quarta-feira, 30 de março de 2011

Ângelo de Sousa e as histerias bancárias

nesta altura precisamente, em que há no éter, uma perigosa e derrapante opacidade discursiva, das taxas de juro, e da dívida pública, negócios que ao português médio como eu, têm o significado duma atoarda de gafanhotos bêbados, isto é, passo a explicar, uma espécie de bombardeamento à toa de cuspo, que por mais realista que possa ser é, ainda um total e desbocado "non sense", a não ser o de sermos culpados de mau olhado cuja solução não está ao nosso alcance mas numa autoridade diabólica apostada em nos fazer ver como pecámos e como é insustentável o nosso pequeno viver, espalhando o espectro, até ao limite do filme de terror, sem figuras maléficas, com pézinhos numéricos. Taxas e taxas e taxas, descabeladas, agrupam-se à nossa frente como teclas de um piano desafinado. QUAL O PROPÓSITO, PERGUNTO EU? Depois olho para os quadros do Ângelo de Sousa e sorrio, passa o esconjuro, volta-se a respirar, há melros e cotovias, luz e sombra, pessoas e essas coisas de que a vida é feita, voltam a ganhar os seus devidos contornos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

dia mundial do teatro

Este ano no dia mundial do teatro assisti à procissão do Senhor dos Passos. não será o mesmo, num certo sentido, no propósito são bem diferentes, mas podem ambos ser apreciados esteticamente, é o que faço, o andor com a figura do Cristo curvado sob o jugo da cruz, de manto roxo, os espinhos cravados, o fio de sangue na testa e nas fontes, depois o discurso da expiação, o sofrimento, no altifalante do carro Deus ajuda-nos a suportar a dor, porque sofreu e pelo sofrimento salvou-se, e salvou-nos, fará sentido, o teatro salva-nos pela arte de nos fazer rir ou chorar, mas é humano, e ali também o humano ganhou a palma ao espiritual. a minha mãe apertou-me o braço comovida quando o andor passou por ela e vi os seus olhos marejados de lágrimas,a verdade é que me emocionei terrivelmente com a emoção dela e assim ficámos as duas num momento de êxtase e beatitude, como se de repente tivessem aberto uma longa avenida onde antes só havia ortigas e mato.


sábado, 26 de março de 2011


assistimos na vida política a passes de ballet que só convencem quem andou a dormir. suspensão da avaliação de professores? agora? depois de várias vezes terem chumbado propostas semelhantes dos outros partidos quando não lhes convinha? mas onde é que está a seriedade das ideias? hein? o governo caiu por causa do PEC e agora, quem o chumbou, vai de novo pegar nele com muito jeitinho, ou não? então para que caiu o governo? precisavamos de um bode expiatório, alguém que levasse umas bolachadas, para compensar... e agora? alguns meses e alguns milhões de euros depois, teremos mais do mesmo, portanto, mas pior, porque é governo saído de traições e golpes de cintura. rasteiras baixas, oportunismos, partidarite em fase aguda, já com infecção grave.
a política é nobre, muitos que nela andam são nobres, não duvido, mas há uma face circo, a começar na presidência da República, depois de toda a dignidade ofendida, vai incentivar a "indignação jovem", ressentido com o que fizeram há uns anitos ao santana, quer experimentar o mesmo frisson.
Ai que saudades do Batman!!

quinta-feira, 24 de março de 2011

A Taylor is dead

Era miúda, e a minha mãe já me falava dela, da mulher dos olhos violeta, depois cresci, e não percebia no Tchnicolor da Cléopatra se eram de facto violeta, os olhos, ainda hoje não consigo descortinar, a minha mãe dizia que eram únicos e esse mistério ficou. Vi muitos filmes, mas não me encantava a sua voz de falsete, a sua figura abonecada, nem na meia idade do "Quem tem medo de Virginia Wolff" , me rendi ao seu talento de actriz, mas os olhos, sim. os olhos, e aquele cinema todo que ela atravessou, o Tenesse Williams, o acidente do Montgomery Clift, antes magnífico, depois tolhido pelas cicatrizes, esse cinema de grandes dramas psicológicos e de não menos grandes dramas na vida real em que tela e vida se misturavam numa só representação. O actor/personagem trazia o poder de alimentar os sonhos e de os consubstanciar com o que tinham de magnífico e trágico. agora, compreendemos melhor que essa dimensão se apagou.

