Neste verão, pensava, num escape da correcção dos testes, gostava de fazer uma grande viagem. Ir à Índia. gostava de ir à Índia. este desejo pareceu-me bem mas, ao mesmo tempo, qualquer coisa de mim o temia, temia ousar um gesto largo, agora que estamos tão apertados nesta cintura à beira mar, tão vigilantes e tristes de crise, de bancarrota, de fome anunciada e de pouco dinheiro!
A minha geração teve sorte, a história foi mãe. Quando arranjei este meu emprego de professora havia uma terra promissora, uma terra que entrava no ardor primaveril de Abril, com educação para todos, livrarias a abrir, novas editoras, novos bares e cafés. Mudávamos e, nessa mudança, não o sabíamos há trinta anos atrás, entrávamos na euforia do consumo liberal. À nossa frente abriam-se inúmeras possibilidades, era libertador, mas agora não é, é asfixiante. Pergunto-me porquê. O liberalismo entrou numa nova fase, numa fase em que demonstra a sua verdadeira face. Competitividade. Nós por aqui ainda não nos acostumámos e, falo por mim, não me soa, aliás, soa-me a insegurança e a fraude. A produção com vista ao lucro é, no entanto, a única solução para os hábitos que criámos e para a conjuntura pesada do Estado, no entanto, terá de haver um estado para proteger os mais desfavorecidos e promover a justiça social. Um Estado com gente sem emprego e pobre e que, mesmo assim, vende aos mais ricos o que tem, não é justo, penso eu...mas a viagem à índia...como? que tarefa tem a classe intelectual, da qual faço parte, sem qualquer pretensão, neste novo estado de coisas? Pensar. Pensar alternativas. Até que ponto o pensamento pode intervir e mudar a realidade? Encontro-me assim, peregrina nestas efabulações e não sei mesmo se irei fazer esta minha tão desejada viagem à Índia, ou senão a deverei procurar aqui mesmo, nesta cintura apertada.
Fotografia daqui
A minha geração teve sorte, a história foi mãe. Quando arranjei este meu emprego de professora havia uma terra promissora, uma terra que entrava no ardor primaveril de Abril, com educação para todos, livrarias a abrir, novas editoras, novos bares e cafés. Mudávamos e, nessa mudança, não o sabíamos há trinta anos atrás, entrávamos na euforia do consumo liberal. À nossa frente abriam-se inúmeras possibilidades, era libertador, mas agora não é, é asfixiante. Pergunto-me porquê. O liberalismo entrou numa nova fase, numa fase em que demonstra a sua verdadeira face. Competitividade. Nós por aqui ainda não nos acostumámos e, falo por mim, não me soa, aliás, soa-me a insegurança e a fraude. A produção com vista ao lucro é, no entanto, a única solução para os hábitos que criámos e para a conjuntura pesada do Estado, no entanto, terá de haver um estado para proteger os mais desfavorecidos e promover a justiça social. Um Estado com gente sem emprego e pobre e que, mesmo assim, vende aos mais ricos o que tem, não é justo, penso eu...mas a viagem à índia...como? que tarefa tem a classe intelectual, da qual faço parte, sem qualquer pretensão, neste novo estado de coisas? Pensar. Pensar alternativas. Até que ponto o pensamento pode intervir e mudar a realidade? Encontro-me assim, peregrina nestas efabulações e não sei mesmo se irei fazer esta minha tão desejada viagem à Índia, ou senão a deverei procurar aqui mesmo, nesta cintura apertada.
Fotografia daqui