Os intelectuais de esquerda e direita falam do povo, os de esquerda mais à esquerda em trabalhadores e condições de trabalho, falam sempre pelos outros e aquele que fala julga entender a situação dos outros e poder falar sobre ela. Ora, tirando a sequela gente do partido, a vida das pessoas não é colectiva nem há sentimentos colectivos genuínos. Falar indignado sobre as condições das pessoas não tem por isso a eficácia que devia ter, porque na verdade cada pessoa só confia em si e sabe, produto de vinte anos de cultivo entusiasmado de individualismo feroz, sabe, que só pode contar com ela. Hoje o que nos leva a acções colectivas é o nosso jardim , a nossa condição individual, não é o sentido de justiça nacional, nem o estado social, nem os pobres nem coisissima nenhuma. Quem nisso fala e grita pretende convencer-nos que se interessa e sabe mas de facto não sabe nem se interessa . Saímos à rua porque o emprego está ameaçado e a nossa vida também e é assim que tem de ser, é a nossa vida, a vida de cada um que interessa, e não venham cá com tretas demagógicas. Este individualismo é a génese da desconfiança nos políticos.
Imagem: fotograma do magnífico "The crowd" de King Vidor
Imagem: fotograma do magnífico "The crowd" de King Vidor
6 comentários:
Pois...fez-me pensar...e isso é bom. Mas na manifestação de 15 de Setembro havia muita gente com emprego "seguro"(se é que existe) que estava ali pelos filhos, pelos amigos, pelos familiares...não sei, havia qualquer coisa de diferente no ar.
~CC~
CCF: A manifestação de 15 de Setembro é exemplo desse novo espírito individualista. Não faço juízos de valor acerca do termo "individualista" penso é que há que viver com essa realidade e, com ela pensar.
Ainda acredito nas pessoas. Não é apenas o individualismo que comanda, muitas vezes é o genuíno desejo de uma sociedade mais justa, que até protege a liberdade individual.
Nada ( nem ninguém) é completamente bom nem absolutamente mau. Não é o teu amigo quem o diz? :).
mjc: acredito nas pessoas, não acredito é em discursos de quem fala sobre pessoas para servir os seus propósitos ideológicos, que são, a rigor, propósitos irrealistas e demagógicos.Quem será esse misterioso amigo que tal coisa diz?
é a alteridade é a alteridade :)
ou a falta dela, claro.
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