domingo, 24 de dezembro de 2017

Giotto, Nascimento de Cristo

Um Bom Natal para todos os que por aqui passam!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Por agora, o mundo é um palco



"Todo o mundo é um palco" apresentou-se no Trindade para comemorar o seu aniversário, num teatro agora arranjado no centro, cada vez mais apressado e turístico, da cidade. Trata-se de um conceito de Teatro que assenta na história das pessoas, sem textos previamente preparados  e sem atores profissionais,tem apenas um ator profissional e um bailarino. Improvisa-se sobre as histórias de cada uma das 19 pessoas que ali estão em cima do palco, com os seus sapatos de todos os dias e a sua Tshirt amarrotada. São pessoas sírias, argelinas , da Alemanha, do Bangladesh, da França, de Angola, de S. Tomé, da Suécia, filhos já de outros emigrantes que se cruzaram com pessoas de outras nacionalidades, perdidos ou encontrados num jogo de tradução que ao invés de os separar, delineia a comunidade e a proximidade que os une. Esse efeito surge da presença de diferentes línguas numa tradução feita do encontro entre o que fala e o que traduz,  como se um e outro estivessem ambos à espera que os traduzissem, isto é, que lessem em si o que está muito para além das palavras. A noite fria desapareceu lá longe, o olhar incendiou-se, pois assim seja, que viva o Teatro!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

quarta-feira, 15 de novembro de 2017





e estamos no Outono, a estação das folhas caídas e amarelecidas tão a gosto dos poetas, tão a gosto daquela melancolia baça que nos põe no promontório, sós, engelhados e confusos. Tudo isto a propósito da minha mãe, que deixou duas pequenas maçãs na cesta e as observou a ficar mirradas do tempo; Mãe, não come as maçãs? Posso pôr no lixo? Não, quero olhar todos os dias para o retrato da minha pele, para não me esquecer que fiquei assim também, sem me dar conta.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

domingo, 1 de outubro de 2017

Regresso a Montauk


Montauk é uma praia numa espécie de cabo-ínsula perto de Nova Yorque, tem ondas fortes e batidas pelo vento, areias desertas e esquecidas da população absorta da city. Montauk é o local perfeito na imaginação, quando sonhamos reiventar relações do passado, voltar aos sentimentos fortes e arrebatadores, apostar na reinvenção perfeita de um sonho de amor antigo. Tem claridadade e espaço, beleza e tristeza suficientes, por si só, para invocar os nossos fantasmas mais queridos, os nossos "poderia ter sido", as nossas mais perfeitas imagens e anseios. Durante longos e duros anos são só isso: anseios mentais; fruto do produto mágico de sofrimento e sonho que amiúde vão sombreando de beleza  o que ressoa apenas como o absurdo dos dias. Adormecem a atmosfera pesada do tempo sólido e linear que é, demasiadas vezes, insuportável. Montauk, o filme de Schlöndorf fala sobre esta forma de amor de uma forma crua, sem arremedos de compaixão, e sem vacilar. A beleza desabrida da paixão, a gloriosa paixão, apesar de tudo, apesar de nada - não há que gastá-la com comparações ajuízadas -seja o que for o mergulho no  "poderia ter sido" e que não foi, é uma parte considerável do que nos vai suportanto em linhas de bordado incandescente sobre as cavernas que vamos laboriosamente montando sem dar conta.

sexta-feira, 14 de julho de 2017





A vertente narrativa dos teus versos
desemboca no indecifrável
quadrado
mas é poroso o espaço textil 
do pensamento.
Não é que fosse a primeira vez
mas era sempre nova
a sequência nauseante
tu, espaço, eu, espaço
multiplicado pela distãncia
da hipotenusa do nós
figuras boquiabertas
avançando à velocidade da luz.

Não te largo assim e nunca te largarei
 sendo que te levo comigo para onde não quiser
para onde tu disseres.









domingo, 9 de julho de 2017

Rumor e alvoradas do Raoul Collectif


Festival de Almada, fui à cause du jornal, grande e sugestivo artigo no Público, seriam  desconhecidos, não fora o título - Rumeur et petits jours  convocar imagens simpáticas. Num mundo que se autódestrói resta-nos o teatro e a poesia para não nos destruirmos com ele...podia tê-lo dito eu, num bom momento, mas não...foram eles. São putos, juntaram-se, criaram este trabalho cheio de metáforas e imprecisões delirantes, descontrução da linguagem, esvaziamento da lógica para deixar brotar as associações livres e convocar imagens fortes da infância, ou não, apenas fortes de inesperadas.Ionesco não anda longe, porque será que vamos sempre buscar ao que aprendemos? De repente falam de Henri Michaux, seria belga ou francês? Eles belgas, ironizando com a mania dos franceses considerarem tudo o que é escrito em francês como francês...boo. O espectáculo, ao ar livre na noite fria de Almada aguentou-se incólume na mensagem, sem a ocultar e sem ser escravo dela, aí, no sítio de todos os possíveis, espaço de liberdade onde nada se forma em definitivo mas se esboça para se desmanchar em seguida deixando um rasto de poeira e deserto onde vacas e cavalos enxotam as moscas. Afinal há alternativa, há sempre alternativa, et voila!!

domingo, 18 de junho de 2017

Alheia


Aproxima-se
Vinda da lonjura turva

a turva sensação da página fixa
Trivial esconjura de medos
fosco desenho
verde folha suja
alheia e sem voz diria
quando já alheios vagueiam os cotovelos
e nos configuram as traças
numa luta perdida.

