sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Até onde o restolho
a segurança de um prelúdio bem idolatrado
gordo, endomingado
Até onde pudesses pensar e continuar
remexendo na balaustrada as contas
linda chama
Por quem Leonor?
Pela ambrósia de um deus atónito ou ébrio
por uma rosa
por uma aurora
por segundos
Até onde a tricotar
a vassourar
a estender palavras massa
a guardar a tentação aversão
das curvas sonhadas do rosto
Até onde entre palavras?

por uma balada
uma onça de tabaco
um triciclo abandonado na rua

Por onde carregas o pote Leonor?

Até onde bastará o que basta
um ribombar súbito
um olhar que prolongue
o espasmo até à eterna combustão
do amor dor
Até onde
Até onde perguntas
Até onde
mergulhar
para longe onde a água se confunda
me confunda
Até onde
ruminar solilóquios
preguiçar preguiçar
até onde Leonor e porquê?

domingo, 6 de novembro de 2016

Café Society, o último Allen


Café Society é um filme a reviver intensamente, 80 anos depois, o glamour do cinema Americano dos anos 30. Não faltam as referências ao Wilder do "Crepúsculo dos Deuses" e a Barbara Stanwick. Um tributo de um cineasta que admira os antigos, que admira a escola e a tradição de Hollywood. Mise em scéne perfeita, fotografia luminosa, e uma vedeta com uma beleza oscilante entre a femme fatal e a inocência. Entre a displicência da Kim Novak e a beleza contemplativa da Eddy Lamarr. As referências sucedem-se naquele ritmo frenético que nada tem dos thirty's mas que é Allen ele mesmo,num discurso que quer apanhar em palavras o indecifrável das emoções. Nas tiradas irónicas do self made man encantado e pragmático a quem foge sempre qualquer coisa do essencial a que aspira e sempre pouco à vontade no meio da society de que faz parte, admirando distanciado a sofisticação das roupas e das poses com que o poder vai tecendo os seus simulacros, um jogo que o atrai mais do que algum dia poderia admitir.