Quando não conhecemos o realizador, os actores por si não garantem um bom filme, e muitas vezes, conhecendo o realizador também nada se nos afigura, a não ser alguns nomes, poucos, por mim, o Carax, o Eastwood, o Allen. Quanto aos actores só se os amarmos platonicamente, porque mesmo excelentes actores que no Teatro podem justificar a qualidade de um espectáculo, no cinema não, afundam-se com o resultado.
Nestes dois últimos dias vi dois filmes que são paradigmáticos de duas formas de fazer cinema e também da inoperância da crítica, "Cloud Atlas" dos irmão Wachawski e "In a lonely place" de Nicholas Ray. Separam-nos 62 anos, o primeiro é de 2012 e o segundo de 1950. O primeiro vai de pastiche a excelente segundo as opiniões da imprensa, o segundo, pelo tempo e prestígio grangeado por realizador e actores é considerado por todos como um bom filme, embora não tenha prémios.
Cloud Atlas coloca em evidência um problema do actual cinema: não há bons argumentos e, na míngua deles, há fogo de artíficio e golpes mirabolantes de câmara, um cinema grandioso no custo elevado da produção e da contratação de actores, um filme com ideias, eu diria teses a demonstrar. Saga do mundo imperfeito, (a ideia de que somos capazes do melhor e do pior está estafada), dá-nos a desconfortável sensação de megalomania, há muito em quantidade, maravilhosos pormenores que poderiam ser desenvolvidos e que parecem inacabados, há talento mas falta trabalho de formiga. O outro é simples, um bom argumento, bons actores, um trabalho alucinante com o pormenor, dos diálogos à construção das cenas, ao balanço da montagem. Um objecto bem acabado. O resultado é que o cinema não é coisa de ideias mas trabalho de artifice, trabalho bem feito a partir de bom material mas sem pretensões à obra. Estes novos realizadores têm que produzir mais obras pequenas para aprenderem o que é fazer cinema. Mas até gostei do Cloud Atlas, apesar de, com aquele material se poderem realizar três bons filmes. Um desperdício, portanto.
2 comentários:
Sim, um grande desperdicio. Se fosse hoje quanto gastaria o Nicholas Ray para criar outro 'Johnny Guitar'?
esse "Guitar" em technicolor só ´mesmo para rever e rever no sofá, é único, precioso.
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