quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
divagações
domingo, 29 de novembro de 2009
cinema
"A linguagem verbal está morta" diz Tetro, di-lo no entanto através da linguagem verbal, é ainda pela linguagem verbal que surgem os compromissos e se desfazem. Em Tetro há um pensamento que se interroga mas para além e mais importante há laços que nenhum pensamento por mais despegado poderá quebrar. vi o filme numa noite chuvosa e gélida onde a meteorologia previa alerta laranja para certas regiões do país e as árvores esperneavam com o vento. são-me saborosas estas rotinas de cinema, este calor das salas no inverno e as imagens a correrem à frente dos meus olhos. gosto disto, depois sair de novo e a noite já não nos apanhar desprevenidos porque não paramos de querer meter nas palavras a bravura do que sentimos por dentro, esse entusiasmo. reparo num homem que caminha com os pés descalços na rua molhada, a realidade confunde-se na fantasia e de olhos vermelhos, ainda enevoados de outras ruas, reconheço burguesa esta arte da fuga. ai ir. ir mesmo, para enfrentar tudo de olhos bem abertos. quarta-feira, 25 de novembro de 2009
democracia e dinheiro
a letra dos dias tem sido a justiça. os processos em tribunal e a quantidade de arguidos desde o Caso Casa Pia, alimenta os jornais e as opiniões. São arguidos em processos que duram e duram até não sabermos quem é de facto culpado porque já não os julgamos a eles mas julgamos antes a justiça. Julgar a justiça é estúpido e perigoso. Tribunais e juízes confrontam-se com todo o tipo de argumentos e provas e contra-provas nestes casos tubarões (gente com poder), testemunhas reais e compradas, infindáveis artimanhas criadas na habilidade dos advogados a lidarem com lacunas e fraquezas da lei. São as leis que permitem estas brechas mas no caso dos pés-descalços todos sabemos que os julgamentos são rápidos e eficazes. Questiono mais a seriedade dos advogados que a dos juízes, a fraqueza da lei, a sua falta de clareza e os seus limites deixam ao critério de advogados sem escrúpulos todo o tipo de recurso. Bons advogados podem alterar a visão da verdade, podem fazer condenar inocentes e libertar criminosos e isso não é justiça. Veja-se o Caso Casa Pia, os desvios constantes ao essencial, a poeira lançada pelos advogados, nenhum esclarece seja o que for.Porque não há-de o Carlos Cruz ter um advogado desconhecido escolhido ao acaso? Toda essa gentalha só contribui para este clima de impunidade. O dinheiro assenta a democracia no banco dos réus. Não parece, mas é.sábado, 21 de novembro de 2009
gripe F
terça-feira, 17 de novembro de 2009
hedda gabler
a história de hedda gabler, a bela e má, conta-se em três linhas: Hedda ama L mas casa com S. com S pode ter um compromisso, com L não, é só desvario. hedda quer segurança por ou apesar do fogo e da turbulência que sente, querendo recusar o irrecusável acaba vítima dele, domina e no fim é dominada. o texto do ibsen não diz nada disto, não fala da psicologia, ela, a psicologia, está no comportamento, hedda enfastia-se casada, anseia, da beleza faz ariete, da inteligência um laço de caça. na moral burguesa é a manipuladora de sentimentos, sem moral, vemos uma mulher dominadora, a mais forte. mas no seio da burguesia os fortes são os fracos, os que não opõem resistência. quem ganha afinal? o marido, o que não tem talento para nada senão para a paciência. perdem os apaixonados.domingo, 15 de novembro de 2009
auden
em fios finíssimos se tece a teia com que resguardo o corpo quando o mesmo dotado de alma (que nem sei se existe), treme. em fios finíssimos se tece a teia de uma história feita de avanços recuos e galáxias e fogo, aguentaremos. se o universo afinal for apenas indiferente, não me regozijo da dispersão arrojada do pensamento mas a trama não se perde nunca, essa obscurece qualquer pensamento ou o ilumina, pois que na essência onde o movimento se dá também os contrários se juntam no mesmo. Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.
