terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

corrigindo a lente

Gruyaert, Rua de Londres

Falo-te no acervo por catalogar do meu pensamento

Ainda dormes embora não saibas, tens um fraco por mim

Na mesma idade, hoje e instante miliiiiiiiiiiii

Stancato, abriram-se as portas enquanto alguma coisa

Do domínio do solilóquio acontece

Aqui dá-me gozo abrir portas imaginárias onde ali

Exatamente na rua abaixo não consigo.

Falo-te devagar ainda soletro ouves

Submeto-me pois roga a praga do torcido rabo do demónio

Que ainda vou a tempo da genuflexão

Pois sou assim destapada a molhar o bico

Na tua imaginada cama onde nem sabes se dormes

E vai o mundo a girar e o que queremos ouvir mata o que

Se dá a ouvir e a ver quando

Aterramos num tempo sem hastes

moles  cus de alcatrão

sonhando esferas de algodão doce

para e como desperta a primavera


1890, Alemanha, Wedekind. O despertar da sexualidade, Teatro Praga, Lisboa 2017. Encenação do despertar da sexualidade, ou despertar da Primavera, em registo de farsa, mas distanciada, quase em estilo negligente. Raro assume contornos de coisa de gente infantil, com desejos infantis e formas de pensar infantis, se misturarmos com sexo, fica assim um balbuciar trágico onde estão lado a lado as fantasias de chucha e de morte.
Do que gostei...declaro a minha surpresa, não perante o texto, mas perante o modo como é lido o texto, pela companhia, um sonho enfrascado em cuspo, pode-se divagar com a sumptuosa atmosfera dos seus altos e baixos, linguagem difícil e cheia de formalismos que por ser árida, pede palavrões para desanuviar, bem entendido, trágico e cómico na era do telemóvel, será isto.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

LA LA LAND


Romântico até ao fim. Este é um filme que trata com delicadeza as nossas fantasias. Não nos deixa cair logo, prolonga aquela tristeza melancólica dos sonhos adiados e da realidade a impor-nos ou uma coisa ou outra. Mantém as nossas fantasias a pairar, abrindo sempre uma gavetinha de possível, sem nunca arriscar soluções mais duras ou radicais. Como se o sonho fosse coisa de classe média compatível com filhos rosados e maridos simpáticos. Mas não podemos exigir muito deste cinema que só quer mesmo alimentar sonhos. Mesmo quando descansamos os olhos na penumbra do corredor, depois de 90m de imagens a lutarem para tentar reconstruir a atmosfera um pouco naif dos filmes musicais, vimos a sorrir. Afinal é justo, não se pode ter tudo, alguma coisa tem que ficar para trás. (é comezinho mas apaziguador). Há duas cenas que deveriam ir para o lixo porque estão desajustadas mas a montagem é excelente, a passagem do onírico e fantasioso ao realista está muito bem feita. Há um corte abrupto mas também continuidade semântica, na medida certa  para nos provocar um sentimento nostálgico como Ha! Eu sabia que não duraria para sempre!!
Sou uma romântica que adora histórias de amor. Nas histórias de amor revela-se melhor a personalidade dos actores nas suas cambiantes expressivas, e eu adoro os actores, apesar do Grosling insistir um pouco no estilo blasé à Marlon Brando ( Nunca percebi o que os jovens actores viam no Marlon Brando...), enquanto ela está num registo muito mais histriónico. Por vezes parece um pouco aquele filme de banda desenhada com actores de carne e osso. Ela lembra um pouco a Debora Kerr, é muito expressiva (demais) e tem autenticidade, ele não é nada expressivo, está sempre tristonho, muito preocupado com o interior (o mesmo subtexto de representação que vimos em Marlon Brando e James Dean e que eu pessoalmente detesto - estilo: Estou-me nas tintas para vocês espectadores!!), mas também tem uma certa autenticidade, e assim se dá a sustentação realista - na autenticidade dos actores-. Gostei muito do filme, por causa destas pequenas fragilidades. É um filme tocante.