domingo, 23 de dezembro de 2012


A VIRGEM E O MENINO COM SANTA ANA - LEONARDO DA VINCI
 
 
Este quadro parece-me estranho, de facto a virgem está ao colo da Santa Ana.
 
Serve isto de mote para este NATAL,  procuremos o colo uns dos outros, como desejo não me parece mal, um BOM NATAL  para todos os que por aqui passam!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Para a Rita


Botticelli


não sei se posso desvelar a sombra
sem primeiro formar o contorno da luz

sei de forma a revelar-te quando
irrompes entre os braços luz
 minha
minha quente e humana voz
ou luz ainda

desculpa, vou recomeçar
repito-me
se me atrevesse a nomear
era incandescente
nenhum nome então
talvez  mãos escuras
na tua ausência
brutas mãos queimadas
saltem para acender
o fio emaranhado dos cabelos
e descubram
no mapa da multiplicação
arrepiada
que me fazes sentir
uma nova definição
mas hesito
como vês nada pode ser dito
fecharei os olhos sem  noite
e voltarei ao teu encontro


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

horror

 
Nicolas de Stael
 
Não me canso de olhar para estes assassinos de dezassete e vinte anos, filhos de" boas famílias", classe média, escolaridade elevada, bons alunos, inteligentes. Este de Newtown  e os outros em 99 de Colombine, na Noruega um outro, mais velho, há dois anos. O perfil psicológico parece ajustar-se: Solitários, introvertidos e megalómanos. O acesso fácil a armas de grande destruição é um factor crucial (como podem cidadãos comuns armar-se deste modo?). Depois o aspecto do mal, mal que traduzo como a incapacidade de gerar afectos positivos,  ódio alimentado por fantasias numa forma de prazer/poder experimentado,definidor. Em Columbine era evidente o gozo, os vídeos comprovam-no. Para o norueguês há também triunfo no olhar, o gozo e o controle, o prazer que deriva do poder.  Este novo assassino não era louco, se o fosse não conseguia assassinar tanta gente, há em todos eles uma frieza emocional que lhes permite matar meticulosamente, como quem faz tiro ao alvo, humanos/coisas, alvos amorfos em movimento. A supremacia que dizem sentir torna tudo justificável. Esse é o aspecto mais assustador, não haver desvario, desespero, mas calculismo, premeditação, razão. Como pode uma sociedade evoluída gerar tais monstros e alimentá-los?
A complacência actual perante os comportamentos cruéis dos adolescentes, a justificação perante repetidas  atitudes de egoísmo e violência, como se de um  produto social se tratasse, o psicopata social com o qual nós, adultos  "normais"sentimos uma espécie de complexo de culpa reagindo com excessiva tolerância ou indiferença a situações que exigiriam firmeza e dureza, é parte de um mecanismo de alívio ou compensação por males cometidos, alívio dessa culpa que sentimos por não ter educado bem, numa época em que educar bem é uma incónita angustiante e infinita. Há nestes adolescentes e jovens adultos, uma indiferença perante o bem e o mal, como se para eles não houvesse limites.  Em muitos adolescentes sinto essa falta de sensibilidade ao outro, a falta de empatia, a pretuberância do ego, em muitos casos foi somente falta de uns tabefes no momento certo. Volto ao horror da situação Newtown, nada poderá explicá-lo senão que é preciso detectar estes seres antes de fazerem o que, quase sempre, ameaçam repetidamente fazer e retirar todo o tipo de armas, com este poder de destruição, do mercado. Por outro lado, aquela mãe não se apercebe do perigo que tem em casa? Continua a manter o arsenal mortífero ao alcance de todos? As crianças e adultos que morreram exigem uma resposta e uma responsabilização.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

leviatã


A vitrine do tempo consta que embaciou. a causa remonta à redução do tempo na minúscula perversão de uma contagem. tempo em minutos e anos. percentagens. ando, por isso, avessa a números com os quais não possa obter qualquer espécie de prazer. é uma posição quiça ambígua e desastrosa mas por ser assim tirada de um rosto envelhecido, deve ter o seu valor . a cada um é dada a sua percentagem de negação das evidências e aqui a medida é livre, digamos medida a olho.
Ficai-vos pois com a serena tempestade, serena é a lonjura.
 advogo em praça pública: dai  voz à experiência

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

In memoriam Joaquim Benite

1943/2012

Uma obra invejável e um dos poucos que ousou encenar os grandes textos. Espero que deixe seguidores.  A última encenação que vi dele foi Eugene O'Neill, Electra. 
A sua presença era  Discreta, quase invisível mas a actividade do Teatro de Almada, pela sua mão, tornou-se um destino obrigatório para amantes de teatro. Apesar de arte efémera, o teatro enriquece a memória colectiva e oxigena a nossa respiração. Arte do tempo e dos homens de carne e osso.
Não me esqueço de que devo ao Festival de Teatro de Almada  a peça mais impressionante que vi até hoje: Brecht, pelo Berliner Ensemble. A peça chamava-se "A Resistível ascensão de Arturo Ui" e a encenação era de Heiner Muller. Sei que nesse momento tive o privilégio de assistir a uma obra-prima e, digo-vos, é inesquecível.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Detachment

 
Fui ver o "Substituto" num cinema de reprise, dos poucos que ainda têm cortininha para abrir e fechar, na cerimónia que é o ritual do espectáculo. Nós, espectadores da arte, sentados em pequenas poltronas para digerir o jantar, nessa noite fria. Detachment, Distanciamento, desligamento, desligar, trata-se  de nos colocar perante personagens cuja distanciação afectiva cria situações de incompreensão e raiva,  renúncia e negação. Numa escola americana com boas instalações mas com uma população de almas esgotadas, dos mais novos que não querem saber, aos mais velhos que não sabem transmitir, cada um no seu pequeno aquário de sofrimento e perplexidade é retrato de uma sociedade onde estão todos zangados, desiludidos e frustrados uns com os outros e que, por isso, desligam e, curioso, para não sofrer, para não sentir, acabam por se exigir nada, criam um vazio onde cabe tudo e nada tem valor. Os mais vulneráveis são os que não aceitam, que têm muito para dar e não sabem como ou a quem, por isso sossobram na proporção do sonho. O protagonista é uma espécie de sobrevivente da catástrofe, abandonou expectativas e sonhos,  reage de forma surpreendente,  lê melhor o que se passa à sua volta porque não espera nada e pode "fazer a diferença", sem querer, porque não mistifica, não ilude, abandonou as regras e as pretensões. Tocante é a figura daquela pequena prostituta, fabulosa actriz, a lembrar  Natasha Kinski do Tess, em versão citadina.