neste tempo aqui, agora, há coisas a fazer, nada para dizer. disse tudo, disse demais, usei muitas palavras, não disse nada, consente-se em dizer, depois em não dizer, só puxam pelos colarinhos umas das outras, as palavras, então, basta, falar. pode-se rir, chorar. abraçar.correr. acercar-se do corpo, respiração dolorosa, envergonhada. é triste o corpo, quando o olhamos como estrangeiro, descurámo-lo e as vísceras revoltam-se, parece-me uma ideia com pernas para andar que as grandes revoluções, até as pequenas! se iniciem com violentas dores de barriga. não é digno, não senhora, mas a dignidade ou o esforço para a repôr vem depois e é a história inteira.
domingo, 25 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
Alexandre O'Neill
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
Alexandre O'Neill
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
on the beach
demoro muito tempo a não fazer nada por estes dias quentes de Setembro. demoro nas coisas porque as disponho de forma diferente para me certificar da surpresa de não as encontrar no sítio habitual. demoro-me também nas tarefas, reconduzo e recomeço, separo, reconstruo.adio. demoro-me muito nos sonhos e nas imagens do pensamento acordado ou no pensamento a dormir e demoro-me sobretudo nos sentimentos. olho-os. com vagar. deixo-os chegar mesmo à flor da língua mas não os seguro ao nome, prefiro que dancem sobre a tentação de os agarrar a um ou outro, meus serão mas não tenho a certeza.vêm e vão. aprendem e esquecem. e são novos, resplandecentes, guerreiros e escravos. neste dia quente de setembro, na praia, com a Escola longe, uma onda veio rebentar nas nossas pernas de banhistas tardios, sequiosos de fresco, não resistindo ao impacto caímos como um castelo de cartas. de gatas no meio da espuma olhámos uns para os outros e desatámos a rir. comungar um sentimento é uma alegria. (sobretudo com as calças na mão) seria até desejável reconhecermos que andamos todos de calças na mão, ou seja, de gatas na espuma.
domingo, 11 de setembro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
coisas esquisitas
Acho que Pessoa tinha razão, pode-se perfeitamente viajar sem sair do mesmo sítio, entrar em lupanares ou escorregar em areia fina, subir aos Alpes ou atirar pedras no deserto do México, até , pasme-se!, acelerar a velocidade supersónica dentro de ondas tubos ou conversar com peixes alaranjados, isto sem precisar de garrafas de oxigénio, apenas com o simples movimento pulmonar, pode-se encontrar nas calçadas da noite reflexos de outras calçadas, inúmeras ruas e seus cruzamentos, seus espelhos de poças amachucadas onde a lua foge de estática a socorrer-se de lianas para baloiçar nos ramos de sequóias gigantes, pode-se seguir sombras de crimes e desembocar em alamedas, juro que sim. e sei que sim, porque desconheço o perímetro da terra mas já o desenhei num instante, a giz, sobre os teus ombros.
sábado, 3 de setembro de 2011
deleuze
ando a tentar perceber Deleuze e o sentido do conceito "máquina desejante" e da frase: "todo o desejo é esquizóide". Qualquer frase, até a que incorre em contradição, como "o desejo não é o desejo" tem a sua justificação ideológica à luz desta alucinação pensante, chamada pensar "de fora", pensar exterior aos mecanismos de poder (a lógica deve ser um deles) presentes no discurso. Boas intenções. Em todos nós (falo da minha geração mas não só) há um rapazola de cocktail molotov contra o poder, coraçãozinho no Maio de 68 prestes a sair à rua (entre as três e as sete da tarde, se a coisa não tiver grandes consequências, e se puder tomar café). Se o pudermos fazer no discurso, melhor, mais confortável, não precisamos de apanhar chuva, por exemplo. Então a questão é apagar o sujeito e substituí-lo por um colectivo, daí a máquina. A deseja B, lógica burguesa e rançosa, antes: Deseja-se, muito, a toda a hora numa produção constante a partir de delírios colectivos. O vestido, a festa, a rapariga, a promoção, o cantor. Esquizóide sem dúvida, mas libertador. Fabriquemos sem punição os nossos objectos desejantes, essa será a única reacção genuína contra o poder da neurose burguesa e autoritária (acasalamento, família, pátria etc). Oh yes! Tentador e refrescante!
veja-se o "Pierrot le Fou" do Godard (imagem)
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Londres 2
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