The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
união de facto ou casamento?
domingo, 8 de novembro de 2009
ervilhando
hoje quero falar e calar-me à vez,ainda não decidi que parte quero calar ou qual é a que quero falar, fala-se muito, em todo o lado mas por via indirecta. fala-se para um microfone, escreve-se por aí fora, dão-se opiniões e conta-se tudo, mostra-se tudo explica-se quase tudo. as palavras correm umas atrás das outras inflectidas ou monótonas, digo o que me vai na alma e quando digo já parece não estar em lado nenhum. mas apesar de toda esta euforia não é o discurso que conta, em boa verdade o discurso conta pouco, talvez por ser tão cómodo e fácil falar numa sociedade onde se permite que tudo seja dito. nada então nos choca ou faz estremecer. mesmo o mais imbecil e desinteressante dos seres tem o seu momento de visibilidade cósmica, debita qualquer coisa no écran por onde passam milhares de outros fumando ou bebendo cerveja. COMUNICAÇÃO. barra a queda para deixar ir dizendo, dizendo, não parar de dizer. pois se calar é assumir a verdade da coisa: Nada temos verdadeiramente novo para dizer.mas afinal não é este solilóquio senão uma questão de inveja. pergunto-me invejosamente: como é possível um blog como o do Bruno Nogueira ter mais de 2.000 leitores por dia? é muita gente, caramba, que procuram esses tipos todos? aquele ar tá-se bem, aquela coisa dada à brincadeira negligé. é mesmo misterioso isto.
domingo, 1 de novembro de 2009
chuva
chove lá fora e o tracejado da chuva nítido à luz do candeeiro de rua faz parecer estranho este bairro, estas casas, como pracetas perdidas do Uruguai, momentos antes de um grito numa qualquer taberna empurrar para a chuva outro corpo. assim. não conheço o Uruguai, sabes, mal conheço as sardinheiras tímidas nos vasos tímidos das varandas inexistentes do meu prédio. facilmente poderia ceder à tentação da queixa quando assim chove nas pracetas do Uruguai perdidas à conta de reflexos dos meus olhos miúpes, reconheço contudo que me é dada fantasia suficiente para desenhar mundos onde há apenas a noite e pouco mais.quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Por causa da Teresa
domingo, 25 de outubro de 2009
filme
"O dia da Saia" é o título de um filme francês. Pergunta natural: Que quer isso dizer? Dia da saia? então será que vamos instituir um dia para todos garçons et filles mostrarem a pernoca? E porque não o dia do naperon? ou da bóina...deixemo-nos de parvoíces porque o assunto é sério. Tudo se passa num Liceu ou como hoje chamamos, uma Escola Pública, onde uma professora pretende dar a conhecer Moliére a uma turma de origem maioritariamente marroquina e argelina. O ódio e o desprezo pela Escola, colegas, professores e Moliére, sourtout lui é de ordem a ser impossível comunicar sem ser aos gritos e ameaças. o resultado é devastador, tão devastador quanto é próxima esta realidade. A propósito: reivindicação da professora exausta: institua-se "o dia da saia" um dia em que toda as mulheres desta escola possam usar saias sem serem consideradas putas...é isso mesmo...quando estiver menos cansada derivarei para o problema dos emigrantes e dos valores.sexta-feira, 23 de outubro de 2009
dixotes
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Três cantos estreia dia 22 no Campo Pequeno, os três maiores compositores vivos da Música Popular Portuguesa, juntos e ao vivo. Cruzam-se emoções, expectativas imensas para ouvir aqueles que poetizaram a minha juventude e continuaram a fazê-lo na minha vida adulta.Cada um de nós os que habitávamos Lisboa com sofreguidão e desvario tivemos a ventura de ver despontar esta febre criativa, os longos braços da poesia e da música livre, como um longo suspiro, todos nós ligámos estas músicas a uma parte incontornável do nosso imáginário. Ao som do Rosalinda o meu primeiro beijo na boca, apaixonado, o beijo que vinha lá do fundo da ânsia e se fazia luz nessa tarde num apartamento dos Olivais.