Pudesse
se nada enfim ou a tarde
a figura do tempo desviasse
mas é no meio que estou
num véu onde o corso da usura desbastou
o que houvera de meu em fragmento
sem memória ficasse
no inferno de doidos
os segredos desfizesse
e sem fim continuasse.

domingo, 16 de abril de 2017

Cinema: "Aquarius" e "O que está para vir"

Na vida das protagonistas destes filmes há um rio por onde a sua atenção vai, absorta, uma atenção amorosa que não desenboca necessariamente num outro, mas nos livros,  nas "artes" da Filosofia e da Música, (por mais controverso que
possa ser chamar de Arte à Filosofia).  Há nelas uma atemporalidade que se dilui sobre as crispações do tempo histórico, colorindo-o e, quiça de forma muito ténue, negando-o. Dois realizadores, Kleber Mendonça Filho e Mia Hansen-Levi à procura dessa linha ténue entre indivíduo e coletivo, ponto de con/di vergência, onde se delineia uma época. O alheamento da arte face aos gritos da era técnica, volátil, rápida mas incontornável . França, e Brasil, 2016,  duas actrizes muito diferentes, Isabelle Humpert e Sónia Braga dão expressão a uma resistência vã, face à irresistível mutabilidade de todas as coisas. Trata-se de resistência, não  de combate, mão no ar, "soutien" no fogareiro, mas outro tipo de resistência a um tempo usurpador e consumista, onde o que era revolucionário passou a ser tradicional. O tempo  presente não é necessariamente o "mau da fita", como era "o bom" nos anos 60. É esta visão destes dois tempos olhando-se nos olhos, passado e presente que torna estes dois filmes irmãos numa clara advertência à necessidade de um novo combate sem o qual nenhum dos direitos  individuais está garantido.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

corrigindo a lente

Gruyaert, Rua de Londres

Falo-te no acervo por catalogar do meu pensamento

Ainda dormes embora não saibas, tens um fraco por mim

Na mesma idade, hoje e instante miliiiiiiiiiiii

Stancato, abriram-se as portas enquanto alguma coisa

Do domínio do solilóquio acontece

Aqui dá-me gozo abrir portas imaginárias onde ali

Exatamente na rua abaixo não consigo.

Falo-te devagar ainda soletro ouves

Submeto-me pois roga a praga do torcido rabo do demónio

Que ainda vou a tempo da genuflexão

Pois sou assim destapada a molhar o bico

Na tua imaginada cama onde nem sabes se dormes

E vai o mundo a girar e o que queremos ouvir mata o que

Se dá a ouvir e a ver quando

Aterramos num tempo sem hastes

moles  cus de alcatrão

sonhando esferas de algodão doce

para e como desperta a primavera


1890, Alemanha, Wedekind. O despertar da sexualidade, Teatro Praga, Lisboa 2017. Encenação do despertar da sexualidade, ou despertar da Primavera, em registo de farsa, mas distanciada, quase em estilo negligente. Raro assume contornos de coisa de gente infantil, com desejos infantis e formas de pensar infantis, se misturarmos com sexo, fica assim um balbuciar trágico onde estão lado a lado as fantasias de chucha e de morte.
Do que gostei...declaro a minha surpresa, não perante o texto, mas perante o modo como é lido o texto, pela companhia, um sonho enfrascado em cuspo, pode-se divagar com a sumptuosa atmosfera dos seus altos e baixos, linguagem difícil e cheia de formalismos que por ser árida, pede palavrões para desanuviar, bem entendido, trágico e cómico na era do telemóvel, será isto.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

LA LA LAND


Romântico até ao fim. Este é um filme que trata com delicadeza as nossas fantasias. Não nos deixa cair logo, prolonga aquela tristeza melancólica dos sonhos adiados e da realidade a impor-nos ou uma coisa ou outra. Mantém as nossas fantasias a pairar, abrindo sempre uma gavetinha de possível, sem nunca arriscar soluções mais duras ou radicais. Como se o sonho fosse coisa de classe média compatível com filhos rosados e maridos simpáticos. Mas não podemos exigir muito deste cinema que só quer mesmo alimentar sonhos. Mesmo quando descansamos os olhos na penumbra do corredor, depois de 90m de imagens a lutarem para tentar reconstruir a atmosfera um pouco naif dos filmes musicais, vimos a sorrir. Afinal é justo, não se pode ter tudo, alguma coisa tem que ficar para trás. (é comezinho mas apaziguador). Há duas cenas que deveriam ir para o lixo porque estão desajustadas mas a montagem é excelente, a passagem do onírico e fantasioso ao realista está muito bem feita. Há um corte abrupto mas também continuidade semântica, na medida certa  para nos provocar um sentimento nostálgico como Ha! Eu sabia que não duraria para sempre!!
Sou uma romântica que adora histórias de amor. Nas histórias de amor revela-se melhor a personalidade dos actores nas suas cambiantes expressivas, e eu adoro os actores, apesar do Grosling insistir um pouco no estilo blasé à Marlon Brando ( Nunca percebi o que os jovens actores viam no Marlon Brando...), enquanto ela está num registo muito mais histriónico. Por vezes parece um pouco aquele filme de banda desenhada com actores de carne e osso. Ela lembra um pouco a Debora Kerr, é muito expressiva (demais) e tem autenticidade, ele não é nada expressivo, está sempre tristonho, muito preocupado com o interior (o mesmo subtexto de representação que vimos em Marlon Brando e James Dean e que eu pessoalmente detesto - estilo: Estou-me nas tintas para vocês espectadores!!), mas também tem uma certa autenticidade, e assim se dá a sustentação realista - na autenticidade dos actores-. Gostei muito do filme, por causa destas pequenas fragilidades. É um filme tocante.