sexta-feira, 8 de março de 2013

A visita da velha senhora.


Fui ver de novo a Companhia Maior mas, confesso,  a chama perdeu-se. Os mais velhos, com suas vidas pesadas, o circo das rugas, aquele dramatismo poético da peça da Calle, não existe mais, em sua substituição temos uma futilidade espaventosa, uma soma de lugares comuns de pecinha de texto, nada que nos faça estremecer.  A história tem graça (escrita em 1956 por Friedrich Dürrenmatt retrata a ascenção do capital e com ele a queda dos valores, lembra um pouco, no tema,  a irresistível ascenção de Arturo UI) mas o espectáculo, mesmo com os músculos sado masoque dos mancebos, não tem nenhuma.
Valeu a noite pelo S. Luís, magnífica sala, e pela observação impúdica do estado drunfado da Clara Pinto Correia, escritora que admiro. O  guarda roupa da Maria João Luís não está mal. Aliás o guarda-roupa é o melhor da peça.
 No ano do meu nascimento, (que vou negar à curiosidade dos dois leitores que se podem dar ao trabalho de ler esta mal amanhada prosa), a Amélia Rey Colaço representou-a, à Velha Senhora. Vi fotografias, porque nessa altura não tinha idade para palcos, e, noto, que há dois factores que o encenador Nuno Cardoso, com aquela mania de bonitinho e vanguardista, se esqueceu ou não percebeu (acho que foi mais a segunda). O primeiro é a idade da protagonista, a velha Erínia da vingança:  Maria João Luís nunca será uma velha senhora e, muito menos uma velha Erínia da vingança. Esta Erínia parece-se com uma Catwomen com cio. Quanto aos mais velhos fazem parte do décor, quando deviam ser uma espécie de coro, porque este texto pretende ser uma aproximação à tragédia. Resumo então a coisa em duas palavras: Pretensiosismo e pouca cultura teatral. Este puto recebeu uma pipa de massa para fazer isto!! Bendita Calle com seus nus apocalípticos!

3 comentários:

mjc disse...


Pois não achei nada disso. Gostei da encenação imaginativa, da velha senhora entre a vingança e o poder, das roupagens e não só. Gostei de sentir como alguns trabalhos de grupo resultam.Como a Companhia Maior ali ficou tão bem. O texto cai que nem uma luva , pois claro. Imaginei como poderia ficar este espectáculo no meio da rua, nas praças das cidades. Como seria interessante organizar os debates sobre isto, também na brasileira ou na praça de camões.Mas pelo menos numa coisa deves concordar comigo,as expressivas pernas da misteriosa bailarina ,mesmo velhas, como dizes, são significativas... Ou não? :)

Anônimo disse...

As opiniões sobre os espectáculos feitos são sempre variáveis e logicamente muito subjectivas. Convém porém que quem acha a sua opinião suficientemente importante (e interessante?) para a publicar, saiba ao menos defendê-la e defender-se para não expôr a imensa estupidez e arrogância que baseiam esta que aqui comento. É que para alguém que não entende que o desencontro entre as idades das personagens e dos actores que os representam podem perfeitamente proporcionar grandes interpretações - como é aliás aqui o caso com a absolutamente FABULOSA interpretação da Maria João Luís - arrogar-se a idiotice de adjectivar um encenador como o Nuno Cardoso de "falta de cultura teatral" (goste-se ou não do trabalho que tem feito), só pode ser sinal de uma burrice serôdia e de estupidez desprezível.
Duas notas finais para quem do alto da sua cultura teatral dispensa assim sentenças: 1- Pode ter gostado mais do extraordinário trabalho da Mónica Calle mas comparar dois objectos tão diversos na sua raiz e especificidade é absurdo e pouco informado; 2- No programa o encenador justifica a escolha da MJL e a diferença de idades pois defende que ela transcendeu essa classificação e vê-a como um conceito ( concordando-se ou não).
Obviamente, a sua já referida cultura teatral estava mais ocupada a espiolhar o estado de alma dos outros espectadores e dispensa esse tipo de leituras ou reflexões. Mas eu diria que este espectáculo lhe teria feito mesmo bem. SE o conseguisse ter visto realmente.
FPV

via disse...

Mjc: Das pernas da bailarina, muito bem, que é um espanto poder dar como adquirido o facto de certas pessoas conseguirem esse feito de se conservarem com a mesma mobilidade e graciosidade de quando eram jovens, quanto ao resto não. A companhia maior pareceu-me uma série de figurinhas de um lado para o outro, sem qualquer espessura dramática/trágica e de tal modo caricaturas de si próprias que a sua dimensão fez-me lembrar as figurinhas do romance do Gulliver, os liliputianos.

Notas para o anónimo:
1. Quanto à estupidez e arrogância de que fala só me pode dar vontade de rir na sua cara pelo simples facto da sua prosa mostrar alarvemente como a crítica, mero acto subjectivo que na sua projecção deve ter em conta isso mesmo, e posicionar-se como uma mera opinião baseada num gosto, pode ter contornos ofensivos e gratuitos que em nada engrandecem o espectáculo que está a defender, antes pelo contrário, o fazem parecer um desses objectos familiares e sectários fruto de grupelhos de gurus ensimesmados com a pseudo luz da sua própria ignorância. Se gostou ou gosta, melhor para si, mas deve pelo menos, embora lhe seja custoso, devido ao adiantado estado de bloqueamento da sensibilidade estética e intelectual, colocar a possibilidade, remota, mas mesmo assim, uma possibilidade, de alguém não gostar o que é obviamente o meu infeliz caso, tão infeliz quanto pode ser o de alguém apostado em falar de teatro e ter de ler as iras inconsequentes de um qualquer anónimo atordoado pela sua fé
2. Os conceitos ou não conceitos que estão na base da escolha de papéis são-me completamente indiferentes, e quando em teatro se puxa do conceito para justificar qualquer coisa é sinal que estamos perante uma explicação que só precisa de existir para tapar buracos, isto é, para esclarecer ideias, em teatro as ideias ou intenções só interessam para quem não consegue convencer de outro modo, apresentado uma nova interpretação que pela sua consistência cria mesmo novas ideias, que não precisam de ser explicadas, ou resultam ou não. Neste caso obviamente não, a personagem tem mais de grotesco e anacrónico que de fulgor na reinterpretação dos dados do autor.
3. Nem me vou dar ao trabalho de discutir consigo a minha opinião sobre o que foi dito no post, não me parece que o seu destemperado texto tenha algum fundamento senão a dor de calos e a urticária.