terça-feira, 25 de agosto de 2009

feminino vs masculino e outros

a sul africana que venceu os 800 metros em Berlim tem 18 anos e toda a gente discute se é homem ou mulher, para ela, deve ser humilhante, numa altura em que podia alegrar-se com o sabor da vitória, vem aí uma leva de cuspo mal disfarçado de verdade científica, cuspo, escandaleira, venda de jornais. Tem testerona a mais, três vezes mais, será que feminino e masculino dependem dos níveis de testerona? Se assim fosse teríamos possivelmente de chamar a muito homem mulher e vice versa mas eles ainda não sabem, estão nos testes. que testes serão? aos cromossomas? se for XX é mulher, mas se for XY, dá para cá a medalha? Tudo isto fede a estupidez, pois os genitais não contam? uma senhora que a veja nua? Não? O comité inteiro why not? para não restarem dúvidas...tou mortinha de curiosidade para saber o resultado de tão secretos testes! será ao sangue? uma dissecação da pelve? talvez nos ossos, ou quiçá nos beiços esteja a sua esperada prova de que é macho, querem que a rapariga seja macho porque lhes parece macho, estão confundidos os pobres...cá para mim vão dizer que há transição, hermafroditismo não pode ser que se vê à vista desarmada, e se for transsexual? terá direito à medalha? Semenya, tu não ligues, se calhar estavam à espera que no final da corrida baixasses as calcinhas...agora que devia haver um tribunal para julgar estes tipos que dizem estas coisas sem provas conclusivas, isso devia...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

é no Alentejo que o conceito TERRA atinge a sua materialização mais forte. Terra, bravia e expectante, mansa, omnipresente, gloriosa e pobre. terra poeira, terra suja e pura. terra com céu.ténue linha adormecida.
Trouxe pedrinhas pequenas e grandes e a recordação de uma luz que amortece e deflagra, uma luz que se queda e convoca antigas histórias, antigas faces, há nessa luz uma disposição para o encantamento, quase um hipnotismo, fixação num devaneio nosso que nos enlaça e entorpece. Abandonar-se no Alentejo no meio do abandono, na presença esquecida e atenta que vive com muito pouco e respira silenciosamente.
talvez não seja bem tempo para estas leituras mas por distracção dos editores nem todos os livros vêm com conselhos de estação, tipo: este é para ler na praia enquanto este outro vai mais com lareiras e assim, nevar lá fora, bom, seja como for encontrei-me na psicanálise e se bem que não possa negar a razão primordial do seu discurso, sobretudo os conceitos de inconsciente e pulsão, preocupam-me algumas das suas asserções, nomeadamente a de que a maturidade sexual da mulher estaria ligada biologicamente ao prazer vaginal e psiquicamente à ultrapassagem da castração primordial da infância que seria, no caso feminino, a inveja do pénis. A minha sobrinha, quando novita, dizia que queria um, sem dúvida que daria jeito, pensava ela, sobretudo para poder urinar de pé (estive três minutos a pensar qual a palavra melhor para esta acção...todas elas são ou rascas ou demasiado afectadas). A primeira asserção é obviamente falsa, o prazer sexual das mulheres não tem a sua origem na vagina e a segunda permite as interpretações e diagnósticos mais contraditórios. Isto é, na psicanálise, seja qual for o nosso comportamento, a sua causa é a mesma - a castração - e seja o que for que aconteça podemos estar seguros de ser todos psicóticos ou neuróticos sem excepção porque projectamos sempre fantasias sobre nós ou sobre os outros e estas são fugas ao complexo primordial, fugas essas que se pagam com a autoflagelação ou a flagelação dos outros, consoante a culpa seja nossa ou dos outros, há sempre o castigo. Bolas!! A acreditar em tudo isto ficamos não curados, mas verdadeiramente neuróticos!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ao meu amigo Zé

