domingo, 16 de abril de 2017

Cinema: "Aquarius" e "O que está para vir"

Na vida das protagonistas destes filmes há um rio por onde a sua atenção vai, absorta, uma atenção amorosa que não desenboca necessariamente num outro, mas nos livros,  nas "artes" da Filosofia e da Música, (por mais controverso que
possa ser chamar de Arte à Filosofia).  Há nelas uma atemporalidade que se dilui sobre as crispações do tempo histórico, colorindo-o e, quiça de forma muito ténue, negando-o. Dois realizadores, Kleber Mendonça Filho e Mia Hansen-Levi à procura dessa linha ténue entre indivíduo e coletivo, ponto de con/di vergência, onde se delineia uma época. O alheamento da arte face aos gritos da era técnica, volátil, rápida mas incontornável . França, e Brasil, 2016,  duas actrizes muito diferentes, Isabelle Humpert e Sónia Braga dão expressão a uma resistência vã, face à irresistível mutabilidade de todas as coisas. Trata-se de resistência, não  de combate, mão no ar, "soutien" no fogareiro, mas outro tipo de resistência a um tempo usurpador e consumista, onde o que era revolucionário passou a ser tradicional. O tempo  presente não é necessariamente o "mau da fita", como era "o bom" nos anos 60. É esta visão destes dois tempos olhando-se nos olhos, passado e presente que torna estes dois filmes irmãos numa clara advertência à necessidade de um novo combate sem o qual nenhum dos direitos  individuais está garantido.