"Rosalinda se tu fores à praia, se tu fores ver o mar, cuidado não te descaia o teu pé de catraia em óleo sujo à beira mar" e depois corríamos a ver os concertos espontâneos em cantinas, na Festa do Avante, em bares.
"A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste."
Há, houve, continuará a haver uma identidade que cresceu e se formou com estas palavras.
domingo, 18 de outubro de 2009
saramago
Então o Saramago escreve mais uma heresia, no seu novo livro "Caim". Caim o mau filho, Caim que mata o seu irmão por ciúmes. Saramago dixit: Um Deus cruel que permite tais actuações não é bom conselheiro. A Bíblia é um manual de maus costumes, os católicos nem se hão-de preocupar com o livro porque não lêem a Bíblia mas os judeus sim e para mim isso é indiferente. Continuo a admirar a sua coragem embora já ninguém se preocupe muito com heresias neste ocidente democrático. Curioso seria que os judeus se levantassem e em coro o condenassem às penas do Inferno, à excomunhão pelo fogo ou mais prosaicamente, a gosto dos fariseus e seus inimigos muçulmanos, passem das palavras aos actos e lhe movam uma perseguição! Filhos ambos de Caim, diríamos e parece-me igualmente herege mas Saramago? De quem é filho Saramago? Nem Caim nem Abel! Filho de sua mãe, só.quinta-feira, 15 de outubro de 2009
sobrinhas
andei com elas ao colo, adoro-as, são como as filhas...etc, agora cresceram e temos zangas de adulto contra adolescente e vice versa, o habitual, adoro-as mais, mais, mas não sei como lhes dizer que as adoro quando mandam mensagens no telemóvel enquanto lhes falo. São lindas demais as miúdas e revejo-me naquela rebeldia. Herdou a mais velha de mim o gosto compulsivo da leitura e um certo orgulho meio enviesado, a mais nova o gosto pelo teatro e é fantástico sentir que os gostos delas, os subterrâneos, têm a ver comigo embora, felizmente, sejam muito diferentes de mim. A minha vida espelha-se um pouco nelas e isso faz todo o sentido.todo. Um abraço!quarta-feira, 14 de outubro de 2009
ranking
O ranking das "melhores" escolas (escolas com melhores resultados nos exames do 12ºAno) não foi consensual. SIC, Correio da Manhã e Diário Notícias apresentavam cada um o SEU RANKING. Talvez isto de rankings seja coisa criativa e pessoal e o melhor é cada um ter o seu e não se fala mais nisso!Três factores que me parecem importantes e condicionadores destes resultados:
1. O desequilíbrio e instabilidade da classe docente nos últimos três anos. As guerras e confusões que se instalaram na Escola Pública face a medidas desrazoáveis do governo. Estas medidas parecem ter afectado mais os professores das Escolas Públicas porque a classe tem uma representação mais heterógenia que na Privada, onde os professores são escolhidos também por factores políticos. Maior vulnerabilidade da Escola Pública face ao Poder político.
2. Maior poder económico dos alunos da Privada, mais acesso a bens culturais, menor pressão familiar em relação ao luxo de estudar e consequentemente uma maior concentração no valor do estudo.
3. Mais elitismo nas Escolas privadas que são menos pressionadas que as Públicas no sentido da Inclusão. Isto é, as Escolas Privadas não têm a missão de educar todos, apenas alguns, os que querem verdadeiramente estudar . Esse princípio permite o elitismo que nas Públicas só é possível em algumas excepções, quando as Escolas Públicas rejeitam alunos com passados escolares pouco promissores. É o caso da Escola da Quinta do Marquês - Oeiras que sendo uma das melhores escolas públicas, aceita alunos fora da sua área em detrimento de outros que vivem próximos. O critério é a excelência e nível económico do aluno. O meu vizinho de baixo é exemplo.
