sábado, 3 de setembro de 2011

deleuze




ando a tentar perceber Deleuze e o sentido do conceito "máquina desejante" e da frase: "todo o desejo é esquizóide". Qualquer frase, até a que incorre em contradição, como "o desejo não é o desejo" tem a sua justificação ideológica à luz desta alucinação pensante, chamada pensar "de fora", pensar exterior aos mecanismos de poder (a lógica deve ser um deles) presentes no discurso. Boas intenções. Em todos nós (falo da minha geração mas não só) há um rapazola de cocktail molotov contra o poder, coraçãozinho no Maio de 68 prestes a sair à rua (entre as três e as sete da tarde, se a coisa não tiver grandes consequências, e se puder tomar café). Se o pudermos fazer no discurso, melhor, mais confortável, não precisamos de apanhar chuva, por exemplo. Então a questão é apagar o sujeito e substituí-lo por um colectivo, daí a máquina. A deseja B, lógica burguesa e rançosa, antes: Deseja-se, muito, a toda a hora numa produção constante a partir de delírios colectivos. O vestido, a festa, a rapariga, a promoção, o cantor. Esquizóide sem dúvida, mas libertador. Fabriquemos sem punição os nossos objectos desejantes, essa será a única reacção genuína contra o poder da neurose burguesa e autoritária (acasalamento, família, pátria etc). Oh yes! Tentador e refrescante!




veja-se o "Pierrot le Fou" do Godard (imagem)

4 comentários:

g disse...

Regresso em grande dissertação filosófica!

Em que ficamos, é desejo ou não é desejo, é individual ou é colectivo,serão esses apetites desejos ?

bj

cs disse...

ai já está o tal conceito de rizoma né? Ele depois juntou-se ao Guttari e pronto, a confusão instalou-se. Se a memória não me falha :))

via disse...

g: não ficamos definitivamente em lado algum, fala-se ou deseja-se, em conjunto, nada de individualismos!

cs:sim, o conceito reenvia para inúmeras relações todas circunstanciais e locais, como forma de reacção à psicanálise e à filosofia tradicional de considerar o conceito como entidade abstracta.

R. disse...

Absolutamente! E como pode a reflexão sobre 'o desejo esquizóide' ser tão lúcida!