terça-feira, 27 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Elas vêm as palavras
preciso que as vejas vir
quieta e só
humilde e amarrotada
Deixa-as aproximarem-se
finge estar em Gibraltar
contemplando o mar
ou acariciando a madeixa de uma loura
andrógina
com a qual passarias sem dúvida para trás
tantos sonhos de letras
moles.
Coloca o copo de vinho
estala os dedos
tu
verás
juntam-se adiante
de joelhos dobrados
e vendadas
nesse momento emerge , olhos de foca
poderás decantá-las
chupar a grainha
deitar ao lixo o engaço
mas não as queiras transparentes
deixa-as agrestes
vergar-te de cansaço
dá-lhes o teu coração de ostra e bebe-as
de olhos fechados.
domingo, 18 de dezembro de 2016
vertigem
A serena orquestração do mundo
não dança
rumina
solta-se num corredor de crianças amestradas
por olhos de garça mal disfarçados
Chupacabras
pormenores de uma desolação fria.
Sentimos infelizes os corpos por um cuspo qualquer
uma beata
uma hecatombe de estrangeirismos
(por entre os lábios)
qualquer circuito eléctrico ou mar
metáfora, ou coisa, vento ou prótese.
Já não sei
cai por todo o lado
um detonador de sentimento
Passageiros Chupacabras
afligidos pela quebra de energia
esculpindo sulcos com a caneta
para que o dia não se consuma mais
e aflore embrião perfeito
num outro amanhecer.
Ser capaz de sonhar
diria Pessoa
dar tudo por uma sandes de mortadela
a barba de 4 dias
e a púbis na álea vazia do claustro antigo
digo
a púbis ritualizada.
Chupacabras entre dentes.
À febre, ao musgo
À refrigeração das latrinas da alma!
Ah! ser tão distante entre vírgulas
e tão dolorosamente próxima de tudo!
não dança
rumina
solta-se num corredor de crianças amestradas
por olhos de garça mal disfarçados
Chupacabras
pormenores de uma desolação fria.
Sentimos infelizes os corpos por um cuspo qualquer
uma beata
uma hecatombe de estrangeirismos
(por entre os lábios)
qualquer circuito eléctrico ou mar
metáfora, ou coisa, vento ou prótese.
Já não sei
cai por todo o lado
um detonador de sentimento
Passageiros Chupacabras
afligidos pela quebra de energia
esculpindo sulcos com a caneta
para que o dia não se consuma mais
e aflore embrião perfeito
num outro amanhecer.
Ser capaz de sonhar
diria Pessoa
dar tudo por uma sandes de mortadela
a barba de 4 dias
e a púbis na álea vazia do claustro antigo
digo
a púbis ritualizada.
Chupacabras entre dentes.
À febre, ao musgo
À refrigeração das latrinas da alma!
Ah! ser tão distante entre vírgulas
e tão dolorosamente próxima de tudo!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Filmes: O primeiro encontro
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
Até onde o restolho
a segurança de um prelúdio bem idolatrado
gordo, endomingado
Até onde pudesses pensar e continuar
remexendo na balaustrada as contas
linda chama
Por quem Leonor?
Pela ambrósia de um deus atónito ou ébrio
por uma rosa
por uma aurora
por segundos
Até onde a tricotar
a vassourar
a estender palavras massa
a guardar a tentação aversão
das curvas sonhadas do rosto
Até onde entre palavras?
por uma balada
uma onça de tabaco
um triciclo abandonado na rua
Por onde carregas o pote Leonor?
Até onde bastará o que basta
um ribombar súbito
um olhar que prolongue
o espasmo até à eterna combustão
do amor dor
Até onde
Até onde perguntas
Até onde
mergulhar
para longe onde a água se confunda
me confunda
Até onde
ruminar solilóquios
preguiçar preguiçar
até onde Leonor e porquê?
a segurança de um prelúdio bem idolatrado
gordo, endomingado
Até onde pudesses pensar e continuar
remexendo na balaustrada as contas
linda chama
Por quem Leonor?
