quarta-feira, 29 de setembro de 2010

outra banda

não sei como é o mundo, não sei tal como ele é, não adianta reconhecer os rumores e afastar-me das listas de palavras que perdem a magia, procurar as que ressuscitam as pedras, as que nunca ouvimos porque não se dizem. não há ouvidos ou cansaram, desbotaram, também não sei como vim aqui parar, há a estranheza dos números no mundo pequenino, 24.000 milhões. déficit. salário. recordo o autocarro que me levava às 6 horas da manhã de Benfica para o barco do Barreiro, o sol nascente reflectido nas torres das Amoreiras, discutíamos se eram belas ou inúteis as torres das Amoreiras, enternecia-me a lancheira dos operários que se sentavam ao meu lado no autocarro. o salário existia, a crise era um rancho de pássaros. era. não acredito que essa qualquer coisa que neste momento ganha, possa ganhar de facto. essa qualquer coisa que insiste em cair. essa que fala sem se calar. tenho saudade de um barco, da proa de um barco fendendo as ondas, acredito na boa vontade.é pueril. sei. as virtudes não se apagam pela opacidade do presente, no esgravatar oficioso, somos todos operários.ponto. não somos funcionários.
Imagem: "Operários" de Tarsila do Amaral

terça-feira, 28 de setembro de 2010

a gaivota, ou quem não se tornou, pelo menos uma vez, repetitivo?


ainda "A gaivota" e o desencontro


1ª CENA 1º ACTO


Medvédenko: Porque anda sempre de negro?

Macha: Estou de luto por mim própria. Sou muito infeliz.

Medvédenko: Porquê? (Pensativo) Não compreendo. Tem saúde, o seu pai não é rico mas vive sem dificuldades. A minha vida é bem mais dura que a sua. Não ganho senão 13 rublos por mês sobre os quais me descontam um tanto para a reforma, e não ponho luto por isso...

(sentam-se)

Macha: O dinheiro não tem importância. Um homem pobre, pode ser feliz.

Medvédenko: Teoricamente mas na prática...tenho à minha guarda a minha mãe, duas irmãs, um irmãozinho, eu próprio... e apenas 13 rublos...Havemos de comer não é verdade? O chá, o acúcar são necessários. O tabaco é preciso! Experimente pôr-se na minha situação.

Macha: O espectáculo está quase a começar.

Medvédenko: É verdade. Com uma peça de Constantino Gravilovitch e a participação de Nina Zaretchnaia. Estão apaixonados um pelo outro e hoje, as suas almas vão-se unir no desejo de oferecer uma só imagem dramática. Enquanto a sua alma e a minha nada têm em comum. Amo-a, a nostalgia afasta-me de casa. Faço todos os dias 6 verstas para vir aqui outras tantas para voltar e não encontro da sua parte senão indiferença. É compreensível. Não tenho meios de fortuna, não pertenço a uma grande família. Quem quererá casar com um homem que nem sequer tem comer para si?

Macha: (Toma uma pitada de rapé) O seu amor sensibiliza-me mas não posso corresponder-lhe, mais nada.
abre assim a peça. estão ali sentadas duas pessoas, uma declara o seu amor e as contas a pagar, a outra projecta-se num futuro, num espectáculo que irá começar e do qual ela não é senão espectadora. ambos espectadores. nós como eles.espectadores. os protagonistas irão ser aqueles para quem nada é solúvel, é tudo irremediável, vibra e parte, não esperam mas são esperados.

domingo, 26 de setembro de 2010

a gaivota, again



não vou resistir à tentação de apanhar o comboio e desaguar no S. João para assistir a umas quantas horas de recriação da peça mais bela. nem sei porque estou tão apaixonada por este texto, mas estou, mesmo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