Posto isto, ilações: A batalha perdeu-se! Mas a luta continua! Escolas Públicas às Armas!! Teremos de provar que o Ensino Republicano e laico é melhor que o ensino norteado por princípios religiosos, acredito que sim!
domingo, 11 de outubro de 2009
divagações
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Chéri

quarta-feira, 30 de setembro de 2009
na piscina
domingo, 27 de setembro de 2009
botos: 40% de "abstentos"
Os "abstentos" são a maior força política do país. Caso para uma entrevista exclusivae uma profunda reflexão:
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
tentação
domingo, 20 de setembro de 2009
Ghosted
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
às três da tarde ouvindo falar sobre Kant

terça-feira, 15 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
domingo, 6 de setembro de 2009
notas de viagem
A azáfama de uma cidade e a Lua, a linha encostada de mar, as vozearias, as correrias, ocupam os espaços vazios do pensamento no intervalo das emoções. Aquela absorção de cada um na vida de si próprio. Absorção de cada um na vida de si próprio, assim vejo a vida da cidade.Passar nas ruas e olhar à vez as montras, as pernas e as unhas escondidas no pó dos dedos inchados dos pés. As coisas atrás e à frente e os meus pés. Volto à cidade agora que não posso lá voltar e compreendo que no pensamento voltam as emoções identificadas, delineadas, correctamente ordenadas pelas suas causas. o rasto das pessoas prende-se-me nos dedos e lembro uma velha frase "gosto mais de ti quando te ausentas". Hoje o pensamento refugia-se, ampara-se nessa ausência. Talvez seja frouxo, é seguramente vibrante. quinta-feira, 3 de setembro de 2009
ISTAMBUL

Istambul, a cidade entre as margens, uma observando a outra, subindo e descendo entre braços de mar e rio, crescendo meia sonâmbula ao som dos cânticos projectados nos altifalantes dos minaretes, são essas vozes que juntam as margens e unem o povo. O significado religioso tem aqui uma muito bela ressonância, religare, unir o distante e o diferente num mesmo gesto, ajoelhar e orar. A maciez dos tapetes acolhe os nossos pés cansados e sentimo-nos seguros, numa mesma família que fala uma linguagem antiga e comum apesar das sonoridades estranhas da língua. Techekur ederim levou algum tempo a aprender mas dizê-la provocava-lhes uma emoção surpreendente, baixavam a cabeça e tocavam com a mão direita no peito repetindo a palavra baixinho, como para dentro, numa breve e tocante cerimónia de agradecimento. Só para nos retribuir muito obrigada. Insallah! talvez um dia possa voltar com mais palavras, muito mais palavras!terça-feira, 25 de agosto de 2009
feminino vs masculino e outros
a sul africana que venceu os 800 metros em Berlim tem 18 anos e toda a gente discute se é homem ou mulher, para ela, deve ser humilhante, numa altura em que podia alegrar-se com o sabor da vitória, vem aí uma leva de cuspo mal disfarçado de verdade científica, cuspo, escandaleira, venda de jornais. Tem testerona a mais, três vezes mais, será que feminino e masculino dependem dos níveis de testerona? Se assim fosse teríamos possivelmente de chamar a muito homem mulher e vice versa mas eles ainda não sabem, estão nos testes. que testes serão? aos cromossomas? se for XX é mulher, mas se for XY, dá para cá a medalha? Tudo isto fede a estupidez, pois os genitais não contam? uma senhora que a veja nua? Não? O comité inteiro why not? para não restarem dúvidas...tou mortinha de curiosidade para saber o resultado de tão secretos testes! será ao sangue? uma dissecação da pelve? talvez nos ossos, ou quiçá nos beiços esteja a sua esperada prova de que é macho, querem que a rapariga seja macho porque lhes parece macho, estão confundidos os pobres...cá para mim vão dizer que há transição, hermafroditismo não pode ser que se vê à vista desarmada, e se for transsexual? terá direito à medalha? Semenya, tu não ligues, se calhar estavam à espera que no final da corrida baixasses as calcinhas...agora que devia haver um tribunal para julgar estes tipos que dizem estas coisas sem provas conclusivas, isso devia...segunda-feira, 17 de agosto de 2009
é no Alentejo que o conceito TERRA atinge a sua materialização mais forte. Terra, bravia e expectante, mansa, omnipresente, gloriosa e pobre. terra poeira, terra suja e pura. terra com céu.ténue linha adormecida.
