Porque será que as tempestades têm nome de pessoa se as descrevemos à régua e ao
esquadro? Ondulação de 11 metros, ventos de 130Km, leito dos rios cresce 6
metros, população e orla marítima em estado de alerta. Lembro os quadros do
Turner, as vagas, os relâmpagos e os homens indefesos e arrepio-me desta forma
de transmitir a informação tão alarmista e cinzenta. Por detrás da
pretendida ciência dos números há o resgatar da identidade da coisa natural, a neutralidade da descrição é um cavalo cego, não há neutralidade, há só pretensão e uniformidade. Como se os números nos dessem a ilusão de controlo e
de conhecimento. Nada. Os números não são sinónimo de domínio coisa nenhuma,
são só sinal de falta de ideias, de falta de poesia, de falta de grandiosidade
na descrição. Esta omnipresença dos números é tão ilusória como manipuladora.
Eis a tempestade: os ventos assobiam nas frinchas mal vedadas das janelas, o
recolhimento da noite transformou a tempestade em som, arabescos de árvores a
bater contra os vidros. E nós reinantes de chaves à cinta encolhemo-nos no
sofá, deixamos os olhos crescer para o que a noite não deixa ver. Stop
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