Há bocados de minh'alma no disco gigante da feira. Parcelas de desejos brutos soltam-se do carrossel das girafas risonhas e não há dúvida que a mulher atrás da cortina de motivos egípcios, tem mesmo visões do futuro e sabe como viajar nas galáxias do tempo, inteira, pode emendar-te o destino cortando-te à faca outra linha na mão, sem verter pinga de sangue, com o poder dos olhares cicatrizantes. Atrás da grua que eleva ao céu gritos e mais gritos e bracitos no ar, há uma palha revolvida, às vezes acamada cama dos feirantes bêbados, dos trôpegos, dos encardidos ébrios pesados do sono da noite muito antiga onde querem estar mesmo de dia. Não vi mulheres barbadas nem a Moto da Morte, nem o Comboio Fantasma, nem Elefantes da Índia em jaulas apertadas, comi farturas, lambi os dedos. Entre empurrões pares dançantes deslizavam agarrados e suados sobre o chão poeirento, de olhos fechados para sentir um momento daquele gosto não deixei de continuar a sentir o gosto meu a vê-los dançar. Olhos abertos, a rapariga do palco em fato rosa cabelos louros roçava o corpo no cantor sólido de boca escancarada, os sons da guitarra e o calor das luzes afunilavam a noite, os homens pegavam com solenidade nas mãos das mulheres e conduziam-nas à pista de dança, em comando, o sexo deles e delas marcado pela vontade disfarçada de cair para dentro um do outro. Compreendo ou sinto ou vejo a festa prosseguindo, em cada minuto outro minuto desdobrando-se num pico e outro de luz, seria também bacante, juro, se não fosse tudo o resto.
domingo, 14 de julho de 2013
A festa
Há bocados de minh'alma no disco gigante da feira. Parcelas de desejos brutos soltam-se do carrossel das girafas risonhas e não há dúvida que a mulher atrás da cortina de motivos egípcios, tem mesmo visões do futuro e sabe como viajar nas galáxias do tempo, inteira, pode emendar-te o destino cortando-te à faca outra linha na mão, sem verter pinga de sangue, com o poder dos olhares cicatrizantes. Atrás da grua que eleva ao céu gritos e mais gritos e bracitos no ar, há uma palha revolvida, às vezes acamada cama dos feirantes bêbados, dos trôpegos, dos encardidos ébrios pesados do sono da noite muito antiga onde querem estar mesmo de dia. Não vi mulheres barbadas nem a Moto da Morte, nem o Comboio Fantasma, nem Elefantes da Índia em jaulas apertadas, comi farturas, lambi os dedos. Entre empurrões pares dançantes deslizavam agarrados e suados sobre o chão poeirento, de olhos fechados para sentir um momento daquele gosto não deixei de continuar a sentir o gosto meu a vê-los dançar. Olhos abertos, a rapariga do palco em fato rosa cabelos louros roçava o corpo no cantor sólido de boca escancarada, os sons da guitarra e o calor das luzes afunilavam a noite, os homens pegavam com solenidade nas mãos das mulheres e conduziam-nas à pista de dança, em comando, o sexo deles e delas marcado pela vontade disfarçada de cair para dentro um do outro. Compreendo ou sinto ou vejo a festa prosseguindo, em cada minuto outro minuto desdobrando-se num pico e outro de luz, seria também bacante, juro, se não fosse tudo o resto.
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2 comentários:
ou, apesar de tudo o resto?
lá está, gosto de a ler :)
cs: Obrigada, este resto é o mais que se poderia ser também, várias personagens.
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