Quando somos professores temos uma singela ideia: a de que o verdadeiro professor é um sábio, um mestre, alguém cujo carisma resulta de saber, da leitura e da vocação para ensinar. Agora, parece ser melhor ajustar esta ideia ao protótipo vigente. Ai, ai, os tempos mudam, na net tens tudo o que precisas, logo, esta tua ideia é estouvada, quimérica, sonho ou parvoíce. A verdade é que já não há tais pessoas, ou a existirem estão sem voz, num imaginário distante, quando o ensino era coisa de ensinar e aprender e não esta fábrica de massificação de produtos mal alinhavados, simplificados ao ponto em que o conhecimento se torna uma papa de consumo imediato para esquecer. Muito conhecimento é hoje sinal de pés chatos e artroses várias a maior das quais seria a artrose da incapacidade de ver a realidade.
Vem isto a propósito do vazio de dar aulas. Do vazio imenso de dar aulas, por não ter tempo, para investigar, reflectir e ler muito, ler. Também ensinar esse gosto. Ler um livro, por exemplo, vários livros, comparar, escolher, propor. O vazio é uma mistura de ninguém querer saber e da propaganda dos bons resultados. A primeira pode ser falsa mas choca de frente com a nadificação de prontuário de uma escola. Não é esse o motor. O motor é o sucesso, ora o sucesso e o saber não são compatíveis. Haveria que dizer isto a alguém.A escola não pode pagar saber, paga escolaridade, escolaridade é sucesso, mesmo sem saber. Como resolver este intricado amontoado de vaguezas? Uma coisa eu sei: há que colocar as pedras para o caminho se fazer. Um outro caminho. Aquilo a que chamamos realidade,o amontoado de ideias feitas para consumo imediato, não presta. Voltar ao lápis da censura, rasurar, reescrever, encetar o esboço do inconformismo.