talvez não seja bem tempo para estas leituras mas por distracção dos editores nem todos os livros vêm com conselhos de estação, tipo: este é para ler na praia enquanto este outro vai mais com lareiras e assim, nevar lá fora, bom, seja como for encontrei-me na psicanálise e se bem que não possa negar a razão primordial do seu discurso, sobretudo os conceitos de inconsciente e pulsão, preocupam-me algumas das suas asserções, nomeadamente a de que a maturidade sexual da mulher estaria ligada biologicamente ao prazer vaginal e psiquicamente à ultrapassagem da castração primordial da infância que seria, no caso feminino, a inveja do pénis. A minha sobrinha, quando novita, dizia que queria um, sem dúvida que daria jeito, pensava ela, sobretudo para poder urinar de pé (estive três minutos a pensar qual a palavra melhor para esta acção...todas elas são ou rascas ou demasiado afectadas). A primeira asserção é obviamente falsa, o prazer sexual das mulheres não tem a sua origem na vagina e a segunda permite as interpretações e diagnósticos mais contraditórios. Isto é, na psicanálise, seja qual for o nosso comportamento, a sua causa é a mesma - a castração - e seja o que for que aconteça podemos estar seguros de ser todos psicóticos ou neuróticos sem excepção porque projectamos sempre fantasias sobre nós ou sobre os outros e estas são fugas ao complexo primordial, fugas essas que se pagam com a autoflagelação ou a flagelação dos outros, consoante a culpa seja nossa ou dos outros, há sempre o castigo. Bolas!! A acreditar em tudo isto ficamos não curados, mas verdadeiramente neuróticos! quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Ao meu amigo Zé
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
Por aqui chove e é boa a chuva depois do Sol, a chuva molhando ao de leve a terra meio ressequida das sardinheiras, a chuva pela calçada, lavando as ruas, dá uma sensação de aconchego, de proximidade às coisas. Nestas manhãs, dou por mim perdida em pensamentos, tranquila, em paz, gozo do tempo livre, aplico-o fazendo aquilo que gosto, ler, escrever, ver filmes. Gosto desta sensação da cidade semi-deserta, dos cinemas vazios, de prolongar os passos num certo silêncio, um silêncio deixado à solta pela debandada das famílias para perto do mar, a cidade sacode-se da poeira e do peso, liberta-se e disponibiliza-se para ser vista, tocada e acarinhada. A minha cidade, Lisboa e o mar, o sítio onde cresci, amadureci, ganhei asas. Não sei o que é viver longe destas coisas que amo, sei que muitos o fizeram por necessidade, porque este país lhes fugiu das mãos e lhes pareceu virar costas, sei que o fizeram com tristeza e depois voltaram, volta-se sempre ao local de infância, carregamo-lo para longe, mesmo sem querer e onde estivermos somos também e sobretudo esses locais, os sentimentos vividos não estão separados, não são apenas nossos, também estão nas ruas, esquinas, cafés, encontramo-los quando os julgávamos perdidos assim como eles nos encontram, reconhecemo-nos. Somos ambos, pessoas e cidades, feitos dessa matéria porosa e volitiva, passado e futuro. imagem de: http://cachimbodemagritte.blogspot.com/quinta-feira, 23 de julho de 2009
duas espécies de magazine para adultos: táxistas e polícia municipal
1h da manhã. Tenho a certeza que deixei aqui o carro, um molho de táxistas encostados às suas viaturas (como gostam de lhes chamar), por
