quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

BOAS FESTAS PARA TODOS OS QUE POR AQUI PASSAM!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Dennis Stock, Cafe de Flore, 1958


noite gélida na calçada e nós de sombra com a parede a evitar aquelas pontes de vento entre as ruas, somos noite e estalamos os dedos dermentes, noite. bandos com mãos enfiadas nos bolsos respiram pequenas névoas de vapor apressadas, o táxi não deve vir, raparigas de percings no umbigo e mais uns quantos bandos de rapazes sem barba e garrafas de plástico à boca, vinho, talvez, vertido da pipa para o plástico e deste directamente à veia da língua sob o céu da boca. noite. antes éramos menos e não nesta zona da cidade, agora a noite transbordou de gente mas nem por isso de euforia, somos meio melancólicos meio taciturnos ainda, apesar de nos sabermos melancólicos e taciturnos, somos ao invés de espanhóis, não acreditamos na crise porque sempre vivemos nela. agora, como sempre, vivemos sem querer saber, vivemos com o que temos, quando não parece chegar há sempre uma luz acesa à noite, um lugar de aconchego, um copo de vinho, um desconhecido, áspero mas depois doce.

domingo, 6 de dezembro de 2009

erosão e construção, sombra e luz. a veia, secou, há na mente um vazio e no corpo uma ausência. como dizer-te...a civilização às vezes deita-se na minha cama e faz-se de morta, é certo que pulsa ainda mas só a dor antiga elevando-se terá o efeito da morte. é a guerra lá fora mas quantas guerras cá dentro? quantas? quantas sem final anunciado? Come chocolates pequena come chocolates, diria o Pessoa. a metafísica espalhou-se ou entranhou-se entre factos e não factos, rarefez-se, perdeu a bússola. só sentimentos. frio pela noite, vontade de se diluir ou resgatar, apequenar dentro da chuva, ser chuva, vento, poça de água e... esquecer.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

divagações

Richard Kalvar
hoje vou falar sobre o espírito e a carne enquanto vou fumando um cigarro, não há pressa nenhuma, apesar de supostamente haver sempre qualquer coisa urgente, qualquer coisa que não dominamos, qualquer coisa que nos escapa, é isso a pressa, mas agora pressa nenhuma, sei perfeitamente o tempo limite de uma prosa curta, algumas linhas e as mangas do casaco a roçarem o teclado, há que as arregaçar, pequenas contrariedades, interrogo-me sobre este facto tão simples: porque será que a minha mãe teve uma influência tão decisiva no meu carácter mas nunca me impediu apesar de tentar vezes sem conta de me vestir mal, comprar roupa larga demais apesar de isso não revelar nada, porque gosto do meu corpo mas também gosto de roupa larga, e assim para falar do espírito ele como cresce para os lados e para a frente absoluto e teimoso mas a carne não, mantém as curvas, as dobras, os intestinos, silenciosamente busca a saciação e encontra o desejo.