Dublin. Lisboa. um espetáculo de teatro
com tema forte, associação imediata com o ambiente de Trainspotting, filme de
96. A dependência das drogas, a experiência da toxicodependência como
vulgarmente se chama e foi manchete de jornais sobretudo nos anos 80/90 mas hoje é assunto quase desaparecido das notícias. Não fora a morte de
um ou outro ator americano e o problema estava diluído ou esquecido
arrebanhado pelo horror vacuis
da crise, espécie de emplastro ou parasita que nos comeu a
língua.
Quando vejo estes trabalhos da nova geração tenho a impressão que
o teatro português está morto e assassinado, nós portugueses ainda estamos no teatro texto e
mais texto, dizer para dizer, autores and so on, muita mensagem, muita seriedade e pomposidade, a verdadeira
experimentação e criação com as palavras, os corpos, os sons e os temas que
corporizam o presente parece arredada.
Neste espetáculo temos um palco mal amanhado, sem pretensões, vai-se construindo com bocados, bocado fala, bocado música, bocado movimento, atabalhoado, forte, impreciso. Poucos meios, imaginação e atores soltos, em
improviso e gozo, sem pose, com vontade e raiva. O resultado é
inquietante, apontamentos ocasionais cruzam-se com repetições à exaustão, como
se aquilo que se quer dizer não se sabe, ou não há uma forma linear de o fazer,
enreda-se, apaga-se, retoma, como uma vela a consumir a cera e em risco de
apagar pelo vento, destruição, impotência, nunca acaba,
não tem princípio, não tem epílogo, é mais uma batalha extenuante de onde
não se sai e da qual nada se ganha.
2 comentários:
É isso mesmo. São poucos os grupos que fazem experimentação, que, como gosto de dizer - pensam com o corpo todo.
De vez em quando vou à Guilherme Cossoul ver A Mandrágora , um exemplo do que é aliar a estética do discurso `a da voz , do movimento, da luz , da música.
Da próxima vez, aviso.
joana padrel: Ok. alternativas criativas e despretensiosas precisam-se com urgência.
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