sexta-feira, 26 de abril de 2013

pai

 


Ontem foi dia 25 de Abril. Comprei cravos vermelhos para pôr na campa do meu pai. As nuvens estavam altas no céu e mais calor do que o habitual em outros iguais dias de diferentes anos e, apesar de estarmos no lugar onde os mortos repousam,  era alegre a vista das flores e das campas brancas na tarde solarenga. Não precisei de muito esforço para me lembrar dele, sentado frente ao mar na praia D. Ana, do o seu ar absorto. Nove anos depois de nunca mais o ter visto, vejo-o com mais nitidez, era um homem nostálgico o meu pai, nostálgico do mar. Corto o pé aos cravos, encho a jarra de água, fico ali  um tempo, quanto tempo? Não o suficiente, pouco, muito pouco, lembro-me dos seus pés, parecidos com os meus, vem-me também insidioso o pensamento de uma queixa, queixo-me em silêncio de não me ter amado mais expressivamente e vou-me embora apressada e confundida com este encontro. Fica com os deuses pai. Parabéns.

3 comentários:

cs disse...

nove anos é um tempo igual ao meu e do meu pai. Muito? Pouco?

É o tempo uma das manifestações que pode gerar em nós das maiores inquietações.

CCF disse...

Há sempre tanto que fica por dizer, também sinto isso em relação ao meu (desaparecido há menos tempo).
~CC~

via disse...

cs: Não sei bem, por um lado pareçe uma eternidade por outro há pouco tempo. Mas que coincidência!

CCF: Não se soube dizer, se hoje se repetisse não se diria, possivelmente há coisas reservadas apenas ao pensamento e não para serem ditas.