quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

 BOAS FESTAS!!



A frase principal é que há filhas que gostam das mães mas pouco, poucochinho, o trivial para a foto e para não alimentar problemas de culpa. Acho que a minha mãe sempre foi uma egoísta que nunca me ligou nem se interessou pelo que eu fazia ou deixava de fazer, a resposta da adolescente é a mais conforme ao que se passa, quero ir embora, quero ir para longe. Sempre a fazer de conta que não via, a cama no chão onde dormia com a Cris, era a única cama. O meu pai viu e disse com raiva tu dormes com ela, não é? E este ressentimento não vem da minha mãe não, vem de mim que não fui suficientemente forte para me impor, só aos cinquenta. Olha esta é a minha namorada. Para acabar com a fantochada do faz de conta.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

 Digo-te do meu silêncio usual:

As gaivotas são as rainhas do dia

e daqui, apesar da geometria fechada dos prédios

abre-se uma visão de mar batido.

Perguntas-me porque exorto o mar aberto, as ondas

e os penhascos?

Respondo-te que exorto as gaivotas no seu grasnar

bicam-me de sortilégio a nuca adormecida

e intranquila

seguram-me ao paraíso

por breves momentos

em que julgo estar presente no despertar do mundo

de ser a primeira vez

mas não sei explicar

arrepia-se o ar nas falésias 

o dia segura-se frágil absorto na neblina.

Quanto podemos abarcar com as palavras?

Se pudesses ouvi-las, agora

as gaivotas

se estivesses alongada

sobre este lento amanhecer

e te trouxessem (como a mim trazem)

todos os dias primeiros

que perdi

então

sentirias

não

possivelmente atiravas-te indolente 

para a cama.

 Este momento em que estou 

sentada na cadeira de verga

do café Firmino

além prédios e por cima de tudo

 a dor de estar aqui

a negação de estar

a vontade de outra coisa

que existe como vontade

de outra coisa

sem verbo ou propósito

senão atirar para debaixo de uma ponte sombria

de colchões sujos

a primeira frase

esta que agora escrevo

antecipando-me ao teu gesticular nevoento.

Quem és tu?

sou incapaz de te identificar

há lagos para passar

pontes destruídas

Quem és tu? Que me sobras

de ser reles medíocre imediatamente inútil.

Ao ouvido sussurras-me, Alioska

e dentro dos irmãos Karamazov

sorrio

não passa de hoje a ida ao psiquiatra

estas lentas deambulações

sobrecarregam a memória de microscópicos vírus

de embaciadas figurinhas atónitas.

Basta-me! Basta-me tu!

a noite 

os semáforos do porto

a simetria arrojada das coisas colocadas

por cima e por baixo

por onde passo firmada no meu calcanhar aéreo

Tu bastas-me.

Por não te consumires perdida na existência

por seres essa emoção.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020


 

 

 

 

 

 

 

 

Sou responsável por este mundo

este que avistais aqui

de pé mas cambaleante

o mundo aligeirado da verdade

faz de conta

sangrando debaixo do telão.

Construi este mundo faz de conta

também

- sorris porque já foi escrito

o que acabo de escrever -

eco do eco reverberação 

do mesmo chocalho.

Mas atenção deixo-me conduzir 

com alguma resistência

altaneira, prevista

Normalmente dou sangue para a causa

apesar de toda a doença onde tropeço

me retirar esse direito.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Estado de espírito

 

 


 

É demasiado curta a linha que vai

da mais funda tristeza

à mais forte alegria.

Loiça somos

ocipitais

reflexos de ouro na água agitada

 imersos no azul mais ocidental

das profundezas

cismados reativos antecipados

acontecemos a todo o momento

ou acontece-nos o ar

a onda o sol

acordar rei adormecer mendigo

domingo, 12 de julho de 2020

Hoje mergulhei na água baça e muito salgada
da praia de Carcavelos
eram sete horas da tarde
(aproximadamente)
o peito branco da Rita não cabia no sotien
ou seria bikini estreito e verde demasiado verde
ela nem mergulhou porque a praia era
surdina de carros na margem
mal havia crianças
e as que havia eram proíbidas pelos pais
de fazer cócó na areia.
Acho que vou entrar na vida
(outra vez)
como quem entra numa sala repleta
de pequenos criminosos desocupados.
A propósito do poema de Fernando Pessoa que saiu este ano no exame de Português, 12ºAno...

