Não sei se o meu forte amor por praias e
mar foi herança paterna, se foi intrusa proximidade desde nascença ou
uma simbiose entre aspirações do meu coração,
ansiando por horizontes largos, pela possibilidade aberta de uma fuga, e
a generosidade das águas reconhecendo a irmandade e o afeto que lhes dedicava,
contas feitas, fui crescendo com esse testemunho constante e, tirando os
cafés, foi também nas praias que aconteceram momentos marcantes do meu percurso
emocional - dos desvarios, reconciliações,
dos medos e dos triunfos. Tenho um punhado delas fechadas na mão, com
cuidado, sem deixar cair um único grão de areia, chamo-lhes minhas com o
orgulho da leoa pelas crias porque as criei ou recriei ao sabor de uma
consciência fugidia de náufrago calcorreando terra e deixando na areia húmida
pegadas e pegadas de passos em volta.
Guincho, Monte Clérigo, Meia Praia, Baleal, Ingrina,
Praia Pequena, Santa Cruz, Samouqueira. Dedicarei algumas palavras a cada uma
delas. Da primeira, a mais fotografada, quiçá a mais percorrida, não recordo o
primeiro momento da descoberta mas deve ter sido naqueles dias da infância
com o meu pai de ouvido colado à rádio para ouvir o relato, desatento às
minhas preces. Nos domingos de praia não trazia os apetrechos normais
dos baldes e das boias mas uma bola, apenas uma bola e a vontade de jogar
com o meu único cúmplice nem sempre disponível, compensava-me
quando íamos os dois pescar para as falésias escarpadas da ponta norte, ou apanhar mexilhões na neblina fria da manhã. Do Guincho guardo o azul mais marinho e encantatório, um azul que se me abria nos olhos e me fazia ver para dentro de tão intenso. O azul que tentei mil vezes reproduzir nas cores dos lápis e das tintas. O azul atlântico que me espera inalterável de todas as vezes que incauta entro no mar e sinto uma fraqueza de pernas, uma pequenez de arrojada, do mesmo ardor deste povo que só posso intuir, um dia arregaçou calças e se fez ao infinito.
quando íamos os dois pescar para as falésias escarpadas da ponta norte, ou apanhar mexilhões na neblina fria da manhã. Do Guincho guardo o azul mais marinho e encantatório, um azul que se me abria nos olhos e me fazia ver para dentro de tão intenso. O azul que tentei mil vezes reproduzir nas cores dos lápis e das tintas. O azul atlântico que me espera inalterável de todas as vezes que incauta entro no mar e sinto uma fraqueza de pernas, uma pequenez de arrojada, do mesmo ardor deste povo que só posso intuir, um dia arregaçou calças e se fez ao infinito.
2 comentários:
Ingrina :) gosto tanto
Magnolia:já somos duas mas não as únicas certamente!
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