sábado, 31 de agosto de 2013

Praia da carriagem

Infelizmente a minha velha máquina traiu-me bloqueando a passagem do rolo de película e, julgando ter 24 fotografias, acabei sem uma única imagem das muitas que captei por aqui. A estrada de pó que resolvemos seguir até ao fim desembocava numa tira finíssima de areia e num lupanar infindável de xistos e ardósias. Pensava conhecer bem o Algarve  mas este recanto entre a praia da Amoreira a Sul e a praia de Vale dos Homens a Norte era uma placa de sinalização na estrada, apenas. É certo que, na generalidade, todas as praias se assemelham, mar, areia, dunas ou rochas em proporções variáveis, a maravilha da singularidade, reside um pouco naquilo que valorizamos em certos momentos, a temperatura e estado do mar, o recorte artístico da rocha, o ambiente humano, o espaço largo ou apertado do areal, os acessos ou a fauna marítima de peixes ou moluscos. Gosto de me entreter nas poças formadas pelas rochas à procura de caranguejos ou lapas, daquela sensação de despertar da vida marítima em estado virgem, esses espaços ainda existem mas os seus acessos são para alpinistas bem preparados ou então arriscamos descer mas ficamos a meio,  entre o desfrute, o desafio e o medo, o último ganha e voltamos para trás. Esta praia ainda era acessível ao meu estado físico francamente decadente,  agradeço-lhe isso, descobri novas sensações na descida e uma quantidade de pedras e pedrinhas surpreendentes. Poderia chamar-lhe a praia das pedras redondas, ovais, das pedras com formatos bizarros, das pedras antigas e intocáveis, das pedras que surripiamos à generosa natureza para não mais esquecermos que, por momentos,  habitámos aquele lugar sem nunca (aqui nunca está a mais de óbvio) o podermos conquistar.

Foto retirada daqui

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

as praias


Não sei se o meu forte amor por praias e mar  foi herança paterna, se foi intrusa proximidade desde nascença ou uma simbiose entre aspirações do meu coração,  ansiando por horizontes largos, pela possibilidade aberta de uma fuga, e a generosidade das águas reconhecendo a irmandade e o afeto que lhes dedicava, contas feitas, fui crescendo com esse testemunho constante e, tirando os cafés, foi também nas praias que  aconteceram momentos marcantes do meu percurso emocional - dos desvarios,  reconciliações, dos medos e dos triunfos. Tenho um punhado delas fechadas na mão, com cuidado, sem deixar cair um único grão de areia, chamo-lhes minhas com o orgulho da leoa pelas crias porque as criei ou recriei ao sabor de uma consciência fugidia de náufrago calcorreando terra e deixando na areia húmida pegadas e pegadas de passos em volta.

 

Guincho, Monte Clérigo, Meia Praia, Baleal, Ingrina, Praia Pequena, Santa Cruz, Samouqueira. Dedicarei algumas palavras a cada uma delas. Da primeira, a mais fotografada, quiçá a mais percorrida, não recordo o primeiro momento da descoberta mas deve ter sido naqueles dias da infância com o meu pai de ouvido colado à rádio para ouvir o relato,  desatento às minhas preces. Nos domingos de praia não trazia os apetrechos normais dos baldes e das boias mas uma bola, apenas uma bola e a vontade de jogar com o meu único cúmplice nem sempre disponível, compensava-me
quando íamos os dois pescar para as falésias escarpadas da ponta norte, ou apanhar mexilhões na neblina fria da manhã. Do Guincho guardo o azul mais marinho e encantatório, um azul que se me abria nos olhos e me fazia ver para dentro de tão intenso. O azul que tentei mil vezes reproduzir nas cores dos lápis e das tintas. O azul atlântico que me espera inalterável de todas as vezes que incauta entro no mar e sinto uma fraqueza de pernas, uma pequenez de arrojada, do mesmo ardor deste povo que só posso intuir, um dia arregaçou calças e se fez ao infinito.

 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Sardenha




Os sardos chamam Sardignea a esta ilha amena e afável, a presença do mar é constante e surpreendente, há mar de vários modos e dele respiramos a atmosfera de abandono ao declive suave dos montes,  de fronteira ao território, de comunhão selvagem com o povo, nele, no Mediterrâneo, adivinhamos a história e aprendemos a irmandade na luz com os povos do sul.