segunda-feira, 16 de outubro de 2017

domingo, 1 de outubro de 2017

Regresso a Montauk


Montauk é uma praia numa espécie de cabo-ínsula perto de Nova Yorque, tem ondas fortes e batidas pelo vento, areias desertas e esquecidas da população absorta da city. Montauk é o local perfeito na imaginação, quando sonhamos reiventar relações do passado, voltar aos sentimentos fortes e arrebatadores, apostar na reinvenção perfeita de um sonho de amor antigo. Tem claridadade e espaço, beleza e tristeza suficientes, por si só, para invocar os nossos fantasmas mais queridos, os nossos "poderia ter sido", as nossas mais perfeitas imagens e anseios. Durante longos e duros anos são só isso: anseios mentais; fruto do produto mágico de sofrimento e sonho que amiúde vão sombreando de beleza  o que ressoa apenas como o absurdo dos dias. Adormecem a atmosfera pesada do tempo sólido e linear que é, demasiadas vezes, insuportável. Montauk, o filme de Schlöndorf fala sobre esta forma de amor de uma forma crua, sem arremedos de compaixão, e sem vacilar. A beleza desabrida da paixão, a gloriosa paixão, apesar de tudo, apesar de nada - não há que gastá-la com comparações ajuízadas -seja o que for o mergulho no  "poderia ter sido" e que não foi, é uma parte considerável do que nos vai suportanto em linhas de bordado incandescente sobre as cavernas que vamos laboriosamente montando sem dar conta.