Não sei por que me
enervam tanto as festas de Escola. aquela camaradagem de foca amestrada, aquela
vontadinha que todos têm de receber palmas e babar, aquela auto complacência da
união alegre e familiar, aquele embezerramento, cocktail de sucesso e
masturbação, nauseia-me ao ponto do vómito. Ao minuto cresce o ensejo de deixar
este ofício de prof e dedicar-me a uma marginalidade solitária e ensimesmada,
perfeita para segurar pelos cornos esta revolta antiga (tão antiga que nem teve
começo) pela sociedade arrumadinha e paroquial onde as festas de escola são a
cereja no topo do bolo.
Supremamente especial
para eu ignorar estes impulsos vitais era a minha sobrinha. A minha sobrinha
tinha-me pedido, e eu não era mulher para negar nada à minha sobrinha.
Tratava-se da primeira apresentação de um trabalho realizado durante o ano
lectivo. Chamava-se "O Bairro" era um filme de meia hora. Produto de
pequenas e deliciosas ideias, belo, enternecedor, meticuloso. Orgulhei-me dela,
muito, ainda tentei reconhecer paralelismos entre a sua veia artística e a minha, reter alguns louros do evento criativo, mas depressa abandonei a pretensão
por egoísta e destemperada. Ela, a sobrinha, era boa, tinha ideias, sabia
concretizá-las e andava numa escola que queria e estimava o seu talento. Apesar
do enjoo geral, tinha de reconhecer...etc etc e ainda reconhecer que das minhas
sobrinhas têm vindo as melhores aventuras etc etc.
A noite e os problemas
técnicos cresciam lado a lado na sala onde esperávamos com o rabo dorido a
chegada dos filmes. Estas festas de Escola não têm horas, um ror de problemas e
ninguém para os resolver fazem parte do seu "charme juvenil".Valeu a
noite ser grande e ambas nos encontrarmos perto da porta, mas só eu tinha Golden
Virginia no bornal.
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