Quando somos professores temos uma singela ideia: a de que o verdadeiro professor é um sábio, um mestre, alguém cujo carisma resulta de saber, da leitura e da vocação para ensinar. Agora, parece ser melhor ajustar esta ideia ao protótipo vigente. Ai, ai, os tempos mudam, na net tens tudo o que precisas, logo, esta tua ideia é estouvada, quimérica, sonho ou parvoíce. A verdade é que já não há tais pessoas, ou a existirem estão sem voz, num imaginário distante, quando o ensino era coisa de ensinar e aprender e não esta fábrica de massificação de produtos mal alinhavados, simplificados ao ponto em que o conhecimento se torna uma papa de consumo imediato para esquecer. Muito conhecimento é hoje sinal de pés chatos e artroses várias a maior das quais seria a artrose da incapacidade de ver a realidade.
Vem isto a propósito do vazio de dar aulas. Do vazio imenso de dar aulas, por não ter tempo, para investigar, reflectir e ler muito, ler. Também ensinar esse gosto. Ler um livro, por exemplo, vários livros, comparar, escolher, propor. O vazio é uma mistura de ninguém querer saber e da propaganda dos bons resultados. A primeira pode ser falsa mas choca de frente com a nadificação de prontuário de uma escola. Não é esse o motor. O motor é o sucesso, ora o sucesso e o saber não são compatíveis. Haveria que dizer isto a alguém.A escola não pode pagar saber, paga escolaridade, escolaridade é sucesso, mesmo sem saber. Como resolver este intricado amontoado de vaguezas? Uma coisa eu sei: há que colocar as pedras para o caminho se fazer. Um outro caminho. Aquilo a que chamamos realidade,o amontoado de ideias feitas para consumo imediato, não presta. Voltar ao lápis da censura, rasurar, reescrever, encetar o esboço do inconformismo.
6 comentários:
Apetece-me aplaudir. Obrigada beijos
laurita: thanks
Sem dúvida, via. Escolaridade é cada vez mais falso sucesso. Um sucesso desfasado da realidade, onde não se "passa de ano" por decreto...
E, sim, ler é(era) fundamental. Lembraste-me um episódio delicioso com a minha professora de Filosofia (interessante coincidência), que no 10º ano nos incumbiu de ler e fazer a resenha de um de dois livros: "o admirável mundo novo" (Aldous Huxley) ou "o perfume" (Patrick Suskind); experiência soberba e inesquecível na era pré-internet ;) Um abraço.
Belo post. O resultado da impotência de muitos professores que desistem de abrir mentalidades devido às prioridades que o sistema de ensino escolhe está à vista - gerações que pensam pouco e mal.
R: Deste-me uma excelente ideia. O Huxley, seria uma excelente leitura para os miúdos. abraço
mjc: este ano até tive sorte com as minhas turmas, os miúdos são curiosos.
eu optava entre o "admirável Mundo Novo" di Huxley e o "nosso futuro pós-humano" do Fukuyama.
Sim, já não se preenchem as horas nobres na televisão com os inteletuais. Sim a massificação criou um formato muito desinteressante. Cada vez mais se fala para cada vez menos pessoas.
wellwell...
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