favor, sabe o que fizeram ao meu carro? O tipo a mascar pastilha: Era um fiesta azul? foi rebocado. isto é uma paragem de táxis! A viatura era sua?( não meu coxo era do chulo da tua mulher!!queria eu responder se tivesse tomates) o tipo era sopinha de massa e estava a divertir-se à grande com a minha cara de parva, teve sorte eu só queria sair dali rapidamente e não olhar mais para a sua fuça de esparguete mal cozido. Tirem-me deste filme! Estalei os dedos mas não sortiu efeito. Polícia, Polícia Municipal, Olhe, o carro foi rebocado para a antiga praça de touros, vai por aqui sempre em frente...bla bla bla....é longe? nã... cinco polícias olhavam-nos, cinco bófias a palitar os dentes, e eu a pagar-lhes, vai de andar, as ruas de Cascais estão soturnas, bolas, não se vê ninguém... nem o fim das ruas. Praça de touros, tudo fechado, lá dentro uma mulher segurança rodeada de gatos. Abrir o portão? Nem pensar... não está ninguém da polícia municipal...esperar, ao fim de 1h veio um carro a piscar, um carro de feira, pensei eu, para nos tirar dali e nos pôr a render como fantoches, mas enganei-me. era a polícia municipal, um cu gordo arremessou-se com dificuldade para fora do carro, disparei umas atoardas sem efeito, 60 euros de coima (nome novo para multa, que lembra outra função não matemática que para o caso não interessa nada porque nos lembra o quanto estamos fo...e mal pagos) 50 euros de reboque mais 10 euros de parque de estacionamento municipal. A gaija gorda com tickes de eficiência e complacência de hospedeira de bordo de um avião charter da republica do Chade, acompanhou-me solicita ao carro para ir buscar o multibanco e sussurrou melíflua: Posso fazer-lhe uma pergunta pessoal? Ai, pensei, o que mais virá desta noite...ela: Não deu aulas na escola...pronto, tinha sido minha aluna, estava risonha e agradecida, tinha adorado as aulas, eu não me lembrava dela, e para o caso não queria conversas, ainda rematei que era vergonhoso fazerem as pessoas esperar 1h no meio da noite e de nenhures, e tive tentada a dizer que apesar de ter gostado das aulas de Filosofia, não deve ter percebido nada dado o modo como parecia indiferente aos mais elementares direitos e deveres, naquela hora e meia de espera e de calcorrear ruas desertas tinha corrido riscos, riscos que a polícia tinha por função evitar, mas ela já me falava do curso de engenharia alimentar e eu pensei que estava bem, porque ali na polícia sempre podia contribuir para engordar o Estado à custa das distrações infantis dos seus professores de Filosofia, sem as quais não teria certamente emprego. e apertou-me a mão, eu apertei a dela, tudo muito cívico. Eram três e meia quando desabei na cama perplexa, mais pobre e não menos imbecil.quarta-feira, 22 de julho de 2009
domingo, 19 de julho de 2009
Há dias em que nos sentimos imbecis, mesmo imbecis, não sei se é do calor ou da frequência de abordagens sociais inconsequentes, se é da idade, ou da saison, dos problemas da vesícula ou do autismo que não enxerga o óbvio, aquela tacanhez de pensar "eu já vi este filme" e fazer de conta que não, assobiar para o ar, bem, seja como for, tinha obrigação de fazer melhor, de juntar os calcanhares e contrair os glúteos, em vez de deixar o bago de arroz saltar-me da boca no meio do entusiasmo da conversa, ou de gastar o ordenado em restaurantes onde como que me farto e depois em casa vomito tudo. Não sei onde me abstive de pensar e me deixo levar como uma lagartixa tonta, valha-me o bronze e mesmo assim...não sei se vale de muito e também não sei quando tive a última conversa inteligente, já nem sei se sou capaz de ter conversas inteligentes, ( a questão deixa-me três minutos a reflectir para o ar enquanto puxo do cigarro) umas trivialidades parecem ainda causar momentos de reflexão trôpega, as poses, sim...sim, entre garfadas e pastagens ocasionais encostadas à noite , uns copos de vinho, os pés triunfando sobre as mãos (péssimo sinal!) e assim.quinta-feira, 16 de julho de 2009
Chegaste com três vinténse o ar de quem não tem,
muito mais a perder...
o vinho não era bom
a banda não tinha som
mas tu fizeste a noite apetecer
mandaste a minha solidão embora
iluminaste o pavilhão da aurora
com o teu passo inseguro
e o paraíso no teu olhar
Dá-me lume
Dá-me lume
deixa o teu corpo envolver-me
até a música acabar
Dá-me lume!
Não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas há tanto tempo a acenar.
