Enquanto ia na estrada, fina película arrepiada que cobre a terra, circular, pensei que isto de ir para lá e para cá, dentro dos carros, numa terra quadrificada, tem o seu quê de foleiro (fujo ao absurdo como o diabo da cruz). Basicamente somos apanhados nas redes e dentro delas fingimos que somos qualquer coisa de importante e bom e assim estimulante mas não, nenhum peixe gosta de ser pescado, porque fica sem oxigénio e morre. Tout court. A morte é a morte, mais nada. Quantas horas passo aqui ao computador? Extasiada…irritada ou simplesmente nada, passa-se. Quantas? Falo, trabalho, compro, contacto, tudo sem levantar os olhos da caixa. Apanhada. na rede. De nariz afocinhado num sistema virtual complexo, completo, rentável, eficaz , sedutor. Mas um sistema e cada um de nós obrigado, submetido, de livre vontade, pensamos, idiotice, não há alternativa. Na aula cada aluno tem o seu portátil, cada sala o seu computador e ecrã de projecção ligado…
uma amiga apaixonou-se recentemente. Entusiasmada no primeiro mês, agora vê o seu apaixonado sentar-se ao computador até de madrugada. ela fica na sala a ver TV e depois vai para cama…sozinha. O que estou eu aqui a fazer…pergunta-se…simples retórica de põr a pergunta só para não dar de caras com a resposta...
Imagem: reprodução de um quadro de Yves Klein