na minha geração há uma série de gente feita em cacos, coladinha com fita adesiva, recoladinha, e de pé, malgré tout! o meu amigo Zé é assim. digo, Zé, tu não ouves ninguém, tu estás a delirar, devias procurar ajuda! a resposta vem, pronta: não mudes de conversa! Continua o solilóquio, o mesmo de há muitos anos, mistura as vivências imensas da cidade, as tertúlias, os amigos, a Arte que fizemos, boa arte, ainda mal sabíamos andar mas não desconhecíamos a boa arte. Agarra-se vorazmente à ideia do passado agora que o presente fede, uma amálgama da fracassos. O Zé é uma enciclopédia viva de uma certa boémia dos anos 80, gente com poucos trocos e muitos sonhos. Tem uma memória elefantina. Digo Zé, vamos beber um café, antes de entrar já ele me descreve a história do café, quando lá estivemos, o que pedimos, com quem estávamos, como se chama ou chamava o empregado. Olho para ele pasmada e na defensiva, não dou o braço a torcer percorro as ruelas da memória e sim, confirmo, mas confesso-te agora Zé, quando lá entrei não me lembrava de nada. É assim o Zé, merda, um grande actor! O actor que já não pode ser porque ninguém lhe dá emprego sem os dentes da frente. Agora não sei bem, como apertar o futuro, está o parafuso lasso, como te vais aguentar? se houvesse neste país quase sem margens um dentista pro buono, até os cigarros, o SG filtro são três euros. Não, pára aí! Vamos lá recomeçar, qual era a data da peça " O amante" do Pinter? Não, não fomos os primeiros a fazer Pinter, mas ninguém o fazia como nós não era? Diz-me, qual o valor da memória? Vá...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Apesar de não estarmos no deserto estamos a levar com uma tempestade de areia! Vai-nos inteirinha para os olhos! recolhamos o baldinho e a pá e observemos de longe. O Isaltino e a Fátima vão ser absolvidos dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, desvio do dinheiro da Câmara para benefícios pessoais etc. Dinheiro, mais dinheiro! É cómico observar toda esta tempestade da silly season, a poucos meses das autárquicas, a Fátima sobe ao céu e aposto que o Isaltino também vai subir, imaculado. O ministério público e a justiça nada podem contra o poder dos interesses, sobretudo quando eles movem poderosas influências políticas. O povo de Oeiras vai suspirar aliviado e fingir que acredita, serve para fortalecer a boa fé, um tanto abalada. O Isaltino até pode ter feito boa obra, embora o dinheiro gasto nos últimos meses para as "comemorações" dos 250 anos do Concelho (exposição -a mais cara realizada em Portugal - concertos e mais festas nos jardins) em período de crise e contenção, revele a face de um provinciano sem qualquer visão de cultura e de estrutura a longo prazo, mas agrada ao povo, todos agradam ao povo porque é muito fogo de artifício e pouca seriedade, mas se o tipo rouba, Meus Deus na minha terra é ladrão, vamos votar num ladrão? Todos roubam diz o povo, eheheh mais um menos um...os putos da Casa Pia que foram abusados há um ror de anos continuam a não ver nada e nós pagamos, pagamos para uma justiça que precisa urgentemente de uma outra que a fiscalize, este estado de direito cresce em fiscais enquanto continuarmos a eleger a maltosa dos partidos. Não há pachorra para isto porque parece que não tem fim e que não há volta a dar!

sábado, 1 de agosto de 2009

Por aqui chove e é boa a chuva depois do Sol, a chuva molhando ao de leve a terra meio ressequida das sardinheiras, a chuva pela calçada, lavando as ruas, dá uma sensação de aconchego, de proximidade às coisas. Nestas manhãs, dou por mim perdida em pensamentos, tranquila, em paz, gozo do tempo livre, aplico-o fazendo aquilo que gosto, ler, escrever, ver filmes. Gosto desta sensação da cidade semi-deserta, dos cinemas vazios, de prolongar os passos num certo silêncio, um silêncio deixado à solta pela debandada das famílias para perto do mar, a cidade sacode-se da poeira e do peso, liberta-se e disponibiliza-se para ser vista, tocada e acarinhada. A minha cidade, Lisboa e o mar, o sítio onde cresci, amadureci, ganhei asas. Não sei o que é viver longe destas coisas que amo, sei que muitos o fizeram por necessidade, porque este país lhes fugiu das mãos e lhes pareceu virar costas, sei que o fizeram com tristeza e depois voltaram, volta-se sempre ao local de infância, carregamo-lo para longe, mesmo sem querer e onde estivermos somos também e sobretudo esses locais, os sentimentos vividos não estão separados, não são apenas nossos, também estão nas ruas, esquinas, cafés, encontramo-los quando os julgávamos perdidos assim como eles nos encontram, reconhecemo-nos. Somos ambos, pessoas e cidades, feitos dessa matéria porosa e volitiva, passado e futuro.
imagem de: http://cachimbodemagritte.blogspot.com/