O velhinho Palma, na noite de Julho e esta canção, nas falhas de memória, estamos aqui, nós cantamos.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Agrada-me o ar do Algarve, leve e seco, aquela presença calma do mar, a paisagem de alfarrobeira, esteva, oliveira e amendoeira, os peixes grandes e pequenos, abundantes. O Algarve lembra-me o meu pai, a última imagem que retenho dele, justamente nesta praia D.Ana, encostado à rocha, costas direitas, olhando o mar como quem olha para a sua infância, como quem recorda. A saudade do meu pai, imensa, incontornável ,revive aqui, está aqui mais que em outro sítio, talvez porque sentisse a sua felicidade quando chegava, compreendia o quanto teria desejado aqui morrer, embora nunca o tivesse dito. Sinto agora como sou parecida com ele, como me moldo aparentemente ao que tenho mas mantenho aquele coração aberto e nostálgico, aquela fixação no que poderia ter sido se... herdada sem palavras, diria intuida a partir daquilo que entendo ser o universo forte e impositivo da minha mãe que ao agarrá-lo também o afastou, deu-lhe novas coordenadas, as dela, ele aceitou por amor, um amor leve, pouco exigente, um amor de filigrana, consistente, um amor olhado na direcção do outro. Durante muito tempo julguei que o meu pai era um fraco porque ia, concordava, não deixava o seu estado ser reconhecido e afectar quem estava perto dele, queria-o forte e combativo, estava enganada, sim. Hoje estou definitivamente triste.terça-feira, 7 de julho de 2009
hoje debaixo da noite e da Lua aguardei que uns tipos com joalheiras, cotoveleiras e luvas grossas executassem uma estranha dança do lixo, num minuto, abriram, desengataram, arrastaram, esvaziaram, voltaram a pôr no lugar e voltaram a engatar quatro caixotes. Os movimentos dos dois sincronizados e largos, ora violentos ora não, não violentos, precisos, desenlaçavam bem à minha frente toda a superioridade ocidental: arte e eficácia. apertei a mão queimada para, caramba, reconsiderar no que estava a ver, concedo à claridade da noite as mais fantásticas visões.sexta-feira, 3 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
Estou a tentar fazer uma pequena lista de livros para os meus alunos da noite. Os rapazes gabam-se de nunca ter lido um livro, começam mas desitem logo de seguida, "há outras coisas mais interessantes para fazer!" e daí passado o sacrifício das primeiras três ou quatro páginas, já não têm paciência; as raparigas lá davam uns títulos da sua lembrança: "Queimada viva" dizia uma, e a outra " O meu pé de laranja lima". Propus-me então o desafio de escolher uns livros adequados aos seus gostos. Parto de duas pistas; a primeira é a dos signos, temos dois Touros, terra portanto, um Caranguejo e um Peixes, água, um Carneiro de fogo e um ar, uma Balança. A outra pista é dada pelo pequeno conhecimento que tenho dos seus gostos, sei que o Filipe gosta de filmes e futebol, a Simona de moda e relações sociais, a Sónia de romance e de sentimentos, o Bruno de Natureza e automóveis, o João de desporto e jogos de computador e a Isabel de viagens e gastronomia. Ora bem!sábado, 27 de junho de 2009
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Michael Jackson era uma força da natureza, desde muito novo os holofotes e o negócio espremeram-no até ao tutano não apenas como cantor e bailarino mas também como freak, espécie de Peter Pan travestido, meio homem/mulher/criança, que teimava em não querer crescer. Para vender, tanto dava a música como as operações, os tribunais, os escândalos. Produto do mainstream americano perito em fabricar e destruir mitos, Jackson acusava como ninguém a máquina que lhe sugava a força para depois o abandonar na meia idade quando a imagem já não podia vender de acabada e triste, ora todos sabemos ser a tristeza o que há de pior para o negócio. Agora morto, alguém esfrega as mãos de contente! É muito dinheirinho a começar a correr de novo! Ficam-nos os discos, os vídeos e muita pena, podia ter sido de outro modo, pensamos, podia ainda dar-nos mais daqueles momentos inesquecíveis de ritmo e grito. Há um ditado que diz que partem cedo aqueles que são amados pelos deuses. fica-lhe bem.domingo, 21 de junho de 2009
