Um dia
sem saber
I
Um dia sem saber ela
encostou um pé à parede da casa e sentiu a espessura da cal.
Cuidado!
Mas não se mexeu também.
Paralisada.
E a espessura da cal era tão
grossa.
E tão grossa e espessa a
noite
Que lhe fugiu a voz na
garganta
E por socorro ou falta
dele estremeceu.
Quedou-se então no silêncio
agudo
E não abriu mais a boca
senão para bocejar ou comer
Durante todo o silêncio
Cada segundo
Ela o sentiu como silêncio
Como negação
Todo o silêncio é negação
Todo o silêncio é negação
Mas não foi feliz
nessa atitude
Tão pouco o poderia ser
Não morreu de velha nem de
nova
Pois o tempo espesso como
a cal da parede
Comeu-lhe a língua
o juízo
E o baço
o estômago ficou
Deixou-a feroz
Em poder dos elementos que
de todo o lado a feriam sem que ela lhes desse qualquer luta
Existiu essa mulher mas
ninguém soube.
Quando tudo morreu ficou
ainda a cal enegrecida
Restou a aparência de rua
O sol sem signo volteou no
ar
Não houve milagre algum
Nem sino
E, no entanto o tempo
daquela mulher era realmente verdadeiro
Realmente o tempo.
2 comentários:
!!!!!!
não percebeste, eu também não deixa estar. fala de uma mulher que se indignou e ficou muda. e que vivia dentro do tempo, minutos, segundos, no silêncio o tempo tem mesmo a dimensão da passagem, minutos segundos. etc etc etc.
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