para interromper o amor

De um modo geral não gosto dessa escrita "light" do pessoal da madeixa ao vento, com montes no alentejo, jeeps, uma bolanda constante de amores cama e sexo bom mau e assim-assim. faz-me lembrar a continuação das músicas do Tony Carreira, há só "mins" e "tis", nada que faça eriçar os pêlos dos braços, coisa cool essa de escrever livros desabridos- não gosto da moda, não é nada pessoal como agora se diz muito, (quando em geral quase tudo se passa entre as pessoas e mais nada). mas este livro... folheei-o numa livraria do centro comercial na pausa do almoço, comprei-o por causa de uma passagem e devorei-o até ao fim da tarde, (este tempo abençoado de poder ler livros de fio a pavio entre o remoínho das ondas), então..."sabes como são as coisas, as pessoas podem envolver-se por causa de uma fatalidade, uma frase, uma perdição, um copo que toca no outro, uma luz muito azul,insectos que voam na varanda."A voracidade, das relações e também a consciência lúcida do encantamento como o vôo das borboletas, efémero mas trágico: " Se tens vontade, se tens o quê, se tens medo, se já sentiste tanto por alguém, se sabes o que queres, como queres, onde queres, se achas que vais sobreviver bem, se achas que estás capaz de morrer porque se morre sempre, se vais comer-me com os olhos, os teus olhos nos meus olhos,se vai ser tudo finalmente,se vai ser tudo de repente, se vai ser tudo com calma, se vai ser. Se me adoras, se te faço rir, se te faço gozar, se me queres, quanto queres, se sou o que tu queres agora. Eu e mais ninguém.Na tua cabeça, na tua boca,nas tuas mãos..." talvez porque é uma mulher a falar do amor com outra mulher e talvez isso, só por si, seja terrivelmente sedutor. É forçosa a criação de uma outra linguagem porque a velha não lida bem com este tema. Havia um escritor (hei-de lembrar-me de quem) reclamando que entre mulheres a narrativa não era possível porque elas entopiam a narrativa, este é um caso para testar essa orquestra que foi fantasma e ganha corpo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

sábado, 18 de setembro de 2010

os lugares naturais



Os lugares. O que faz com que alguns sejam irreconhecíveis enquanto outros poderiam ser qualquer lugar? a natureza é a mesma, mudam os costumes dos homens, as suas filosofias e mercadorias. de onde são as imagens?, as árvores, os relvados, são de nenhum e de todos os lugares, mas há cidades que se apartam deles. Poderia ser a primeira imagem de Lisboa? acho que não. porquê? Lisboa não tem lugares naturais, os que há são dentro das casas, com vidros e pertencem a alguém, estão cercados e não é reconfortante, não, quanto à generosidade da natureza é outra coisa, tem sininhos e respira connosco, um grande suspiro (hoje sinto-me edificante, construtiva, socialista! mas habitualmente sinto-me deprimida, preocupada, anarquista, acho que isso é natural)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

portimão


Ponto da situação: a sul respira-se bem, há uma de luz mediterrânica com cheiro de algas, uma quietude repousante e as gaivotas não são ameaçadoras.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

prendam os tipos e acabe-se a chinfrineira

O caso Casa Pia:
1. Lançam os pedófilos apelo à praça pública para se defenderem quando tiveram 5 anos em tribunal com os melhores advogados para o fazer. Que quer isto dizer? que a justiça pública é mais justa? se os largassem sem escolta e sem medo das penalizações alguém lhes limparia o cebo.É por causa da justiça que temos que estão vivos e bem de saúde. Mas estamos todos fartinhos dessa escória, sobretudo do Sr Carlos Cruz.Para além de culpado de um crime provado, em vez de preso como seria de justiça, não,o Senhor ainda goza com o estado de direito e a TV dá-lhe cobertura. Lança a suspeita, todos somos suspeitos, e se fosses enfiar esse argumento no sítio onde....cala-te boca!The show must go on! Tenham vergonha! Ó Fátima, tu vai mas é regar as plantas lá de casa e ajeitar o naperon!!
2. O Marinho Peres devia ser internato num hospital destinado aos que sofrem de diarreia mental. Serve bem a causa dos advogados...serve tudo para ter protagonismo, não sabe nada do processo mas acha coisas, acha (como quem vai à praia apanhar sol e na areia, por acaso, acha um berlinde) entretanto crescem-lhe as unhas dos pés e aparece garboso na TV. Internado e sem pensão de alimentos!
3. Os tribunais com tanta confusão tremem das cruzes, é muita gente a gritar ao mesmo tempo, interne-se a televisão e os jornais tenham aulas de ética. liberdade não quer dizer que vale tudo e todas as opiniões se equivalem. ou se é assim, ponham lá a ucraniana da fachina como bastonária da ordem e promovam a juíz o Cristiano Ronaldo. (estava a pensar que talvez o Luisão, defesa e coisa e tal...)