filmes
sábado, 20 de junho de 2009
depois da ligeira náusea
quinta-feira, 18 de junho de 2009
na feira
Caldas a meio de coisa alguma, entre névoa e ligeira náusea trazendo-me suavemente à beira da fruta e do legume gozou da fama de ter louça arriscada, bastou distrair-me com as cerejas para tropeçar nos galos, e daí à catástrofe foi um piscar de olhos, parti dois, como quem nem é da terra e desculpe lá, mas vai ter que pagar, conversa pra aqui e prali o dinheirinho atirado para o lixo surpreendido, juntamente com a faiança a imitar penas, porque penas, digamos, verdadeiras penas, tive-as eu de andar a cheirar a fruta sem olhar à bicharada. há quem parta corações e quem parta loiça, que se há-de fazer? cada um é para o que nasce, cada um nasce não se sabe para quê e o sol quando nasce não é para todos ou calhando nem é nada disto. vai de perguntar à loiça e ela responde, a das Caldas responde sem hesitar, a chamada resposta de ponta...segunda-feira, 15 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
já não sei bem em que acredito, em que acredito eu? e será que é forçoso acreditar em algo? podemos viver sem acreditar em nada e também, à vez, ir acreditando em coisas que depois deixamos de acreditar, esse movimento retido na sua pureza de constante deriva e irrisão leva invariável à indiferença. aquilo em que sempre acreditei hoje revela-se-me confuso e inconsistente e viverei sem qualquer desculpa ou culpa numa descrença persistente, mas não pacífica, nunca pacífica, degladio as formas, interponho-as contra a necessidade de as fixar, vejo-as mesmo nitidamente a deixarem de ser mesmo quando as vejo ser e, aninho-me na perda como um sagui velho e cansado. domingo, 7 de junho de 2009
Votar ou não votar nos chulos da europa. voto branco.quero dizer não acredito na eficácia de um parlamento com 700 pessoas. destas 700, 200 devem ir às reuniões e dessas 200, 100 estão a dormir...e mesmo que fossem as 700 como pode algo ser decidido entre 700 pessoas?? brincamos...visto-me sim senhor para ir à escola cumprir o dever, visto-me para ir não votar, that´s all! redução ao absurdo da polítiquisse!sábado, 6 de junho de 2009
terça-feira, 2 de junho de 2009
que procuramos nós ao ler um livro? há vidas ali descritas, reais porque é possível que sejam reais, o facto de serem descritas tira-lhes a opacidade e o segredo que há em cada corpo/vida que conhecemos, deste ponto de vista são mais reais, porque se mostram mais, mesmo o que ocultam o autor Deus faz o favor de desocultar e de nos dar a ver o mecanismo do relógio o que em tempo vida real só vemos o relógio mesmo e em horas diferentes. No mais íntimo não poderemos responder a esta pergunta senão com a nossa descoberta, demorada.demorada e nem sempre digna de ser revelada. mas,o que valerá a pena escrever ou revelar? no tempo vida real confunde-se tudo, misturam-se a virtude e o vício, a alegria e a tristeza, o cíume e o desprendimento, mal os captamos vemo-nos a perdê-los e rapidamente se tornam outros. nenhuma lógica, só uma narrativa circular e fastidiosa, este labirinto desorienta, quem somos não tem resposta, volatizamo-nos então em mil tarefas ou em mil pequenas dores que não queremos tocar por ofenderem a razão. nessas alturas, se temos a sorte de alguém nos pegar na mão e de nos amar, nem que seja por breves segundos, tornamos a respirar e compreendemos duas pequenas coisas maravilhosas: a primeira já foi mil vezes dita e reedito-a agora: só o amor nos faz, junta as peças; a segunda é que há mil formas de ser e todas têm o seu fascínio mas saber qual a nossa é tarefa de uma vida e imprescindível. ler permite-nos pensar que não há impossíveis e que é tudo humano, mas sobre a nossa própria forma não há leitura a abençoar e é dela que todas as leituras partem e chegam.