Sofro, Lídia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
        Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
        Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
        No anoitecer.

Inspiras-me Pessoa
aludes sem me nomear
tenho em minha casa todos os livros
que escreveste um dia, há muitos anos atrás
quando eras um ser vivo que
falava e respirava e tomava o pequeno almoço
antes de ir para o trabalho.
Também gosto de pensar que eras tu,
(tu ainda a outra que me inspira)
quando acordava de noite
em chamas com o calor de Verão.

sábado, 11 de julho de 2020

Gotas de absinto vermute e gin
Áleas desertas
Estátuas de pés grandes
o eu solitário e decrépito
que volta a si próprio
nas horas concretas.

Tão filho pródigo o desejo
entra na respiração, reproduz-se
destrói a passagem onde se deita
boa intenção arvoredo
inaugura por mim
a cura e o incêndio.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Estado de alma 2

















Podes contar com a tua psicologia
e com balões murchos no final da festa.
Entre coisas vãs ser-te-á prazenteiro
pontapear os dois para onde fugia
a lembrança e até afagar a lesta
imagem de um corpo parado num outeiro
verdejante de possibilidades nunca satisfeitas.
Sim, a tudo podes dar forma esguia
do desejo que erigiste antes das contas feitas.
Tomar posse de rainha perdida nas algas
e respirar de novo com a nudez do novo dia.

domingo, 12 de abril de 2020

Estado de alma 1

 Susan Meiseles

Não vejo notícias, também não quero explicar, inquietam-me as notícias, mortes e sofrimento , quando nas palavras ou nas imagens, ou ainda no não saber lento precedido de uma vacilação, todos estes infelizes momentos afastam-me, repudiam-me. Vejo comédias românticas. Il faut s'énivrer!, agradeço-te Baudelaire pela satisfação de uma carruagem a horas, uma abóbora que os meus olhos fechados nunca verão como tal, ver é não querer saber do que chamam bombardeio, a Pearl Harbour das notícias e da informação. A multiplicação de fontes de informação teve este trágico epílogo, já não o suportarmos mais. Queremos beleza sem mácula, arrepios de serenidade e o refúgio de bocados de céu azul entre prédios, mulheres belas como torres de Babel, sinuosas na leve colina por onde ocasionalmente passamos. Um vento intrérpido que faça soar as trompetas da nortada marítima! Atirem salpicos de água fria às rosetas do meu desejo e deixem-me ficar insane, se o julgarem assim, ou apenas uma froxidão alargada ao entretecer das narrativas do prazer.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

pensamentos mortais





Esta semana iria começar pelo fim, a repentina consciência de que me restam 10 a 15 anos para viver. Nenhuma frase poderia alguma vez compreender em si a magnitude deste pensamento ubíquo; bem vinda, penso comigo, aos maus tratos do pensamento da morte, ainda nada aconteceu e já estou toda a morrer em mil bocados cada um em carne viva, atónita com a perplexidade desta súbita falta de chão. Gosto demais destas manhãs para não as poder ver mais.


Resolvo adormecer entre umas quantas figuras parentais,absorvo-me com a escuridão. Não é de todo impossível que possa criar uma qualquer forma de não morrer sem ser ao modo dos antigos que - procriavam - esta ainda assim é uma grande sorte - ao cabo de tudo o tempo escoar-se-á na demanda de um consolo de eternidade que será um bom pretexto para encher o peito de ar e adejar uma panache que me tire desta febre dos fenos mesquinha que é ter medo de nada fazer com o tempo que falta até morrer.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019


