Tenho paixão de morte por bons actores, (por agora, e enquanto não for mesmo obrigada, recuso-me a dizer atores) delicio-me com a
metamorfose dos seus corpos, gestos, voz, pronúncia, mas sobretudo, com a sua
capacidade de viver e dar a viver emoções. Muitas são as formas de o
fazer bem, isto é, com credibilidade. Há
actores que são capazes de dar a ver a sua representação, permanecendo por
detrás dela a observar-se e a observar-nos; o Matt Damon é um exemplo disso,
é sempre ele por detrás das personagens, distanciado, percebe-se no gesto a composição, diz-nos como está a representar e ao fazê-lo desmonta a representação; o resultado é brutal. Há outros como o Tom Hanks ou o Michael Douglas, que
vestem várias peles e fazem-no com uma energia e uma confiança tal que não
descortinamos como seria de outro modo, ou se há lá alguém para além da personagem. "Por detrás do candelabro" poderia ser um filme menor de
TV para encher o olho voyerista, se não tivesse esses tremendos actores a
jogarem-se cena a cena, a exporem-se, a medirem o campo para se deitarem dali
abaixo, é impossível não admirar a sua arte. Noutro registo Cate Blanchett em
"Blue Jasmine" um cineasta dos diálogos: Allen, e uma actriz que
dinamita as palavras. Tirem-lhe as palavras e está tudo lá, todas as emoções, o
passado e o presente, no olhar. Quando saio do cinema acontece-me a noite
desabar nostálgica pela interrupção de realidades, pela mudança de registos. Continuo a achar o cinema uma arte de actores, e bons cineastas os
que se apercebem disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário