Numa certa altura da vida falta-nos tempo, não
porque temos muitas coisas mas porque somos mais lentos e ainda desejamos muito, como se nada nessa
lentidão nos fosse familiar. O motor, a força tempestade, entrou em
desaceleração e a percepção desta súbita mudança faz-nos querer chegar a todos os
lados que o desejo laço tinha preguiçosamente adiado. Antes de parar, de parar
definitivamente. Dentro de mim há também uma figura absorta, uma
marioneta a que temos de puxar pela mão porque se quedou embevecida pela
luz do próprio tempo a passar, assustada pelo absurdo de poder parar, como
quando alguém corre atrás de nós com uma arma e o horror prende-nos as pernas,
não conseguimos fugir, uma espécie de torpor hipnótico, talvez, um rodilho de
silhuetas mudas seguram-se no limite. Os meus dois: o que observa espantado um
outro mergulhado no pântano luminoso, no extravio absíntico da languidez da
queda. Um tem pressa demais e o outro, nenhuma.
3 comentários:
Conheço esses duplos dentro de mim, mas o que tem pressa ganha mais...com a idade, no entanto, não sei...
~CC~
CCF: com a idade os mecanismos ficam todos com folgas...eheheh
Bom fim-de-semana.
mas nas folgas entre os diversos fragmentos existe memória?
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