Se existem Primaveras que se desvendem agora
Abram-se os sexos escondidos aos cantos
Respira-se o calor louco dos corpos a roçarem-se
O suor seco da irmã de caridade
Teimosamente virgem
Teimosamente virgem e fria
Crente
Creio em ti madrugada quente de estrelas
Creio no teu mel tristemente amargo
Creio naquele desespero deixado a uma esquina
Na chuva daquela tarde semeada
A tremer subindo por mim adentro.
Creio
No sabor simples e frágil dos teus lábios
Na tua doce decisão
No fresco balanço dos teus cabelos.
Creio enfim
nestes últimos pedaços de calma
Os últimos, os mais suaves
Os que tranquilos me deixam
Afastada da tua imagem.

sábado, 7 de setembro de 2019

O verdadeiro campo e matéria  de impostura são as coisas desconhecidas. Apesar de num primeiro contacto a esquisitisse por si ser digna de crédito; como diz Platão  é melhor falar da natureza dos Deuses que da natureza dos homens , porque a ignorância do publico possibilita uma bela e vasta carreira, e toda a liberdade sobre uma matéria escondida.

Daqui se segue que nada é mais susceptível de ser matéria de crença  que o que conhecemos menos , nem pessoas mais seguras do que aquelas que nos contam fábulas, como alquimistas, videntes, quiromantes,médicos etc. Aos quais acrescentarei, interpretes e controladores ordinários dos desejos divinos, fazendo fé em encontrar a causa de cada acidente e em ver nos segredos da vontade divina, os motivos incompreensíveis das suas obras; e apesar da discordância sistemática dos acontecimentos os rejeitar de uma ponta à outra.

sexta-feira, 29 de março de 2019

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

na cidade

os meus sentidos captam derrocadas
coisas ausentes tornam contrariadas
troncos em technicolor
arremedam na minha direção
com seus olhos de cachalote pardo de bruto peso
gritam para  abandonar a estrada onde parei
cativa de um pensamento retorcido e esbracejante
medo de ser, de ter esquecido, de não ter pensado
de me trair quase sempre.
modos de circuncisar as minhas ousadias
são-me estranhos e familiares
quando dou passos na cidade, os pássaros digladiam
em ângulos retos com os semáforos são oráculos
os pedaços de betão carcomidos de humidade e risonho
( julgo risonhos) chilreados avisam-me sem tino de um apocalipse eminente.
Assim dou conta de que a vida me expulsa
para o canto das coisas sem serventia,
das que atrapalham.
Comboios a alta velocidade apitam
quando verso a verso descarrila
o não sentido de um organismo lento
numa cesariana às escuras

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Desobediência





Absolutamente. Inesquecível. Finalmente um filme sobre o amor entre mulheres que não é cabotino, nem voyerista nem panfletário. É autêntico, vibrante, imprevisível e ao serviço de uma narrativa poderosa. Tem o seu suporte e a sua força num trabalho de actores excessivo, belo, de uma intensidade emocionante, isto é... CINEMA.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

domingo, 24 de dezembro de 2017

Giotto, Nascimento de Cristo

Um Bom Natal para todos os que por aqui passam!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Por agora, o mundo é um palco



"Todo o mundo é um palco" apresentou-se no Trindade para comemorar o seu aniversário, num teatro agora arranjado no centro, cada vez mais apressado e turístico, da cidade. Trata-se de um conceito de Teatro que assenta na história das pessoas, sem textos previamente preparados  e sem atores profissionais,tem apenas um ator profissional e um bailarino. Improvisa-se sobre as histórias de cada uma das 19 pessoas que ali estão em cima do palco, com os seus sapatos de todos os dias e a sua Tshirt amarrotada. São pessoas sírias, argelinas , da Alemanha, do Bangladesh, da França, de Angola, de S. Tomé, da Suécia, filhos já de outros emigrantes que se cruzaram com pessoas de outras nacionalidades, perdidos ou encontrados num jogo de tradução que ao invés de os separar, delineia a comunidade e a proximidade que os une. Esse efeito surge da presença de diferentes línguas numa tradução feita do encontro entre o que fala e o que traduz,  como se um e outro estivessem ambos à espera que os traduzissem, isto é, que lessem em si o que está muito para além das palavras. A noite fria desapareceu lá longe, o olhar incendiou-se, pois assim seja, que viva o Teatro!