Pela ambrósia de um deus atónito ou ébrio
por uma rosa
por uma aurora
por segundos
Até onde a tricotar
a vassourar
a estender palavras massa
a guardar a tentação aversão
das curvas sonhadas do rosto
Até onde entre palavras?
por uma balada
uma onça de tabaco
um triciclo abandonado na rua
Por onde carregas o pote Leonor?
Até onde bastará o que basta
um ribombar súbito
um olhar que prolongue
o espasmo até à eterna combustão
do amor dor
Até onde
Até onde perguntas
Até onde
mergulhar
para longe onde a água se confunda
me confunda
Até onde
ruminar solilóquios
preguiçar preguiçar
até onde Leonor e porquê?
domingo, 6 de novembro de 2016
Café Society, o último Allen
Café Society é um filme a reviver intensamente, 80 anos depois, o glamour do cinema Americano dos anos 30. Não faltam as referências ao Wilder do "Crepúsculo dos Deuses" e a Barbara Stanwick. Um tributo de um cineasta que admira os antigos, que admira a escola e a tradição de Hollywood. Mise em scéne perfeita, fotografia luminosa, e uma vedeta com uma beleza oscilante entre a femme fatal e a inocência. Entre a displicência da Kim Novak e a beleza contemplativa da Eddy Lamarr. As referências sucedem-se naquele ritmo frenético que nada tem dos thirty's mas que é Allen ele mesmo,num discurso que quer apanhar em palavras o indecifrável das emoções. Nas tiradas irónicas do self made man encantado e pragmático a quem foge sempre qualquer coisa do essencial a que aspira e sempre pouco à vontade no meio da society de que faz parte, admirando distanciado a sofisticação das roupas e das poses com que o poder vai tecendo os seus simulacros, um jogo que o atrai mais do que algum dia poderia admitir.
domingo, 28 de agosto de 2016
manhã
Eram sete e meia
hora dourada sem poetas ou touros mortos
a tiro de carabina.
Acidentalmente, ao redor da fonte
o contorno de uma cotovia
levanta um pouco de vento
sacudindo o pó ao mármore
simétrico das janelas cercas
onde supomos haver céu
Era hora de recomeçar
ouvir trinar o melancólico peito
enrolar um fio a jeito
e a seguir já sobre o balcão
limpar a faca de pão
da laranja aberta
e, quem sabe, pensar
(com alguma sorte)
que o café a ferver não vai sair muito forte.
hora dourada sem poetas ou touros mortos
a tiro de carabina.
Acidentalmente, ao redor da fonte
o contorno de uma cotovia
levanta um pouco de vento
sacudindo o pó ao mármore
simétrico das janelas cercas
onde supomos haver céu
Era hora de recomeçar
ouvir trinar o melancólico peito
enrolar um fio a jeito
e a seguir já sobre o balcão
limpar a faca de pão
da laranja aberta
e, quem sabe, pensar
(com alguma sorte)
que o café a ferver não vai sair muito forte.
quinta-feira, 28 de julho de 2016
enferma1
Pintura Andrew Wyeth
Semeado o halo da morte multiplica-se o nojo
o ramo de orquídeas entre as palmas vê
o Truísmo da idade ser alimento da vontade
musa desaparecida, alcateia de murmúrios.
Meu apelo de pega ociosa entre ordens ancestrais
actua como cinto de frémito
actua como cinto de frémito
Alcança-me a gambiarra a arder
Antes de desfalecer em visões grão
Brancas desmaiadas enfermeiras
Sobre o meu corpo suturadosexta-feira, 22 de julho de 2016
os blogues, o narcisismo e o amor
Anna Magnani em L'amore de Rossellini. Retrato da submissão a um sentir que, mesmo tendo um contorno definido de alguém, projecta-se sempre dentro de nós como infinito, é em toda a dimensão da sua ausência. O amor vivido alimenta-se dessa convulsão, impossível, entre o finito material da vida e o infinito intemporal do desejo, será dramático, não pode deixar de ser.
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Paris
Paris é uma cidade que apurou o gosto da civilidade, serve-nos o olhar, o paladar e a exigência de um lugar onde as obras perenes se quedaram e se oferecem à nossa contemplação.
quinta-feira, 31 de março de 2016
I
Vejo-me a andar às arrecuas
sobre a ventoinha suspensa do real
berço da vida
palimpsesto
a bóia segura por andaimes em risco de turvar
e o meu olhar pedra rasa
o meu olhar olho
meu radar
de mulher que morreu duas vezes
enquanto as imagens iam e vinham
em cadência sobre a pele baça
membrana inútil
do tempo que falta para não ter alternativa à morte.
II
À porta do museu alinho as frases azuis
dos diabos celestes
magros peregrinos
sobre a superfície lisa do papel
Somos agora tu e eu
e seremos ainda mais tempo em nenhum tempo
não interessa
pois somos agora
seremos
arredondadas açucaradas
gárgulas nos dentes de ouro dos ciganos
Somos agora tão ansiosamente eternas
como as vertentes douradas
do monte ao entardecer primaveril
seremos ainda quando os passos avivarem a pedra gasta da rua
e a respiração for silenciosa
e não houver rio nenhum
e nenhuma sombra a deixar atrás
Seremos ainda agora
expectantes e belas no tampo marron da mesa de café
enlutadas sem história
furando os mínusculos orifícios das palavras veladas
ódio indiferença
no frontispício dos teatros que vão construindo
sem o nosso consentimento.
Vejo-me a andar às arrecuas
sobre a ventoinha suspensa do real
berço da vida
palimpsesto
a bóia segura por andaimes em risco de turvar
e o meu olhar pedra rasa
o meu olhar olho
meu radar
de mulher que morreu duas vezes
enquanto as imagens iam e vinham
em cadência sobre a pele baça
membrana inútil
do tempo que falta para não ter alternativa à morte.
II
À porta do museu alinho as frases azuis
dos diabos celestes
magros peregrinos
sobre a superfície lisa do papel
Somos agora tu e eu
e seremos ainda mais tempo em nenhum tempo
não interessa
pois somos agora
seremos
arredondadas açucaradas
gárgulas nos dentes de ouro dos ciganos
Somos agora tão ansiosamente eternas
como as vertentes douradas
do monte ao entardecer primaveril
seremos ainda quando os passos avivarem a pedra gasta da rua
e a respiração for silenciosa
e não houver rio nenhum
e nenhuma sombra a deixar atrás
Seremos ainda agora
expectantes e belas no tampo marron da mesa de café
enlutadas sem história
furando os mínusculos orifícios das palavras veladas
ódio indiferença
no frontispício dos teatros que vão construindo
sem o nosso consentimento.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
O preço do Sal
Agora é o momento de ver os filmes para o óscar, e gosto, porque são bons filmes os que começam nesta altura a estrear, a produção americana tem produtos de bom gosto e escorreitos, mas faz falta lavar a vista com outras produções, Outro cinema, o mundo é vasto e a arte não pode ser manipulada ao ponto, cada vez mais, de ser americana.Fui ver o Carol, no Amoreiras cinema, a história da Highsmith tinha sido uma bomba quando a li ainda nos anos 80 editada pela Europa América. Boa história, levaram 60 anos para a contar em filme. Hollywood tão cansada de velhas histórias de amor tem um novo filão a explorar, mas tem que o fazer bem. Neste caso sim, embora eu imaginasse, como sempre quando lemos primeiro o livro, esta Therese Belivet muito mais arriscada e marginal do que eventualmente a personagem do filme representa, mas corre um fio de intensidade emocional no filme, esse fio é tanto mais perturbador quanto ele se esconde por detrás dos valores de produção sólidos da indústria americana. Não acho que seja uma história de sedução de uma mulher mais velha a uma mais nova e de uma classe mais baixa, não é isso que Therese é, e o livro é a perspectiva dela, a certeza do amor dela que corre, essa certeza que nem uma vez esmorece, é que dá a intensidade emocional do filme. A história não é Carol mas Therese, é nela que corre o desabrido, uma ponta de abismo por onde começa e acaba todo o amor.
Assinar:
Postagens (Atom)