BOAS FESTAS!!
Obviário
era uma recolha de momentos, ainda é
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
quarta-feira, 13 de julho de 2022
Digo-te do meu silêncio usual:
As gaivotas são as rainhas do dia
e daqui, apesar da geometria fechada dos prédios
abre-se uma visão de mar batido.
Perguntas-me porque exorto o mar aberto, as ondas
e os penhascos?
Respondo-te que exorto as gaivotas no seu grasnar
bicam-me de sortilégio a nuca adormecida
e intranquila
seguram-me ao paraíso
por breves momentos
em que julgo estar presente no despertar do mundo
de ser a primeira vez
mas não sei explicar
arrepia-se o ar nas falésias
o dia segura-se frágil absorto na neblina.
Quanto podemos abarcar com as palavras?
Se pudesses ouvi-las, agora
as gaivotas
se estivesses alongada
sobre este lento amanhecer
e te trouxessem (como a mim trazem)
todos os dias primeiros
que perdi
então
sentirias
não
possivelmente atiravas-te indolente
para a cama.
Este momento em que estou
sentada na cadeira de verga
do café Firmino
além prédios e por cima de tudo
a dor de estar aqui
a negação de estar
a vontade de outra coisa
que existe como vontade
de outra coisa
sem verbo ou propósito
senão atirar para debaixo de uma ponte sombria
de colchões sujos
a primeira frase
esta que agora escrevo
antecipando-me ao teu gesticular nevoento.
Quem és tu?
sou incapaz de te identificar
há lagos para passar
pontes destruídas
Quem és tu? Que me sobras
de ser reles medíocre imediatamente inútil.
Ao ouvido sussurras-me, Alioska
e dentro dos irmãos Karamazov
sorrio
não passa de hoje a ida ao psiquiatra
estas lentas deambulações
sobrecarregam a memória de microscópicos vírus
de embaciadas figurinhas atónitas.
Basta-me! Basta-me tu!
a noite
os semáforos do porto
a simetria arrojada das coisas colocadas
por cima e por baixo
por onde passo firmada no meu calcanhar aéreo
Tu bastas-me.
Por não te consumires perdida na existência
por seres essa emoção.
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
Sou responsável por este mundo
este que avistais aqui
de pé mas cambaleante
o mundo aligeirado da verdade
faz de conta
sangrando debaixo do telão.
Construi este mundo faz de conta
também
- sorris porque já foi escrito
o que acabo de escrever -
eco do eco reverberação
do mesmo chocalho.
Mas atenção deixo-me conduzir
com alguma resistência
altaneira, prevista
Normalmente dou sangue para a causa
apesar de toda a doença onde tropeço
me retirar esse direito.
terça-feira, 18 de agosto de 2020
Estado de espírito
É demasiado curta a linha que vai
da mais funda tristeza
à mais forte alegria.
Loiça somos
ocipitais
reflexos de ouro na água agitada
imersos no azul mais ocidental
das profundezas
cismados reativos antecipados
acontecemos a todo o momento
ou acontece-nos o ar
a onda o sol
acordar rei adormecer mendigo
domingo, 12 de julho de 2020
da praia de Carcavelos
eram sete horas da tarde
(aproximadamente)
o peito branco da Rita não cabia no sotien
ou seria bikini estreito e verde demasiado verde
ela nem mergulhou porque a praia era
surdina de carros na margem
mal havia crianças
e as que havia eram proíbidas pelos pais
de fazer cócó na areia.
Acho que vou entrar na vida
(outra vez)
como quem entra numa sala repleta
de pequenos criminosos desocupados.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.
Inspiras-me Pessoa
aludes sem me nomear
tenho em minha casa todos os livros
que escreveste um dia, há muitos anos atrás
quando eras um ser vivo que
falava e respirava e tomava o pequeno almoço
antes de ir para o trabalho.
Também gosto de pensar que eras tu,
(tu ainda a outra que me inspira)
quando acordava de noite
em chamas com o calor de Verão.
sábado, 11 de julho de 2020
quinta-feira, 30 de abril de 2020
Estado de alma 2
domingo, 12 de abril de 2020
Estado de alma 1
Não vejo notícias, também não quero explicar, inquietam-me as notícias, mortes e sofrimento , quando nas palavras ou nas imagens, ou ainda no não saber lento precedido de uma vacilação, todos estes infelizes momentos afastam-me, repudiam-me. Vejo comédias românticas. Il faut s'énivrer!, agradeço-te Baudelaire pela satisfação de uma carruagem a horas, uma abóbora que os meus olhos fechados nunca verão como tal, ver é não querer saber do que chamam bombardeio, a Pearl Harbour das notícias e da informação. A multiplicação de fontes de informação teve este trágico epílogo, já não o suportarmos mais. Queremos beleza sem mácula, arrepios de serenidade e o refúgio de bocados de céu azul entre prédios, mulheres belas como torres de Babel, sinuosas na leve colina por onde ocasionalmente passamos. Um vento intrérpido que faça soar as trompetas da nortada marítima! Atirem salpicos de água fria às rosetas do meu desejo e deixem-me ficar insane, se o julgarem assim, ou apenas uma froxidão alargada ao entretecer das narrativas do prazer.
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
pensamentos mortais
Esta semana iria começar pelo fim, a repentina consciência de que me restam 10 a 15 anos para viver. Nenhuma frase poderia alguma vez compreender em si a magnitude deste pensamento ubíquo; bem vinda, penso comigo, aos maus tratos do pensamento da morte, ainda nada aconteceu e já estou toda a morrer em mil bocados cada um em carne viva, atónita com a perplexidade desta súbita falta de chão. Gosto demais destas manhãs para não as poder ver mais.
Resolvo adormecer entre umas quantas figuras parentais,absorvo-me com a escuridão. Não é de todo impossível que possa criar uma qualquer forma de não morrer sem ser ao modo dos antigos que - procriavam - esta ainda assim é uma grande sorte - ao cabo de tudo o tempo escoar-se-á na demanda de um consolo de eternidade que será um bom pretexto para encher o peito de ar e adejar uma panache que me tire desta febre dos fenos mesquinha que é ter medo de nada fazer com o tempo que falta até morrer.
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
nestes últimos pedaços de calma
sábado, 7 de setembro de 2019
Daqui se segue que nada é mais susceptível de ser matéria de crença que o que conhecemos menos , nem pessoas mais seguras do que aquelas que nos contam fábulas, como alquimistas, videntes, quiromantes,médicos etc. Aos quais acrescentarei, interpretes e controladores ordinários dos desejos divinos, fazendo fé em encontrar a causa de cada acidente e em ver nos segredos da vontade divina, os motivos incompreensíveis das suas obras; e apesar da discordância sistemática dos acontecimentos os rejeitar de uma ponta à outra.
sexta-feira, 29 de março de 2019
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
na cidade
troncos em technicolor
os pedaços de betão carcomidos de humidade e risonho
( julgo risonhos) chilreados avisam-me sem tino de um apocalipse eminente.
das que atrapalham.
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
Desobediência
Absolutamente. Inesquecível. Finalmente um filme sobre o amor entre mulheres que não é cabotino, nem voyerista nem panfletário. É autêntico, vibrante, imprevisível e ao serviço de uma narrativa poderosa. Tem o seu suporte e a sua força num trabalho de actores excessivo, belo, de uma intensidade emocionante, isto é... CINEMA.