hoje não é dia de poetar

ao virar a página encontro
outros dias pequenos conto
em nenhum me poderia prestar
o ofício ou arte de poetar

se fosse mais tarde ou cedo talvez
no campo ou no mar em vez
de me ter esquecido a medo
pudesse despertar de novo o credo

mas terei de constatar
que apesar de disposição e do verbo
acabei por me atrasar
escrevinho um soneto cego?
não, hoje não é dia de poetar




terça-feira, 3 de março de 2015