Não alinho
em extremismos, em actos violentos de consequências imprevisíveis e
irremediáveis, parte do mal do mundo deve-se a extremismos. A sensação de
que se está encurralado e não há saída pode empurrar-nos para actos extremistas, parece ser a única saída para quem está desesperado. Não me lembro de nada parecido me ter algum dia acontecido. Quando se fecha uma porta descubro sempre uma janela e
quando se fecha a janela descubro uma escada e se a escada leva a uma parede
sento-me a pensar e a imaginação tem barro suficiente para, mesmo no escuro,
moldar um sol, uns pássaros, uma frase absoluta, um sorriso inesperado. Renasce
aí, como do nada, um inebriamento, um deslizamento do betão e uma outra
planície se abre. Acredito haver vidas difíceis que conduzam ao desespero e daí
a actos extremistas, mas não acredito que seja uma relação de causa/efeito, tão
pouco uma relação directa. Podemos imaginar muitas vidas fáceis (isto é, vidas
onde está assegurado o que é básico para uma boa vida, amigos, dinheiro, amor)
com desespero. A dificuldade da vida não conduz necessariamente ao desespero, há uma certa
disposição enraizada porventura numa certa forma de olhar para o que nos
acontece, forma essa que negligencia um aspecto importante, o sonho. Sonhar não
é um verbo para fracos e escapistas, ou uma categoria parva de
auto-convencimento por quimeras, mas uma forma lúcida de compreender os saltos
e a diversidade no modo de ver. Daí que não sei se podemos ensinar a sonhar,
mas é sem dúvida importante tentar. A memória e a imaginação são instrumentos
mas o resto é arte.
2 comentários:
Eis o mais importante mas é difícil ensinar alguém a fazê-lo.
Conheço e vivo com pessoas sem sonhos, custa-me percebê-las, é talvez o elemento que mais me distancia mesmo quando quero ficar próxima.
~CC~
CCF: As pessoas sem sonhos são comuns e agarram-se às canelas, são de enxotar ou ter pena. depende.
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