sexta-feira, 29 de abril de 2011

notas à margem

Notas à margem, uns endereços rabiscados numa fila gráfica perfeita na página branca do caderno sob a cama, os cadernos e as camas e o que se faz ou sonha entre duas superfícies lisas. A perna traçada do Barceló, o sapato grande pingado de tinta, e o seu cabelo subindo com a idade para o céu, ralo. Na praça do Império dois grafiteiros desarrumam umas letras gigantes na parede do monumento, (dar-te-ia um pontapé nos tomates se não fossem 4 da manhã e tu não tivesses o dobro da minha altura). Os ouvidos exasperados de Abril adormecidos na lenga lenga das perguntas que o coelho faz a Alice, onde estavas tu? princesa, o teu castelo, que seria dele se não houvesse o buraco atrás do espelho por onde te escapaste? O mesmo é espreitar da varanda sobre o rio e no meio de uma certa neblina ancestral, semicerrar os olhos ou mantê-los abertos sob as escunas que largavam a barra e os picos onde nunca irei, existentes sem dúvida, e essa certeza é esquisita, em terras do Perú. Terras, longe. envoltas em desejo lasso. seguir-te-ia, se, como os gatos, tivéssemos sete vidas, numa delas te seguiria. se a vida fosse em folhas largas picotadas que pudessemos desprender umas das outras e elas sozinhas cumprissem o desígnio mais secretamente ansiado,várias vidas alice, e sorris, dentro de uma vida ou ao lado das outras.

domingo, 24 de abril de 2011

Lagos





A míuda tira excelentes fotografias. ( a minha sobrinha).Eis um testemunho de mais uma Páscoa em terras do Sul, esta, muito especial, diria, um pouco mais triste que o habitual. (rimei fortuitamente Hélas!).
BOA PÁSCOA A TODOS!!


domingo, 17 de abril de 2011

Zambujeira



Sob o signo do azul, assim poderia descrever este lugar, e se as sensações são tão azuis mesmo, cobalto, marítimo, turquesa. sobrepõem-se ao grito agudo das falésias. neste sol, em formato mica, resplandecente, oiço o piar das cegonhas e desço até ao mar por uma escada de corda. é meu o mar. disse-o em voz alta. ainda assim não acordei os tritões meio indolentes do fundo. os adamastores comiam filetes brancos de peixe aranha na tasca e partiam em barcos sob a espuma concertada da maré. dá-se o mar e toma-se, continuei, as palavras esconjuraram o que é perfeito sem elas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

into my arms



Não acredito na presença de um Deus interventivo mas se acreditasse ajoelharia e pediria para não intervir no que toca a ti, para não tocar nem num dos teus cabelos...

domingo, 10 de abril de 2011

é uma estranha sensação, perder o telemóvel, alívio e preocupação, simultaneamente.serão as ondas a ter a expectativa da chamada, imagino o artefacto, tão recorrente à mão, enfiado num buraco da areia, ou vagueando no meio do mar, será até risível. a caixinha preta a debitar às nuvens, impotente e inútil como uma caixa preta pequena e escorreita. Não me aborreço, afinal entro em férias, e se não é este o maior sinal que me afundo na estepe do silêncio, carinhosa com a presença e cansada de mensagens em bips magnéticos, então não sei qual será, e depois, acredito em sinais, em acasos. dá-me gozo imaginar propósitos, intenções onde se calhar só existem fenómenos cuja causa é a distracção. Querem-me sem telemóvel as forças do destino? pois aqui me têm, baixando a guarda alta, confiando que quem me queira ver, ou falar, há-de também socorrer-se da imaginação. tentada a dizer: sigam essa gaivota!!

domingo, 3 de abril de 2011

há frases surpreendentes ditas no mais indiscreto local: " és uma emoção perdida no oceano Atlântico das emoções" e estas frases são o diagnóstico sumário do mal geral de que padece um coração. qualquer um atirado em alto mar.e o nosso, mesmo em questões de sentimentalidade, é bom de referir, é geograficamente situado. ter-se perdido no Atlântico entre eflúvios de alga e onda não será o mesmo que perdê-lo num Pacífico, inodoro e raso, e se perdi à mesa de um restaurante chinês o que nem sequer ganhei em lado algum, não deixa de ser um dado curioso a acrescentar a esta atmosfera emocional. mas todas estas palavras são epidérmicas, quanto ao fundo, dói tão desmesuradamente quanto a pressão das profundezas, quero dizer em proporção, porque, apesar de tudo, a pressão das profundezas cilindra-nos a ponto de não sobrevivermos e os estados de alma não, não assim, e não sou capaz de dizer de que modo nos matam.