segunda-feira, 21 de março de 2011

hoje é dia de efemérides várias. assinaláveis no presente na proporção directa com que no presente são repetidamente esquecidas ou negligenciadas. acordamos para as efemérides cheios de vontade de acordar mas repetimos, como alguém a pensar subir escadas e na realidade a jogar com um degrau, brincadeira de miúdos pulando à vez com um pé ou outro no mesmo sítio. dá-nos a segurança das referências e mais um bocadinho do mesmo. hoje, a propósito ainda da efeméride do dia mundial da mulher uma deputada do PC levada à Escola para falar aos alunos da dita emancipação da mulher, invectivava-os com a luta pelos seus direitos, têm direito ao ensino gratuito, pagar 30 euros por ano de propinas é um roubo, a taxa moderadora nos hospitais é um roubo, têm direito a saúde gratuita, têm direito a uma sala para associativismo, em muitas Escolas não existem...falamos de quê?? de um discurso estagnado há 35 anos que se vale do descontentamento actual para lançar a gritaria e a divisão. estes direitos estão todos assegurados no presente, o que não me parece assegurado são os deveres que cada um tem perante esses direitos. estudam os alunos esforçadamente para melhorar o futuro com mais conhecimentos? São respeitadores de horários? discutem ideias políticas para melhorar o estado de coisas? as utopias do pc encontraram agora terreno fértil, como qualquer ideologia messiânica achar-lhes-ia graça se não escondessem o mais sinuoso e oportunista objectivo.

sábado, 19 de março de 2011


Quando leio "A voz humana" do Cocteau fico sempre encalhada nas reticências, elas são o que interessa, o que se queria dizer de facto e não se diz, o subtexto, mudo, o submundo emocional, desregrado e obsessivo. quando o discurso é o que nos resta, sabemos que o resto está perdido para o mundo, ficará, aprisionado, dormente, com a chancela de incapaz. Doravante estará condenado a deixar o tempo consumir, pois se o presente o dispensa, o futuro já não o poderá ouvir.

segunda-feira, 14 de março de 2011



Para melhorares depressinha porque mesmo que não possamos ver este, prometo-te, vamos ver o próximo!

quarta-feira, 9 de março de 2011

destroce!!

A geração à rasca que vai a protestos no dia 12 de Março, com a protecção do saudoso PCP, é a mesma que ajavarda o festival da canção com gritaria e linguagem de Cais-do-sodré, a mesma que dá 6o euros para ouvir os Coldplay. Estes que falam em "povão", entopem de carros os parques de estacionamento das faculdades, porque vão de pó-pó para a escola e são muito ruidosos lá em Andorra quando vão pra férias na neve e ainda mais ruidosos na fumaçeira da Zambujeira. Vou dar-lhes um conselho amigo: comprem menos maconha, vão de transportes e aprendam a falar, sempre há dicionários, ora bem!!! eu sei que é tudo malta porreira, mas já agora, deixo um desabafo, e se fossem vergar a mola!? hein? a expressão é forte?? bolir!! dar o corpo ao manifesto!! mexer a bunda...não?! não é nada pessoal, é só a reacção a falar, as forças da reacção, quero dizer, neste caso eu, já agora se me permitem, sou uma força da reacção, reajo assim, camaradas.

sábado, 5 de março de 2011


A GRELHA E O GRELHADO

Agora também os professores, mas a obsessão está mesmo generalizada, falo da exigência de ter objectivos para todas as actividades, como se, sem eles, nos sentíssemos perdidos, inúteis, incompetentes. para cada assunto, tema, tarefa, há outros tantos temas, assuntos ou tarefas a atingir com aqueles, numa espécie de escala onde são estabelecidas formas de atingir e formas de aferir a sua obtenção. Dá-se-lhe depois um nome: monitorização. o seu suporte: a grelha. tudo, de preferência, é monitorizável e a ideia é a de que falta sempre qualquer coisa para monitorizar. A actividade é insone.Quantas vezes levou o aluno o lápis à boca? quantas fichas foram bem aceites? que objectivo monitorizavam? A urbe, a cultura, a aprendizagem são como a criação suína.quantos e quanto tempo levam a engordar? quais as condições ideais para a engorda rápida e com menor custo? testaremos esta e esta, até ao resultado ser optimizado.
Estarão as Escolas melhores com tanto controle? Estarão os alunos mais educados, sábios e capazes? Não, não estamos mais capazes, mais espertos, mais sábios, não, só estamos mais medidos, mais controlados, e mais paranóicos do controle. cada um com a sua grelha de sucesso.cada um com a sua escala, feita por peritos em escalas que são por cada escala pagos. Se não fosse actividade maníaca era só enjoativa. nem vou explicar porquê, é alarve a explicação, isto é, fede. e as escalas das comidas? as calorias? monitorizemos o que comemos. e o sexo? quantas vezes? qual a melhor posição? o que é preciso para atingir o orgasmo?Venha daí a loiça das Caldas, chamemos o Bordalo, invoco a Invenção do Amor. Posso?


mas antes, porque o registo é assaz diferente, respiremos fundo, façamos uma pequeno esquecimento voluntário como se nada do que se escreveu antes fosse realmente importante e, não é.miudezas.


Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções paras os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as suas consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas