Serei levada a pensar na inutilidade do discurso crítico, uma pescadinha de rabo na boca, somos e usamos o mesmo discurso e as mesmas armadilhas do discurso estendem-se em cada frase, em cada exclamação vigorosa. A única atitude seria calarmo-nos , não cair uma e outra vez nesta incessante e fragmentária exposição de intenções, exceder a auto-vigilância que nos é exigida continuamente ou a consciência angustiante da impossibilidade verdadeira de, por agora, poder encontrar espaço para a transgressão, por mínimo que seja. Palavras indignadas ou revoltadas servirão mais do mesmo, contributos de uma catarsis colectiva. Porque queremos nós falar? Porque falamos a todas as horas, por todos os meios? Conto da saturação. Voltar ao umbigo, ao minúsculo, ao tão subjectivo de pessoal. Corromper esta generalização constante que quer esclarecer e só empapa as coisas em verdades sobre elas. um estado, o fim do dia, antes da noite, existem apressadas e sem contornos definidos as parcelas, o automóvel, a Lua , o arco-iris no céu. e deste texto acabado de escrever espero cinco gostos, dez seria melhor, ou nenhum.
foto: Rita Araújo